Enviada Especial
postado em 08/07/2009 10:24
Rio de Janeiro - A contagem regressiva já começou e faz tempo. O prazo é até 2010 para que o país todo consiga cumprir a meta de ter cada aluno com um laptop nas escolas públicas. Mas cumprir a meta não é nada fácil. Tanto o Ministério da Educação (MEC) quanto o Governo do Distrito Federal ainda juntam recursos e tentam vencer a burocracia das licitações para adquirir os computadores. Enquanto o notebook não vira realidade, os laboratórios de informática são o único recurso de modernização das aulas nas escolas. "Com os laptops para alunos, o projeto de informatização escolar muda de figura. Hoje, a prioridade é levar o computador para dentro da sala de aula", diz o secretário de Educação, José Valente, otimista de que até o fim do governo todos os 50 mil alunos do ensino fundamental do DF tenham em mãos o seu laptop. Para cumprir a meta, serão necessários R$ 30 milhões, recursos que nem ele mesmo sabe de onde virão. Até agora, somente uma cidade conseguiu viabilizar o projeto Um Computador por Aluno (UCA), sonhado pelo presidente Lula para todo o país. Piraí, uma cidade de 25 mil habitantes a 90km da capital do Rio de Janeiro, virou vitrine para o Brasil e o mundo. A partir de agosto, todos os 6,2 mil alunos das 21 escolas públicas poderão usar em sala de aula e em casa um laptop. Como todo o município é coberto por rede de internet, a conexão por banda larga não será problema.
"Somos uma cidade de 25 mil habitantes e 25 mil e-mails", brinca, todo satisfeito Franklin Dias Coelho, coordenador do Projeto Piraí Digital. O pioneirismo na cidade ganhou até mesmo o entusiasmo de Gilberto Gil, que virou garoto-propaganda do projeto, o iNova Educação. O seu último CD leva o nome da música que ressalta Piraí e a conectividade. O fato é que o governo do estado e a prefeitura precisaram eleger a educação como prioridade política para mudar a realidade da cidade. No total, foram comprados 5.500 classmates da Intel. Cada um custou R$ 700.
Piraí saiu na frente inclusive de Portugal. O país europeu tem como meta ter todos os alunos com laptop até o fim deste ano. São 400 mil alunos no total. Lá o computador é financiado pelo governo. E dependendo da renda da família, o aluno paga 25 ou 50 euros - ou simplesmente nada.
Em Piraí, o Ciep Professora Rosa da Conceição Guedes serviu de piloto para o projeto. O resultado aparece nas estatísticas do MEC. Em 2007, a escola estava entre as seis piores no Índice de Desenvolvimento de Educação Básica (Ideb) com 2.2 pontos. Na última avalição do Ideb/MEC, o índice passou para 4.8. A pontuação máxima é 10. "Com o laptop, os alunos passaram a ter mais concentração para realizar as atividades", Jocemar Rodrigues de Moraes, um dos diretores do Ciep.
Moradora da Fazenda Arrozal, a duas horas de Piraí, Marcella Ramos, 10 anos, já começa a se acostumar com o laptop. Se no início era difícil, hoje ela já utiliza o classmate para os trabalhos da escola. "Ajuda a gente até a escrever melhor", diz a menina do 4; ano. "Esse projeto torna viável a participação do aluno como coautor, que faz a educação olhar para a frente. A criança não pode encontrar na sala de aula um mundo como há 100 anos", diz a Maria Helena Cautiero Jardim, professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro e coordenadora educacional do Piraí Digital. "Estamos na era da educação com pedagogia de projetos, com o professor no papel de orientador de um aluno não passivo", ressalta a educadora.
Para a compra dos laptops, o governo do Rio de Janeiro repassou uma verba de R$ 4 milhões. Todo o município, com área de 520km;, é coberta por banda larga. "Esse é um grande exemplo que vai ser multiplicador. Quer revolução maior do que o aluno tirar férias e querer ir para a escola?", diz o vice-governador do estado do Rio, Luiz Fernando de Souza Pezão. É o que ocorre na escola de Piraí que já recebeu os laptops.
A próxima meta do governador é universalizar toda a rede pública do estado. "Queremos levar o projeto para 1,5 milhão de crianças", diz Pezão. Segundo ele, o governo Lula deveria abrir uma linha de crédito no BNDES para financiar a compra de computador. "Isso deve ser uma prioridade para o país", afirma. Mesmo sem subsídios, o Brasil é o quarto mercado de computadores no mundo. "Atrás dos Estados Unidos, Japão e Brasil", enumera Oscar Clarke, presidente da Intel no Brasil. Somente no ano passado, foram vendidos 12 milhões de micros.
No DF, o Centro de Ensino Fundamental 1 da Vila Planalto foi uma das cinco escolas do Brasil escolhida para o projeto-piloto do UCA. Mas não obteve sucesso como Piraí. "A empresa fabricante do notebook forneceu apenas 40 unidades e não houve continuidade no projeto. Sem manutenção, eles estão hoje sem condição de uso", explica Gilsa Santana, coordenadora de Informática na Educação no DF.