Igor Silveira
postado em 19/02/2010 09:39
Apesar de o fluxo de informações sobre a importância de separar e reciclar o lixo ser intenso hoje em dia, o efeito ainda é pequeno. Em Brasília, por exemplo, dados do Sistema de Limpeza Urbana, divulgados pelo Correio no último dia 8, mostram que somente 8% do total de resíduos produzidos no Distrito Federal recebem o tratamento adequado. Na tentativa de amenizar o problema no Brasil, uma equipe de alunos do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial de Santa Catarina (Senai-SC), orientada pelo professor Claudemir Rogério Oldoni, desenvolveu um separador inteligente de lixo. A máquina evita desperdícios e diminui a possibilidade de acidentes, além de promover uma separação higiênica de materiais inorgânicos.A ideia surgiu na cidade catarinense de Concórdia, durante oficinas preparatórias para um evento de solução para gargalos cotidianos. Depois de cinco meses de estudos e testes, a ferramenta ficou pronta. Com ela, o usuário não precisa ter o cuidado de saber os tipos de materiais presentes em cada saco de lixo. A mistura entra no separador inteligente por meio de uma esteira e, logo na primeira etapa, recebe um jato de ar que separa papéis e plástico do processo.
Em seguida, um sistema de ímãs é acionado e os metais permanecem no compartimento, enquanto o restante dos resíduos prossegue na máquina. Uma bobina eletromagnética transporta os objetos metálicos para um outro compartimento depois que esses estão totalmente separados dos outros materiais. A operação é completada em uma cuba cheia de água, onde objetos de baixa densidade flutuam. Os mais pesados afundam e são retidos depois que o líquido é escoado em peneiras.
As fases do separador de lixo lembram aparelhos dignos dos cientistas malucos de desenhos animados. No entanto, o protótipo, com cerca de 3m de largura, é fruto de muita pesquisa e resultados tecnológicos que prometem revolucionar a separação de materiais inorgânicos. ;A ideia foi dos alunos e não foi algo tão simples. Eles tiveram de apresentar um pré-projeto, que foi analisado minuciosamente até que se confirmasse a viabilidade da máquina, mesmo com os ajustes necessários e algumas lacunas nas pesquisas em um primeiro momento;, afirma o professor Oldoni.
O orientador lembra que os estudantes decidiram pela pesquisa com o intuito de ajudar a região, que abriga diversas fábricas de reciclagem. Segundo o professor, o uso do separador inteligente de lixo é mais seguro que o processo manual realizado atualmente na cidade. ;A máquina vai ajudar a amenizar um problema extremamente grave do planeta que é o destino dado ao lixo. Estou muito orgulhoso pelo resultado e me sinto bastante útil por envolver os alunos em uma questão tão importante como essa;, ressalta.
Sem ferimentos
O estudante Gilian Dal Poso, 17 anos, é integrante do grupo que desenvolveu o separador inteligente. Ele conta que o projeto surgiu da preocupação com o meio ambiente e dos constantes problemas de saúde ocupacional na região. Pesquisas dos alunos revelaram que muitas das pessoas que separam o lixo acabam se machucando com pedaços de vidro e objetos pontiagudos. ;Isso sem falar na quantidade absurda de lixo que deixa de ser reciclada no Brasil. A máquina é uma oportunidade de expor os problemas e mostrar que há soluções. No início, nós pensamos que não fôssemos conseguir, mas está pronta e funciona muito bem;, diz, orgulhoso, o jovem.
Dal Poso e o restante da equipe estão trabalhando agora em uma segunda versão do separador de lixo. A ideia é corrigir falhas observadas no primeiro protótipo e apresentar um novo modelo para possíveis investidores que viabilizem a produção do separador em escala industrial. De acordo com o estudante, os donos de algumas empresas têm gostado do resultado e as perspectivas das negociações são muito boas. ;A nova versão deve custar pouco mais de R$ 2 mil. O preço deve cair quando uma quantidade maior de aparelhos for produzida;, acredita Dal Poso.
"A máquina vai ajudar a amenizar um problema extremamente grave do planeta que é o destino dado ao lixo"
Rogério Oldoni, orientador do projeto
Rogério Oldoni, orientador do projeto