Igor Silveira
postado em 25/01/2010 10:00
O gesto é quase inevitável. Quando o inseto parece sobrevoar a plateia que lota a sala de cinema, muitos tentam, em vão, acertá-lo com a mão. Os sorrisos sob os óculos cinzas denunciam os momentos de diversão plena durante a sessão do blockbuster Avatar, que bate recordes de bilheteria em todo o mundo. A estreia do filme dirigido por James Cameron impulsionou a retomada das exibições tridimensionais, que foram febre na década de 1980, quando a plateia precisava usar precários óculos feitos de papelão e lentes azuis e vermelhas. Porém, o desenvolvimento tecnológico elevou o realismo das imagens a um patamar inimaginável e, agora, promete levar a emoção para dentro de casa. Os fabricantes já anunciam televisores com recursos 3D, que devem ser lançados ainda no primeiro semestre deste ano, aproveitando a chegada da Copa do Mundo.A Consumer Electronics Show (CES 2010), um dos eventos mais importantes do mundo na área de novas tecnologias, levou a Las Vegas, Estados Unidos, uma mostra das tendências no campo de imagens em três dimensões no início deste mês. A expectativa do comércio e dos consumidores é tão grande que, segundo previsões divulgadas na ocasião, Hollywood pode lançar até uma centena de filmes em 3D por ano quando a padronização dessa tecnologia for estabelecida, provavelmente até o fim do ano. Marcas como Samsung, Toshiba, Panasonic e Sony fazem previsões bastante otimistas para os próximos anos: até 2013, 25% dos aparelhos de televisão vendidos deverão exibir imagens tridimensionais. A LG Eletronics foi além. A empresa chegou a falar em preços para os novos equipamentos, que devem custar até US$ 300 a mais que os convencionais.
O professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Arttur Ricardo Espindola trabalhou em um projeto de animação tridimensional digital. Ele explica que a diferença entre os efeitos apresentados há 20 anos e as novidades demonstradas na CES 2010 é a técnica usada atualmente. Antigamente, trabalhava-se com o recorte das imagens. Hoje, os produtores utilizam o conceito de profundidade de campo, o que simula o funcionamento da visão humana na tela do cinema. Portanto, o método de exibição continua praticamente o mesmo. A produção, sim, mudou bastante.
;Antes, era difícil criar a sensação de que se podia tocar na imagem reproduzida em 3D. As texturas e as cores são tão perfeitas, que a realidade parece muito próxima;, avalia Espindola. O professor destaca, porém, que a tecnologia existente no mercado ainda limita as possibilidades das reproduções tridimensionais em locais menores, como residências. ;A qualidade do 3D, no caso das televisões, está diretamente ligada à distância e ao ângulo do telespectador. Em espaços reduzidos, a qualidade pode ficar comprometida;, completa.
Alta definição
Os aparelhos de televisão de alta definição foram os catalisadores para a migração da tecnologia tridimensional dos cinemas para os lares. A frequência dos equipamentos com tela de cristal líquido e plasma foi aumentada. Com valores que variam de 120Hz a 240Hz, a imagem reproduzida é muito mais nítida. Outro aspecto fundamental é o tamanho da tela. O desempenho das tevês é melhor em telas superiores a 30 polegadas. Mesmo assim, o uso dos óculos não pode ser descartado por enquanto. Há, no entanto, projetos futuros para permitir aos usuários abandonar o acessório.
Cientistas estudam a possibilidade de comercializar televisores com projeção tridimensional que descartam o uso dos óculos adaptados. O grande entrave, porém, é que o efeito só foi obtido em telas de cristal líquido com tamanhos superiores a 50 polegadas e a preços absurdos, o que inviabiliza a entrada desse recurso no mercado. Ricardo Marroquim, professor do Laboratório de Computação Gráfica da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), ressalta que a melhoria dessas ferramentas é uma questão de tempo, como demonstram os resultados apresentados em Avatar.
;Naqueles primeiros filmes em três dimensões, com os óculos de papelão e as lentes vermelha e azul, tecnologia conhecida como anáglifo, as figuras que pulavam da tela eram de coisas pequenas, como pingos de água, bombas, bolas ou pássaros. Agora, você vê pessoas e naves espaciais com perfeição em 3D;, diz Marroquim. ;Se analisarmos as produções pioneiras, é possível concluir que as cenas tridimensionais eram sempre com iluminações muito claras, com ambientes adaptados para isso. Essa restrição não existe mais;, pontua.