Superesportes

Campeão à la Cruyff

Inspirado no gênio holandês, técnico Jorge Jesus leva o Flamengo ao terceiro título sob sua batuta, com pitadas de futebol total. Dois dos três gols tiveram participação de falsos camisas 9 no Mané Garrincha

Correio Braziliense
postado em 17/02/2020 04:34
Flamengo campeão da Supercopa do BrasilQuando descobriu o Brasil, Jorge Jesus desembarcou no Rio de Janeiro falando em construir a hegemonia do Flamengo. Dos três títulos nacionais em disputa autenticados pela CBF, o rubro-negro conquistou dois sob a batuta do lusitano: o Brasileirão 2019 e a Supercopa 2020, ontem, ao vencer o Athletico-PR por 3 x 0, no Mané Garrincha, diante de quase 50 mil pagantes e renda de mais de R$ 7 milhões. Falta a Copa do Brasil no currículo do ousado senhor de 65 anos — o mais celebrado pela “nação” ao som de “Mister”. Como a final do segundo torneio mais importante do país é em 16 de setembro, o patrício precisa primeiro renovar o contrato para consumar o plano de retornar à terra de Camões campeão de tudo neste solo tupiniquim.

Na edição de ontem do Correio, indicamos que a final teria pitadas de cruyfismo no Flamengo, e de guardiolismo no Athletico-PR. Jorge Jesus bebeu da fonte de Johan Cruyff no início da carreira. Dorival Júnior fez estágio com Pep Guardiola no Bayern Munique em 2015. De Thiago Maia, hoje volante reserva de Jesus no time carioca, ganhou o apelido de “Guardiola do Brasil”. O primeiro gol do terceiro título da era Jesus foi um tributo ao ídolo do Mister.

Começou lá atrás. Gerson desarmou Rony e a bola sobrou para o goleiro Diego Alves. Ele saiu jogando rapidamente, como se fosse líbero, acionando Rafinha. O lateral-direito fez o link com Éverton Ribeiro, e o meia acionou Gabriel Barbosa aberto pela direita. No futebol total de Jesus, é proibido guardar posição. Como se fosse ponta, o camisa 9 cruzou para a área e Bruno Henrique surgiu por trás da defesa do Ahletico-PR para cabecear e abrir o placar. O Flamengo entrou em campo com a tradicional rotação de sufocar, minar o adversário desde o início.

Ousado, o Flamengo lembra, em alguns momentos, aqueles times que vovôs e vovós do século passado adoravam citar para os netinhos — configurados no sistema tático retrô 2-3-5. Em vez de saber sofrer, termo da moda para quem joga na base do contra-ataque, faz o adversário sofrer. E como! Márcio Azevedo sentiu a pressão no lance do segundo gol.

O lateral colocou Santos numa fria em um recuo de peito mal calculado. O goleiro dormiu no ponto e Gabriel Barbosa acionou o modo Gabigol. Aproveitou a lambança e “só não entrou com bola e tudo porque teve humildade”, diria aquele trecho da música Fio Maravilha, de Jorge Ben Jor. Comprado pelo Flamengo por R$ 81 milhões de euros, Gabriel tem quatro gols em quatro jogos e duas assistências desde que trocou em definitivo a Internazionale pelo Flamengo. Está a três bolas na rede de atingir a marca de 50 com a camisa rubro-negra em pouco mais de um ano.

No estádio batizado de Mané Garrincha, Gabriel Barbosa até tentou incorporar o Mané antes do fim da etapa inicial. Parou na frente do marcador, gingou, passou o pé por cima da bola, deixou a plateia em silêncio, à espera do drible, mas faltaram pernas (tortas). Ficou somente nisso. Mesmo assim, os torcedores mais exigentes, que pagaram caro pela entrada, adoraram.

Gato e sapato do Furacão

Na volta para o segundo tempo, Dorival Júnior puniu os laterais. Trocou Khellven por Fernando Canesini; e Márcio Azevedo por Abner Vinicius. A diferença não estava nas alas, mas no abismo técnico entre os dois times — um que perdeu cinco titulares depois das glórias na Sul-Americana e na Copa do Brasil contra outro que só negociou Pablo Marí.

Estava fácil. Bruno Henrique fez gato e sapato do lado esquerdo da defesa do Furacão na tentativa de servir Gabigol. Santos interceptou, mas a bola sobrou para Arrascaeta marcar o terceiro. O meia uruguaio usa o número 14. Catorze, eternizada por Johan Cruyff — ídolo do técnico Jorge Jesus. Portanto, nada melhor do que encerrar o tributo ao gênio holandês com outro gol de um “falso 9”.  Bissoli ainda acertou o travessão de Diego Alves, mas era hora de tocar o hino do Flamengo no Mané Garrincha e receber a taça com um grito errado.

Os rubro-negros bradaram: “É campeão”, em vez de “É supercampeão” a partir dos 24 minutos do segundo tempo. Ok. O torneio ressuscitado ontem cheio pompa pela CBF, com misturas de padrões Fifa e Uefa nos protocolos, não era disputado desde 1991. Voltou para ficar. A produção (em campo) do evento está de parabéns. Não se assuste se a decisão da Copa do Brasil também for assim muito em breve. Só é inadmissível cobrar preços tão caros pelo ingresso — quem ficou em casa vendo pela tevê tem razão.

Dorival se rende: "Melhor do Brasil"

Quando deixou o Flamengo no fim de 2018 após o vice-campeonato brasileiro, o técnico Dorival Júnior previu anos de grandes conquistas para o clube carioca. De lá para cá, o clube ganhou o Carioca, o Brasileirão e a Libertadores em 2019. Neste ano, inicia a temporada com a conquista da Supercopa do Brasil ao vencer o Athletico-PR por 3 x 0, ontem, no Mané Garrincha, em Brasília.

Dorival Júnior só não esperava que uma das conquistas seria em cima de um time dele. Em processo de reconstrução após perder cinco titulares depois das conquistas das copas Sul-Americana e do Brasil, o Athletico-PR não suportou a qualidade técnica do adversário e o treinador reconheceu a superioridade.

“O Flamengo é um time formado por grandes jogadores do mesmo nível, que conhecem a maneira de trabalho do Mister, o que ajuda muito”, analisou durante a entrevista coletiva após a partida. “É um caminho sem volta quando você estrutura uma equipe e passa a pinçar elementos que se destaquem. Este é o caminho que equipes europeias acabam trilhando. Vemos no Real, no Barcelona, no Bayern. O Flamengo trabalhou muito para que isso fosse uma realidade”, exaltou.

Sobre a derrota avassaladora no primeiro tempo, Dorival Júnior resumiu assim: “Pagamos um preço muito alto. Os 30 primeiros minutos comprometeram nosso jogo. O Flamengo realmente é o melhor time do futebol brasileiro”, elogiou.

Dorival Júnior sabe que Rony virou alvo de leilão no futebol brasileiro, mas espera tê-lo no restante da temporada. “A gente conta com o Rony e não estamos procurando outro jogador no mercado. Não tem atleta do nível dele. Estamos vendo o que vamos fazer com o elenco. Devemos fazer mais uma partida pelo Campeonato Paranaense antes de estrear na Libertadores contra um adversário difícil”, disse, referindo-se ao Peñarol, do Uruguai

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