Correio Braziliense
postado em 07/03/2020 04:15
A “novata veterana” da delegação paralímpica de natação do Brasil fala com tamanha empolgação do último ano que é impossível não se contagiar. Portadora de uma anomalia congênita no nervo óptico chamada Morning Glory, Maria Carolina Santiago debutou em competições paralímpicas internacionais apenas aos 33 anos, em abril de 2019, na classe S12 (atletas de baixa visão acentuada) do Open Internacional. Em menos de uma temporada completa, tornou-se campeã mundial e esperança de ouro nos Jogos de Tóquio-2020.
O sotaque ao falar não nega a origem. Nascida em Caruaru, interior pernambucano, e criada no Recife, Maria Carolina descobriu tarde que podia se enquadrar no esporte paralímpico. Mas a natação é uma antiga conhecida. Além de ter um irmão que foi nadador, ela não podia praticar esporte de impacto. Por causa da grande sensibilidade que tem na retina, qualquer pancada na cabeça pode acarretar na perda da pouca visão que a pernambucana tem.
“Sempre nadei para manter o meu físico, e era uma forma de me colocar à prova. Para mim, a natação sempre foi uma forma de superar o meu medo”, conta. Aventurou-se inclusive em travessias em águas abertas com grupo de amigos da natação. Certa vez, desvencilhou-se sem querer da pessoa que a acompanhava e ficou perdida no meio do mar, sem saber para qual lado nadar. A angústia durou até aparecer uma voz conhecida, que terminou o trajeto com ela.
Também participou do Troféu Brasil Maria Lenk, uma das principais competições da natação convencional. Apesar de ser íntima das águas, não conhecia o esporte paralímpico. “Achava que era uma categoria só, e eu não tinha interesse.” Foi quando os colegas do clube Grêmio Náutico União, do Rio Grande do Sul, lhe sugeriram fazer os exames para saber se era apta para competir na categoria adaptada.
Por isso, ela se identificou tanto com o apelido. “Sou realmente uma novata em um grupo que estava treinando a todo vapor desde 2019. Mas, ao mesmo tempo, sou veterana, porque cheguei nadando”, pontua. Maria Carolina enxerga apenas vultos com o olho esquerdo e não tem visão periférica no olho direito, apenas focal.
“Escutei que eu estava muito velha e pensava que meus tempos não seriam melhores do que os de quando eu era nova”, lembra. Os técnicos da Seleção Brasileira paralímpica discordaram. Desde quando Carol chegou no Centro de Treinamento Paralímpico de São Paulo, em 2018, ela foi preparada vislumbrando Jogos Parapan-Americanos, Mundial e possivelmente as Paralimpíadas de Tóquio. “Hoje eu nado muito abaixo dos tempos que eu fazia quando mais nova”, comemora.
No primeiro campeonato internacional que disputou, quebrou dois recordes mundiais e saiu como um dos principais nomes do Open Loterias Caixa de Natação, em abril de 2019, em São Paulo. Em agosto, conquistou quatro ouros nos Jogos Parapan-Americanos de Lima-2019 e, em setembro, dois ouros e uma prata no Mundial de Natação Paralímpica de Londres-2019.
Na adolescência, Maria Carol passou por um período difícil. Ela teve água na retina e ficou completamente sem enxergar. “Eu não conseguia nadar, porque não confiava que não bateria em alguma coisa. Foi uma época muito ruim da minha vida, que eu nem gosto de comentar”, lamenta. Após 10 anos longe da piscina, resolveu voltar a nadar aos 27 anos no clube Grêmio Náutico União, do Rio Grande do Sul, onde foi apresentada ao esporte paralímpico e que defende até hoje.
Quem é ela
Nome: Maria Carolina Santiago
Modalidade: natação - classe S12 (baixa visão acentuada)
Idade: 34 anos
Naturalidade: Caruaru (PE)
Principais títulos: ouro nos 50m e 100m livre e prata nos 100m costas no Mundial Paralímpico de Londres-2019; ouro nos 50m e 100m livre, nos 100m costas e nos 400m livre nos Jogos Parapan-Americanos de Lima-2019
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