Correio Braziliense
postado em 09/02/2020 04:06
Melhor sexto homem e campeão da NBA, Leandrinho “The Blur” Barbosa é um dos maiores nomes da história do basquete brasileiro. Com passagem pela Seleção e currículo memorável, o jogador de 37 anos ainda tem lenha para queimar. Nesta temporada do NBB, lidera em pontos, com 20,38 por partida, e ajuda o Minas a sonhar com o título nacional. Em entrevista exclusiva ao Correio, ele fala sobre a carreira, da perda da mãe, das expectativas para o restante do NBB e da vontade de disputar os Jogos de Tóquio. Em respeito à memória do amigo, ele só evitou falar sobre a trágica morte de Kobe Bryant.
Quem te apresentou o basquete e como foi sua caminhada até a prática do esporte?
Foi meu irmão. Eu jogava futebol quando eu era pequenininho, mas meu irmão gostava e jogava basquete. Eu estava sempre com ele e acabou me apresentando a bola de basquete. Não era o esporte que eu queria praticar, mas ele insistiu. E chegou o dia em que eu comecei a gostar, praticar mais e vesti uma camisa. Passei por várias categorias de base, fui para o Palmeiras, depois para o Bauru e, em seguida, para os Estados Unidos.
Sempre sonhou em chegar à NBA?
Eu tinha um sonho e fiz uma promessa. Na verdade, a promessa era antes do sonho. Que era chegar na NBA e fazer com que a vida da minha família melhorasse. Essa foi a promessa que eu fiz para a minha mãe quando eu tinha oito anos. Nem sabia o que eu estava falando, mas prometi.
Você foi draftado no mesmo ano que LeBron James, Carmelo Anthony, Dwyane Wade. Qual é a sensação de ser chamado para a principal liga de basquete do mundo?
É uma sensação maravilhosa. Não sabia a colocação que eu seria escolhido, nem se eu seria escolhido. Ainda mais porque esse foi um dos drafts, que todo mundo fala, mais fortes que houve na história da NBA. Fico feliz de poder estar nesse grupo e ter ficado lá (na NBA) durante 15 anos. O sentimento, o feeling é maravilhoso.
Quando o Steve Nash chegou ao Phoenix Suns, o time mudou de patamar. Alcançou finais de conferência, foi MVP duas vezes, liderou o time ao topo na temporada
regular. Até que ponto o Steve Nash o
ajudou a evoluir como jogador?
Mudou muito a dinâmica de jogo. Eu era um jogador que, no Brasil, jogava muito na velocidade, no contra-ataque. E o Steve mudou o jeito de jogar na liga. A dinâmica do jogo era mais correria, mudou muito. Para mim, foi muito bom. Eu era reserva dele e eu só me divertia. Só somou no meu jogo.
E como foi ser premiado como o melhor sexto homem da NBA em 2007?
É um prêmio maravilhoso. É uma coisa que eu não esperava. Claro que não foi sozinho. Eu tive muita ajuda de todos os meus companheiros, principalmente do Steve Nash. É um prêmio particular que eu sempre ofereço aos meus companheiros que estavam comigo dentro de quadra. É um sonho se tornando realidade.
Foi a melhor temporada da sua carreira?
Acho que toda temporada foi diferente. Em termos de pontuação, foi a minha melhor. No ano seguinte também fui bem. Perdi por três votos para o Manu Ginobili para ser melhor sexto homem, que seria a segunda consecutiva. Acho que minha característica como jogador foi mudando, então, meu objetivo no time, também. Tive um propósito em cada temporada, seja pontuando ou dando experiência para os mais novos.
O que faltou para aquele Suns
chegar ao título?
Acho que o Phoenix era um time que só jogava no ataque. A gente atuava muito bem até chegar na final da conferência, que era quando precisava de algo a mais. E esse algo a mais era a defesa. A defesa deixava a desejar e Spurs, Lakers e Mavericks eram times que faziam boas defesas e foram melhores nos momentos finais.
Depois desse período de sucesso no Suns, você passou por uma perda
pessoal e uma série de lesões. Chegou até a voltar ao Brasil. Como foi esse
momento psicologicamente?
A perda da minha mãe foi um dos sentimentos mais fortes que eu tive na minha vida. Um período de decaída. E, quando eu vim ao Brasil para o enterro, fiquei um pouco perdido. Sem direção. Minha família estava sempre atrás me dando energia positiva, mas demorou um pouco para eu me encontrar.
Achou que não voltaria à NBA?
Aconteceu, sim, de eu pensar que não conseguiria voltar para a NBA porque minha mãe era meu braço direito. Antes dos jogos eu tinha que falar com ela, ouvir a voz dela, e eu sabia que isso não iria mais acontecer. E com a lesão, mais grave, não sabia se eu conseguiria voltar para a NBA. Mas montei uma equipe muito boa, fiz tratamento em três períodos por dia e voltei.
E nessa volta você ganhou o anel de
campeão pelo Golden State Warriors. Você saiu do interior de São Paulo, nem queria jogar basquete e acabou sendo campeão da maior liga do mundo. Como é isso?
Era um sonho que eu tinha, de ser campeão da NBA. Nunca imaginei que fosse acontecer. Apesar de ter chegado perto várias vezes, nunca imaginei que viraria realidade. Mas só sabe, só entende e tem o feeling quem está lá. É inexplicável. Pegar aquele troféu, levantar, tirar foto. E depois da taça, o anel. Depois de todo o trabalho feito durante a temporada, 82 jogos e os playoffs. Roda a fita ao contrário para visualizar tudo o que você passou, o que fez com o time. Passa as dificuldades, as pessoas que não acreditavam que você chegaria. E aí você recebe um anel da NBA com o seu nome, seu número para recompensar. Está guardado.
Desde a temporada passada você
defende o Minas. O que te fez retornar
ao basquete brasileiro?
O grande motivo foi família. Minhas filhas. Eu fiquei 15 anos nos Estados Unidos e tive uma ou duas vezes a possibilidade de tê-las comigo lá. Então, eu sentia muita falta delas, não tinha convivência. Eu era ausente. E eu via que estava chegando a hora de voltar e buscar esse contato com as crianças. Foi quando tomei a decisão de voltar. Rescindi o contrato com o Phoenix para vir ao Brasil, demorei a achar uma equipe, mas devagarzinho, fui encaixando e agora estou aqui.
Pelo elenco que tem, o objetivo do
Minas é o título. Você lidera o NBB
em pontos nesta temporada.
Individualmente falando, o MVP é
uma conquista que você almeja?
Não. Eu não ligo nem para pontos nem para MVP. Acho que fiz muita coisa na minha carreira de basquete. Eu estou muito feliz. O que eu queria, tenho, que é ser campeão da NBA. O que eu quero hoje é ser campeão. Se sou cestinha, se sou MVP, é consequência do trabalho. Mas não procuro isso. Tento fazer o meu melhor em todas as partidas.
E Seleção Brasileira, Leandrinho? Ainda sonha em jogar as Olimpíadas neste ano?
Não sei quais são os planos do (Aleksandar) Petrovic. Lógico que estamos sempre ali, dispostos. Mas temos que ver que está sendo feita uma renovação, que tem que ser feita mesmo. Já estamos bem mais velhos, então acaba que precisa ter essa renovação. A gente espera para ver o que vai acontecer.
* Estagiário sob a supervisão
de Marcos Paulo Lima
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