Igor Silveira
postado em 12/03/2010 07:00
Não importa a área de atuação. No esporte, na música, nas artes cênicas ou no ambiente acadêmico. A tecnologia está tão próxima da sociedade que a presença dela é considerada uma necessidade mais que natural. Algo praticamente orgânico e inerente à vida na Terra. Exagero? Os usuários garantem que não. Mesmo quem utiliza as maravilhas da modernidade no trabalho não abre mão da comodidade propiciada por elas também na vida pessoal. Alguns reclamam, inclusive, que agora as novas gerações nascem em meio a tantas possibilidades que nem fazem o exercício de imaginar como era a rotina quando as grandes invenções não estavam disponíveis para qualquer um.Para entender melhor a importância da tecnologia na vida de alguns setores da população, o Correio entrevistou quatro personalidades de diferentes campos de atuação no Distrito Federal. O técnico do time de basquete Universo, o ator e comediante Ricardo Pipo, o músico e produtor musical Philippe Seabra e a professora e artista computacional Suzete Venturelli mostraram suas parafernalhas prediletas. São unânimes em classificar os recursos tecnológicos como primordiais às atividades que exercem e à qualidade de vida que têm.
Pela necessidade de adaptar as características e o estilo de cada um ao mundo moderno, casos peculiares fazem parte das lembranças dos entrevistados. Durante as conversas, eles contaram histórias sobre quando tiveram os primeiros contatos com equipamentos eletrônicos, como a tecnologia ajuda no crescimento profissional e revelaram curiosidades do cotidiano com as novas possibilidades.
O professor do Instituto de Tecnologia da Universidade de Brasília Rafael de Sousa ressalta que não há mais uma possibilidade viável de que a espécie humana consiga viver sem a tecnologia. ;Faz parte dos processos políticos, econômicos e sociais. Está muito enraizado. Claro, toda essa evolução traz um custo alto e a sociedade moderna tem de arcar com as consequências. Então, devemos olhar para o futuro e tentar aproveitar os benefícios da modernidade da melhor maneira possível;, conclui.
Em nome do alto rendimento
Fim de treino do representante de Brasília no Novo Basquete Brasil (NBB), liga nacional do esporte. O técnico Lula Ferreira distribui um DVD com jogadas do próximo adversário, editado por ele mesmo, para cada um dos jogadores do Universo. Depois, abre as duas maletas com equipamentos tecnológicos que carrega para todos os lugares. Laptop, dois projetores de imagens ; um do tamanho de um maço de cigarros, adquirido durante uma viagem a Dubai ;, DVDs virgens, extensões de tomadas. Até o mouse pad de Lula tem a forma de bola. Tudo pelo basquete. ;Sempre tenho problemas em aeroportos e aviões por causa do volume das bagagens, mas não gosto de depender de ninguém e esses recursos são fundamentais para o meu trabalho;, conta. O ex-técnico da Seleção Brasileira é um dos pioneiros no uso de edição de imagens na preparação para os jogos. Há quase 30 anos, ele preparava as fitas de vídeo utilizando dois videocassetes. Atualmente, trabalha com dois programas supermodernos. Além disso, Lula Ferreira utiliza um software, desenvolvido por ele, com planilhas que exibem as performances do Universo, dos adversários e dos jogadores individualmente. Ele revela que divide as novidades com outros técnicos. ;Como profissional e responsável por atletas de alto rendimento, não posso me contentar com pouco. A tecnologia é essencial para a minha profissão. Quanto a dividir os programas com outros colegas de profissão, acho que isso é bom para o basquete brasileiro;, destaca.
