Tecnologia

Acesso à internet de banda larga no Brasil representa menos de 30% da média dos países ricos

Igor Silveira
postado em 28/12/2009 08:00
O avanço tecnológico e o desenvolvimento econômico no Brasil ainda mascaram um problema bastante relevante: a estrutura precária que impede uma inclusão digital eficiente. O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) divulgou há poucos dias um documento que traz um mapeamento da banda larga em território nacional. O resultado é alarmante e mostra que, atualmente, poucos brasileiros têm acesso à internet de alta velocidade. De acordo com o órgão, há apenas 5,8 acessos fixos de banda larga para cada 100 habitantes, número bastante inferior à média dos 37 países que integram a Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), de 22,4 acessos por 100 habitantes.

O baixo número de acessos por moradores no Brasil não é o único entrave para a democratização da informação por meio da rede mundial de computadores. O levantamento do Ipea também mostrou que os brasileiros pagam pelo menos sete vezes mais que americanos e japoneses por serviços de pior qualidade. O preço alto é justamente o principal motivo apontado para a falta de internet nos domicílios. Do total dos entrevistados que têm computador em casa, 54% dizem que o custo elevado é o fator primordial para a falta de acesso à rede. Para se ter uma ideia, o valor médio por acesso no país é de R$ 162. Os membros da OCDE têm uma despesa mensal de cerca de R$ 40 por conexões de velocidades mais elevadas.

O acesso à informação é fundamental para a consolidação de um país desenvolvido. A banda larga é um instrumento que permite o aumento da inclusão e da participação social. Por isso, nos últimos anos, registrou-se um crescimento considerável em investimentos para internet de alta performance como estratégia de desenvolvimento em áreas atualmente relegadas. A produção de conteúdo e serviços para a inclusão digital da população é uma das metas dos investidores. Com mão de obra qualificada e profissionais bem informados, é possível a criação de empregos e a sustentação do crescimento econômico da região a longo prazo, segundo conclusões divulgadas no documento do Ipea.

Os pesquisadores responsáveis pelo mapeamento da banda larga em território nacional buscam respostas para o impacto econômico e social com o acesso universal à internet de alta velocidade no Brasil. Emir Suaiden, especialista em ciência da informação da Universidade de Brasília (UnB), explica que a integração em massa da população com a banda larga traria resultados extraordinários para o Brasil. ;O grande problema é que o maior número de pessoas que acessam internet de alta performance está nas regiões mais desenvolvidas do país. Falta promover programas de capacitação para as minorias, que gerem maior interesse dos usuários e, assim, façam com que a população não seja apenas dependente e consumidora de informações, mas também produtora e analista crítica dessas;, destaca.

Custo-benefício
O técnico de som Tiago Sampaio, 32 anos, saiu há alguns meses da casa dos pais. Deixou para trás mordomias. A banda larga foi uma delas. Com o compromisso de pagar aluguel e a necessidade de comprar móveis e eletrodomésticos para o novo lar, ele abriu mão da internet. Apesar do notebook que usa para o trabalho, Sampaio diz ter outras prioridades financeiras e não cogita ter acesso à rede mundial de computadores nos próximos meses. Nem mesmo por meio do serviço discado ; pouco usado nos dias de hoje, mas uma opção mais barata. A relação custo-benefício não compensa, explica, porque a velocidade da internet discada é baixa para os recursos que utiliza na web.

;De fato, a internet discada é mais barata que o serviço de banda larga. Não quero, no entanto, pagar para ter uma velocidade que não me permite, por exemplo, baixar arquivos mais pesados com agilidade. Dessa maneira, prefiro utilizar a rede em outros locais enquanto não posso arcar com o custo de ter o serviço em casa;, opina. O técnico de som revela que já pensou em utilizar conexão 3G, mas o local onde mora, um condomínio próximo à QI 27 do Lago Sul, não consegue captar tão bem o sinal. ;O modem oferecido por essas operadoras de telefone celular não pega muito bem na minha casa, então, a contratação desse serviço seria desperdício de dinheiro;, avalia.

A falta de estrutura que impede melhorias nos serviços de banda larga no Brasil é outra limitação significativa citada no levantamento do Ipea. No documento, os pesquisadores concluíram que o mercado de serviços de acesso fixo de banda larga no Brasil depende, notadamente, da estrutura de telefonia fixa. As áreas onde não há interesse econômico por parte das empresas são caracterizadas pela ausência de estrutura e de serviço, como no meio rural e em pequenas localidades em regiões de difícil acesso. ;Conclui-se que, usando apenas a infraestrutura já existente, nesse estudo entendida como a disponibilidade de rede metálica para o assinante e a capacidade de comunicação de dados, seria possível promover uma cobertura muito mais ampla para o serviço de banda larga;, registra um trecho do documento, ressaltando a falta de interesse em determinadas regiões.

O auxiliar de serviços gerais Jairo Silva, 43 anos, mora em uma área rural do Distrito Federal. Só conseguiu colocar banda larga há quatro meses, quando o serviço chegou até o local. Mesmo com o preço alto cobrado para a manutenção da internet de alta velocidade, ele considera a rede mundial de computadores uma ferramenta essencial na educação dos dois filhos. O especialista em ciência da informação Emir Suaiden corrobora a opinião de Silva e pensa que a web é um recurso propício para impulsionar o desenvolvimento econômico e social de uma nação. ;Isso sem falar nos benefícios para a educação. Há uma pesquisa divulgada recentemente em São Paulo que mostra que os jovens com internet em casa utilizam mais a rede mundial de computadores do que a televisão para buscar informação;, acrescenta.

Mais velocidade
A banda larga recebeu esse nome porque o serviço transmite uma ampla faixa de frequências, utilizadas, principalmente, para vídeo e serviços integrados em geral, com som, imagens e dados, que demandam uma melhor capacidade de transmissão maior que a disponibilizada, por exemplo, pela conexão discada.

Comunicação móvel
Desde 1999, a tecnologia de telefonia móvel evoluiu para a chamada terceira geração de tecnologia. Esse tipo de serviço permite aos usuários acesso à internet e capacidade de visualização de recursos mais complexos, como vídeos. No Brasil, o 3G só chegou em 2004, porém pouquíssimas cidades tinham acesso a tal ferramenta. A partir de 2007, a tecnologia passou a ser comercializada por todas as operadoras de telefone celular.

Palavra de especialista
Ampliação é vital

;A ampliação do acesso à internet de banda larga é vital para o desenvolvimento da ciência e da tecnologia no Brasil. Para o meio acadêmico, também faz uma enorme diferença no contexto internacional. Não estou falando apenas de velocidade, mas da possibilidade de um número maior de informações. Na minha opinião, as opções da internet de alta performance são infinitas e o investimento nesse tipo de recurso é uma direção importantíssima que nosso país deve seguir.;

Michelângelo Trigueiro é coordenador da pós-graduação em Sociologia da UnB e autor do livro Sociologia da Tecnologia

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