postado em 25/09/2009 12:12
Neste campeonato, o que menos importa é o gingado do atleta. No lugar do molejo malemolente que envolve o adversário, os competidores são durões, muitas vezes lentos e até desengonçados.
Dentro da arena montada para receber as estrelas do torneio, o que vale mesmo é cumprir as tarefas que lhes são determinadas, agradar aos juizes e correr para os braços da torcida.
Isso porque todos os holofotes estão apontados para uma série de robôs que disputam, numa espécie de OlimpÃadas do futuro, quais são as melhores máquinas criadas por estudantes de colégios e instituições de ensino superior de todo o paÃs.
Durante quatro dias, 80 equipes de 20 estados e do Distrito Federal se reuniram na Universidade de BrasÃlia para disputar dois torneios simultâneos: a 3ª edição da OlimpÃada Brasileira de Robótica e a Competição Brasileira de Robótica 2009.
Cheios de criatividade e força de vontade, centenas de alunos (separados em provas que diferenciavam estudantes do ensino médio e do superior) colocaram à prova os conhecimentos adquiridos com as leis da fÃsica e as teorias da matemática. Criaram projetos, desenvolveram robôs e partiram para a disputa em diferentes categorias.
Uma das estrelas do evento foi a F180, modalidade que colocou os robôs para disputar duelos de futebol dentro de uma pequena arena de 17,5m². O objetivo, é claro, é fazer uma pequena bolinha de golfe agitar as redes do adversário.
Cada time era composto por cinco robôs construÃdos a partir de um cilindro cúbico de 15cm de altura e alimentados com um pequeno motor de geração contÃnua de energia, que se movimentam sobre três pequenas rodas. Eles também levam um sistema holonômico, que permite que o %u201Cjogador%u201D se movimente em todas as direções sem ter que se virar para onde está a bola.
No entanto, na competição, o controle dos jogadores não foi feito remotamente pelos estudantes. Todos os comandos foram realizados utilizando as maravilhas da inteligência artificial.
A partir de imagens geradas por quatro câmeras instaladas em cima do campo, os computadores de cada time %u2014 que rodavam softwares especÃficos durante as partidas %u2014 processavam os movimentos das maquininhas e ordenavam o que cada robô deveria fazer, levando em consideração as diferentes situações que eles podem enfrentar.
%u201CToda a comunicação é feita via rádio (utilizando as frequências de 915MHz ou 433MHz). Depois que o árbitro dá o apito inicial, ninguém pode mais tocar neles. Todo o segredo está no software, que deve ser programado visando entender a posição de cada máquina e acionar as melhores jogadas para serem executadas%u201D, explica Guilherme Pinto, estudante da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), que integra a equipe Furgbol. Com outros três alunos, eles conquistaram pela sexta vez o tÃtulo da competição.
Com direito a dribles e troca de passes entre os robozinhos, o time gaúcho agitou a galera e voltou para casa com o caneco na mochila. %u201CApesar de termos esse time desde 2002 e sempre disputarmos os torneios nacionais, só conseguimos nos dedicar para a edição deste ano há um mês%u201D, conta Emanuel Estrada, outro integrante do time gaúcho, lembrando que o atual elenco hexacampeão será aposentado até o fim do ano. %u201CEncomendamos algumas peças novas e vamos refazer o projeto. A intenção é ficar sempre mais forte.%u201D
Automação inteligente
Outra modalidade disputada foi a IEEE livre, em que os estudantes deveriam desenvolver pequenos robôs que simulavam as tarefas executadas pelas máquinas de auxÃlio portuário. A tarefa de cada robô era, dentro de um espaço delimitado, localizar pequenos contêineres de alumÃnio e levá-los (como faz um guindaste) para áreas predeterminadas. Quem conseguisse cumprir o objetivo alcançando o maior número de pontos saÃa como vencedor. E a medalha de campeão ficou com a equipe Murphy, formada por quatro estudantes da Universidade Católica Dom Bosco, de Campo Grande (MS).
Atuais bicampeões brasileiros, os alunos viraram noites em claro preparando cada detalhe da estrela do evento. %u201CEle é totalmente autônomo e usa motores movidos à bateria para se movimentar%u201D, explica o aluno Erick Pfeiffer, 21 anos. Seguindo a receita dos vencedores, o robô da Murphy contou com uma arma secreta. %u201CDesenvolvemos um sistema de sensibilidade especÃfico para a competição. Com isso, ele (o robô) pode sentir qual o melhor caminho a ser seguido. Temos certeza de que isso foi o diferencial%u201D, opina Pfeiffer.
Já a categoria Dance colocou os alunos para dançar ao som de diferentes ritmos, sempre acompanhados por robôs que mostraram um swing atÃpico para o mundo das máquinas. A equipe Jackson Five, de São Paulo, levantou a plateia ao ritmo de Thriller, de Michael Jackson. Numa coreografia inspirada no clipe do cantor norte-americano, os estudantes dançaram acompanhados de um quinto integrante, criado a partir de peças comuns de Lego.
%u201CO robô segue uma programação criada para ser executada quando a música for tocada. Assim, ele consegue sincronizar com a canção e fazer todos os movimentos%u201D, explica Luis Henrique Usier, 16 anos, que participou pela primeira vez do torneio. %u201CA gente pensa que em um campeonato de robótica vamos encontrar um monte de nerds fechados dentro de uma sala. Mas não é nada disso. Me diverti bastante e também aprendi muito com os outros participantes.%u201D
Multidisciplinar
Por trás das disputas entre os robôs, o intuito desses torneios é fazer com que os alunos consigam colocar em prática muitas das teorias vistas dentro de sala de aula. Para um dos coordenadores do evento, Flávio Vidal, é a oportunidade para os jovens, tanto os secundaristas quanto os universitários, se envolverem com o que é feito em outros estados. %u201CO campeonato estimula o conhecimento cientÃfico e o relacionamento social entre os alunos. Também permite que haja uma transferência de tecnologia entre os estudantes de todo o paÃs, além de introduzir a criançada no mundo da robótica e da computação%u201D, opina. %u201CEles utilizam desde conhecimentos de matemática para conseguir programar os robôs até aspectos vistos em fÃsica e em ciências da computação. É realmente algo multidisciplinar e isso é muito bom para o desenvolvimento dos estudantes%u201D, diz Vidal.
Todos os participantes podem receber orientações de professores durante o planejamento, no entanto, cabe somente aos alunos montar as maquininhas que participam das competições. %u201CEles dividem tarefas e aprendem a trabalhar em equipe. Também devem se esforçar para minimizar os custos dos projetos, uma vez que, na maioria das vezes, não contam com patrocÃnios e o dinheiro sai do bolso deles%u201D, diz a coordenadora e professora da UnB Carla Koine.