Lula Ferreira, técnico do Universo
Twitter no camarim
Não foi preciso procurar pelo número da casa. O fusca marrom com o símbolo da Apple colado na traseira do veículo estacionado na garagem denunciava o morador. Ricardo Pipo é integrante d;Os Melhores do Mundo, o grupo de comédia mais conhecido de Brasília. Aficionado por tecnologia, o ator recebeu a equipe do Correio em casa e apresentou um arsenal de engenhocas eletrônicas que costuma usar: dois laptops, um desktop, câmera fotográfica digital, mp3 player, teclado controlador para a criação de vinhetas e videogame portátil. ;Meus pais sempre me incentivaram a acompanhar a evolução de equipamentos eletrônicos. Comecei com um telejogo e não parei mais. Atualmente, carrego muitas dessas ferramentas durante as turnês. Quando surge uma ideia, usamos os recursos para inseri-la nos espetáculos;, conta Pipo. Ele é um twitteiro viciado. Várias vezes por dia, o artista coloca suas impressões do cotidiano local e nacional, além de divulgar o trabalho do grupo de teatro. A interação com os fãs é total. Alguns, por exemplo, cobram da plateia, via Twitter, o início da peça. Pipo não vacila: ;Calma, pessoal. Vamos entrar em cena dentro de 10 minutos. O público ainda está chegando;. Tudo por meio do microblog. ;A tecnologia ajudou aos Melhores do Mundo na organização e na divulgação do grupo. Outro ponto importante é que somos muito politizados, apesar de apartidários, e a rede mundial de computadores é mais um canal para expressarmos nossas opiniões sobre o assunto;, conclui.
Ricardo Pipo, ator
Esqueça os cavaletes
O laboratório de pesquisa em arte e realidade virtual destoa das outras salas do Instituto de Artes da Universidade de Brasília (UnB).Os cavaletes, papéis e pincéis dão lugar a computadores com telas grandes, estruturas cheias de fios, quadros digitais e espelhos. Ali, ao atravessar a porta, o visitante passa a fazer parte de outro mundo com características diferentes: um mundo virtual interativo. Em um canto da sala, totalmente integrada ao ambiente, está Suzete Venturelli, que trabalha com a mistura entre arte e tecnologia há duas décadas. ;Eu vejo esse mundo virtual como parte da evolução humana, mas a minha geração precisou ser meio autodidata no assunto. Os alunos de hoje em dia trazem isso no DNA;, compara. As manifestações de arte permeadas por luzes, processadores e placas de som surpreendem. Há, por exemplo, os ;tijolos espertos;, que reproduzem imagens do ;Jogo da Vida; por meio de pequenas lâmpadas. A professora também ajudou no desenvolvimento de uma pista de dança com iluminação que muda de acordo com o movimento das pessoas que estão dançando. Quando a câmera do celular é ativada e apontada para determinada direção da sala, informações pipocam automaticamente na tela. A chamada realidade aumentada inclui informações ou dados de computador no mundo real. ;Esse tipo de arte ajuda no desenvolvimento de outras ciências também. Aqui, tento trabalhar de um jeito diferente. Na minha opinião, as metodologias de ensino são ultrapassadas. Você entra em uma sala de aula comum e parece que voltou ao século 19;, analisa.
Suzete Venturelli, professora da UnB e artista computacional
Para manter a simplicidade
O primeiro trabalho da banda brasiliense Plebe Rude, O Concreto Já Rachou (disco de ouro pelas 100 mil cópias vendidas), de 1985, entrou para o hall dos clássicos do rock nacional. O som do grupo de punk rock era extremamente simples e a gravação da obra não demandava equipamentos tão modernos. Vinte e cinco anos depois, Philippe Seabra, vocalista da Plebe Rude, trabalha também como produtor musical. Atualmente, possui um estúdio muito bem estruturado e com ótimos equipamentos. No entanto, a tecnologia é usada, acredite, para manter a sonoridade também com a simplicidade dos equipamentos analógicos. ;Na minha época, tecnologia era Atari e toca-fitas. Entrei nesse mundo recentemente e penso que a modernidade está aí para ser vivida mesmo. Só não acho que deve servir de muletas. Tento usar a tecnologia para manter o som fiel à realidade;, descreve. Seabra ficou tão fascinado pelo mundo da produção musical que, atualmente, faz questão de usar equipamentos especiais. Um deles, o xodó do artista, é uma réplica do pré-conversor usado no lendário estúdio de Abbey Road, onde os Beatles gravavam. O aparelho, que tem o uso autorizado pela gravadora EMI, é um dos único do Brasil e é utilizado até hoje por George Martin, produtor do quarteto de Liverpool. ;Agora, é aquele lance: não adianta você nadar em um mar de tecnologias se não souber como tirar o que há de melhor nelas. O barateamento de equipamentos modernos, portanto, não significa, necessariamente, uma melhora na qualidade da música;, completa.
Philippe Seabra, músico e produtor