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Diálogo com o mundo

Parceria de um dos maiores ícones da era da tecnologia, o Google Earth, com os índios suruí, que vivem na fronteira de Mato Grosso e Rondônia, visa mobilizar a opinião pública sobre os problemas da tribo e a importância da preservação da natureza

Igor Silveira
postado em 16/12/2009 07:00
Parceria de um dos maiores ícones da era da tecnologia, o Google Earth, com os índios suruí, que vivem na fronteira de Mato Grosso e Rondônia, visa mobilizar a opinião pública sobre os problemas da tribo e a importância da preservação da naturezaA descoberta da internet pelo cacique Amir Suruí representou mais que a expansão das fronteiras culturais do líder da tribo Pater Suruí. Quando o índio, ainda desconfiado, acrescentou recursos tecnológicos às tradições de seu povo, deu um presente de valor imensurável a todos os que navegam pela rede mundial de computadores: a oportunidade de conhecer o modo de vida do grupo indígena, que vive na fronteira entre os estados de Mato Grosso e Rondônia. Uma parceria entre essa comunidade e o Google Earth, firmada(1) em 2008 e colocada em prática em outubro desse ano, tornou possível a localização das aldeias no globo terrestre e a divulgação dos costumes dos Suruí.

Depois de feito o mapeamento da área onde vivem os índios Suruí(2), foram incluídos ícones nas imagens do Google Earth que fornecem informações sobre, por exemplo, a fauna, a flora e os conflitos na região. Nada escapa às fotografias de satélites. Matas, rios, estradas de terra. O vasto desmatamento, latente em manchas marrons no mapa, choca e revolta Almir Suruí. Para ele, a parceria é uma maneira de divulgar a valorização da cultura indígena e a importância da preservação da natureza, além de auxiliar na implementação de planos de gestão do território.

;No Brasil, ainda falta uma política bem estruturada, que permita um bom planejamento de territórios indígenas. Há muitos tipos de invasões ilegais e desordenadas por parte de madeireiros e caçadores às nossas áreas, e isso é ruim para os índios, para a floresta e, claro, para todo o mundo;, afirma o cacique. O acordo com o Google, segundo Almir Suruí, tende a mobilizar a opinião pública e alertar os governantes sobre a importância de manter o meio ambiente intacto. ;Nós somos conscientes dos nossos problemas;, completa.

Tela do Google Earth: pelo site, é possível verificar o desmatamento constante e como estão os recursos da áreaAs dificuldades da tribo começaram há muito tempo. Os registros mais antigos apontam que o primeiro contato da sociedade civil com o grupo indígena ocorreu em 1969. Nos cinco anos seguintes, metade da população morreu ao contrair tuberculose, sarampo e hepatite B. Atualmente, estima-se que 920 índios da etnia vivam na região da fronteira entre Mato Grosso e Rondônia. Lá, as aldeias sofrem com invasões de madeireiras ilegais e com a destruição da vegetação nativa. Liderados por Almir Suruí, os índios promovem o reflorestamento e a preservação da fauna local.

Valorização cultural
Ciente de que a luta contra os problemas de seu povo não era simples, o cacique procurou parceiros que investem na promoção da cultura indígena e na defesa das causas dessa minoria. A Equipe de Conservação da Amazônia (ACT Brasil) é uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (Oscip) e ajudou no mapeamento cultural do território. O presidente do órgão, Vasco van Roosmalen, destaca que o projeto do Google Earth é uma prova de que os índios estão buscando ferramentas tecnológicas para fortalecer seus valores socioculturais tradicionais.

;O primeiro contato com o Google foi feito pelo próprio povo Suruí, a partir do cacique Almir, que tomou conhecimento do site enquanto navegava pela internet. A partir disso, os índios tiveram a oportunidade de se reunir com representantes da empresa e de dar início ao trabalho com a atuação de diversos parceiros. Desde o início, os Suruí têm coordenado e liderado estas parcerias, da mesma forma que têm feito com o Google. Isso é muito importante para fortalecer o manejo e a cultura desses povos;, observa Roosmalen.

O cacique Almir Suruí é internacionalmente conhecido pela defesa das causas do povo indígena. Neste ano, foi apontado com um dos 100 brasileiros mais influentes pela revista Época. Em 2008, recebeu o prêmio Defensor dos Direitos Humanos, em Genebra, Suíça, pelo desenvolvimento de um plano mundial de proteção à natureza. O líder não teme que o excesso de exposição possa prejudicar a tribo e entende que a tecnologia pode ser um caminho, inclusive, para consolidar uma política de geração de renda entre os índios Suruí.

;Queremos dialogar com o mundo. Para que isso traga benefícios ao nosso povo, precisamos ter cuidado para não divulgar informações que nos exponham negativamente e prejudiquem a imagem dos Suruí. É importante contar histórias da nossa tribo, mostrar que podemos dialogar com a sociedade civil;, diz o cacique. Almir Suruí também pretende mudar a opinião dos que acreditam que algumas regiões do Brasil só serão desenvolvidas com grandes obras. ;É preciso acabar com a visão de que floresta no chão é sinal de desenvolvimento. Todos precisam apostar na economia verde.;(3)

1 - O mundo a um clique
O Google Earth é um programa que revolucionou a maneira de conhecer a Terra. Com imagens de satélites constantemente atualizadas, é possível visualizar mapas, terrenos, edifícios em três dimensões, além de imagens históricas de todo o mundo, dados da superfície e do leito oceânico fornecidos por peritos marinhos e uma apresentação simplificada com gravações de áudio e voz.

2 - Como acessar
Para encontrar a tribo Pater Suruí, o internauta deve digitar a palavra ;Suruí; na opção ;Meus lugares;. Feito isso, o link ;Trading Bows and Arrows for Laptops; irá aparecer na tela. Basta clicar na opção ;Abrir no Google Earth;.

3 - A Terra é verde
As discussões sobre preservação ambiental e aquecimento global atingiram níveis nunca antes alcançados. O Brasil, particularmente, enquanto caminha para integrar o grupo de países desenvolvidos, enfrenta o desafio de manter uma economia verde, ou seja, com produção que mantenha a sustentabilidade social e ambiental.

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