postado em 09/12/2009 08:00
Quando se fala em cartas escritas à mão e enviadas por correio convencional, é difícil escapar da sensação de que esses artifícios são meios de comunicação arcaicos, muito distantes da realidade atual. A partir do fim da próxima década, a estranheza deve ser a mesma quando o assunto for e-mail. A tese é defendida por pesquisadores da Universidade de Kent, na Inglaterra. Eles afirmam que os serviços de correio eletrônico irão durar só mais cerca de 10 anos, quando serão substituídos definitivamente por programas de mensagens instantâneas e redes sociais.
A pesquisa, publicada em novembro, revela que 51% dos jovens adotam o e-mail como primeira opção como meio de comunicação na internet. Enquanto isso, 98% das pessoas com mais de 65 anos e 96% dos usuários entre 45 e 64 anos utilizam, prioritariamente, o correio eletrônico para se comunicar na rede mundial de computadores. Esses dados, para os cientistas, corroboram a ideia de que o e-mail é um recurso considerado ultrapassado pelos mais novos e está com os dias contados, já que é uma tecnologia utilizada por um grupo formado, em sua maioria, por pessoas de meia idade e aposentados.
O consultor financeiro Luiz Mário Borelli, 54 anos, se rendeu ao e-mail há sete anos. Desde então, utiliza o mesmo endereço eletrônico para tratar assuntos pessoais e profissionais com mais agilidade. Mesmo com todos os recursos disponíveis na internet, não abre mão da ferramenta. O que sabe de redes sociais (1), garante, é de ouvir falar, porque não tem curiosidade para acessá-las. Borelli gosta do e-mail pelas possibilidades de escrever mensagens mais encorpadas e anexar arquivos mais pesados.
"Em 80% das vezes, uso o correio eletrônico para tratar questões profissionais e, na minha opinião, esse meio de comunicação confere um caráter mais formal que as redes sociais. Para mim, que estou acostumado com o uso do e-mail, mudar para outro meio seria bem complicado%u201D, explica o consultor financeiro. "Sinceramente, não acredito que o e-mail será extinto. A tendência é de que ele seja utilizando com menos frequência, como são as cartas hoje em dia", opina.
Outros caminhos
O professor responsável pela pesquisa, David Zeitlyn, ressalta que o e-mail demorou 20 anos para tornar-se o fenômeno que é, mas pode levar a metade desse tempo para desaparecer. Jorge Henrique Fernandes, presidente do Conselho de Informática da Universidade de Brasília (UnB), não concorda com Zeitlyn. De acordo com ele, por princípio, os meios de comunicação não são extintos, mas sobrepostos por outros. Ainda segundo Fernandes, a tecnologia acompanha a organizacão das estruturas na sociedade, e a rotina atual exige uma velocidade maior na comunicação.
[SAIBAMAIS]"O fluxo de informações no mundo de hoje é gigantesco. As redes sociais e os programas de mensagens instantâneas permitem que as respostas sejam recebidas mais rapidamente e, assim, o e-mail vai ficando obsoleto", destaca. O pesquisador da UnB também credita o abandono do correio eletrônico como primeira opção de comunicação na internet ao spam(2), que irrita os usuários. "As pessoas não aguentam abrir a caixa de correio e observar que a maior parte dos itens recebidos não interessam", completa.
A estudante de psicologia Lorena Leite, 20 anos, representa bem um dos grupos avaliados na pesquisa da Universidade de Kent. O estudo mostra que 86% dos jovens com idade entre 15 e 24 anos ainda enviam mensagens por e-mail, mas utilizam outros métodos com mais frequência. Lorena garante que o correio eletrônico ainda é importante no cotidiano, porém entende que redes sociais e programas de mensagens instantâneas são mais eficientes. Ela diz, ainda, que a maioria dos amigos também pensa dessa maneira.
"Quase todo mundo conectado ao mundo virtual usa MSN, Gtalk, Twitter e Orkut. Quando há trabalhos da faculdade, eu e os outros estudantes do meu curso usamos essas ferramentas para trocar ideias, discutir os rumos de cada projeto e avaliar os resultados. É bem mais prático", conta Lorena, que só usa o correio eletrônico para enviar arquivos. O especialista em informática Jorge Henrique Fernandes afirma que o comportamento de Lorena é mais comum do que se imagina. "O e-mail deve continuar existindo em casos mais formais ou para comunicação corporativa", prevê.
1 - Febre virtual
As redes sociais ficaram mais populares no Brasil a partir de 2004, quando o Orkut foi lançado por um indiano. Desde então, outras páginas eletrônicas, como o Facebook e o microblog Twitter, começaram a fazer parte do cotidiano dos brasileiros. Para se ter uma ideia da devoção dos internautas do país às redes sociais, o Orkut tem 23 milhões de brasileiros, ou 51% do total dos frequentadores da rede.
2 - Praga eletrônica
Spam é o termo utilizado para mensagens não solicitadas pelo internauta - e enviadas em massa. Geralmente, o texto tem caráter publicitário e causa tanto incômodo na rede mundial de computadores que alguns países criaram leis para regulamentar o uso desse método.