Correio Braziliense
postado em 20/03/2020 04:06
Em pouco mais de um mês na Espanha, deu tempo de Reinier Jesus Carvalho chorar ao vestir oficialmente a camisa do clube mais badalado do mundo, disputar três jogos, fazer dois gols e dar assistência de calcanhar nos 224 minutos em campo pelo Real Madrid B (Castilla) sob o comando do ídolo e técnico merengue Raúl González. Depois disso, toque de recolher. O craque brasiliense de 18 anos fechou a porta de casa e começou a cumprir, ao lado da família, o confinamento imposto pelo país ibérico na batalha contra um adversário invisível: a pandemia do novo coronavírus.
A Espanha é o quarto país mais atingido pela Covid-19. Até o fechamento desta edição, eram 13.716 casos confirmados, atrás apenas de Irã (17.361), Itália (35.713) e China (81.174). No Real Madrid, o pivô de basquete Trey Thompkins testou positivo e o Centro de Treinamento de Valdebebas foi esvaziado desde o último dia 12.
Daquele dia em diante, a rotina de Reinier mudou radicalmente. “Estamos bem e seguindo as recomendações das autoridades”, disse ao Correio seu Mauro Brasília, pai do jogador. “As atividades estão suspensas e a recomendação é ficar em casa, só sair para necessidades essenciais: supermercado ou farmácia”. Exatamente como passou a ser desde ontem no Distrito Federal, após o decreto do governador Ibaneis Rocha.
Antes da paralisação do futebol espanhol, Reinier tinha um carro e motorista particular à disposição para levá-lo aos treinos do Real Madrid e cumprir outras agendas profissionais. A programação mudou desde a última segunda-feira. O meia-atacante aderiu à necessidade do home office e começou a trabalhar em casa sob orientação de um personal trainer para não ficar parado por muito tempo.
O confinamento de Reinier inclui aulas de espanhol. Antes de embarcar rumo a Madri, o jogador tinha aulas online. Falou o idioma na apresentação, mas não ficou satisfeito com o desempenho. Em busca de fluência, procurava um professor particular, aulas presenciais. Com a pandemia, aproveita o tempo para aprender ainda mais a distância e colocar em prática quando é possível pôr os pés fora de casa. “Apesar do nervosismo, ele falou bem na apresentação. Está estudando aos poucos. Isso é mole para essa molecada”, ri o pai.
Além de monitorar Reinier, seu Mauro precisa ficar atendo às desorientações da esposa. A adaptação a Madri inclui alguns resgates familiares. “Minha mulher saiu esses dias sozinha e me ligou dizendo que estava perdida. Eu desci para procurá-la e ela estava praticamente na porta do prédio me ligando e não reconhecia o lugar. Ela riu muito dela mesma”, conta.
Questionado se Reinier já pediu resgate, seu Mauro brincou: “Tem um motorista por enquanto. Esse não passa aperto. Tem tudo na mão. Folgado demais”, diverte-se. Enquanto Reinier tem vida de príncipe em Madri, Julia, uma das irmãs do craque, estuda numa escola internacional e está adiantada no aprendizado do idioma.
A Espanha é um país especial pra seu Mauro Brasília. Em 27 de outubro de 1985, ele marcou o terceiro gol da vitória do Brasil sobre a Espanha na final da Copa do Mundo de Futsal. A Seleção venceu por 3 x 1 no Palácio dos Esportes, em Madri. O fixo do time liderado pelo técnico Júlio César Vieira Lima vestia a camisa 4. Trinta e cinco anos depois, ele conta os dias para ver o filho debutar no time galático do Real Madrid quando a pandemia passar. “Agora, é torcer e esperar que essa situação se reverta o mais rápido possível”.
“Estamos bem e seguindo as recomendações das autoridades. As atividades estão suspensas e a recomendação é ficar em casa, só sair para necessidades essenciais: supermercado ou farmácia”
“Reinier tem um motorista. Esse não passa aperto. Tem tudo na mão. Folgado demais”
Mauro Brasília, pai do jogador do Real Madrid
224 minutos
Tempo que Reinier jogou pelo Real Castilla: dois gols, uma assistência de calcanhar e cartão amarelo
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