Tecnologia

iPad vende 152 mil unidades em três dias de pré-comercialização, mesmo sob avalanche de críticas

Antes mesmo de chegar às mãos do primeiro consumidor, "ganha" prêmio de "abacaxi" do ano

Igor Silveira
postado em 17/03/2010 09:02
Para o bem ou para o mal, o iPad, computador portátil da Apple lançado em janeiro desse ano, é o gadget mais comentado, no mundo, em 2010. Nos principais veículos de comunicação especializados em tecnologia, as discussões mais acaloradas giram em torno dele. Os produtos da marca estão acostumados aos holofotes e elogios. Predicados como ;revolucionou o segmento; são bastante comuns. No entanto, não tem sido dessa maneira com o tablet. A ferramenta, principal aposta do CEO (executivo-chefe), Steve Jobs, depois do iPhone, voltou a reinar nos noticiários essa semana com o início da pré-venda do aparelho na página eletrônica da Apple. O sucesso no primeiro dia de encomendas, na última sexta-feira ; cerca de 120 mil iPads vendidos ;, porém, não se repetiu no sábado e no domingo, quando o número caiu para, em média, 26 mil unidades por dia. Além disso, a chuva de críticas por parte de especialistas não para.

Steve Jobs, da Apple, na apresentação do iPad: aposta no sucesso do tablet, mesmo com decepção dos críticosDiferentemente do que ocorreu quando iPods e iPhones foram lançados, a Apple montou uma estratégia de pedidos do iPad no endereço eletrônico da fabricante. As filas quilométricas em frente às lojas dos Estados Unidos que marcaram o noticiário na época do tocador de MP3 e do smarphone foram substituídas por cliques ávidos por iPads. Na sexta-feira, um tablet era vendido a cada segundo na rede mundial de computadores. Nos dois dias seguintes, a média caiu para, aproximadamente, três gadgets por minuto. A Apple anunciou que o produto será entregue aos destinatários a partir de 3 de abril nos Estados Unidos. No fim de abril, o iPad estará disponível na Austrália, na Grã-Bretanha, no Canadá, na França, na Alemanha, na Itália, no Japão, na Suíça e na Espanha. No Brasil, a previsão é de que os usuários tenham acesso à ferramenta até junho.

O estudante Jeremy Johnson, 30 anos, mora no estado norte-americano de Maryland. Na sexta-feira, ele disputou com outros milhares de internautas a chance de comprar a primeira leva de iPads. Conseguiu a versão com 64 gigabytes de memória, tecnologia 3G e conexão Wi-Fi. Precisou desembolsar US$ 829 (cerca de R$ 1,5 mil) pelo produto, mas não foi só. Três dias depois, resolveu encomendar mais um. Dessa vez, um mais barato ; US$ 499 (algo em torno de R$ 880) ;, com 16 gigabytes e conexão de internet sem fio. Johnson diz que é presente para a mãe, que gosta de navegar na internet, mas tem dificuldade em usar o mouse do desktop.

;Eu estou cada vez mais fã da Apple e acho que o iPad será muito útil para mim, que passo muito tempo na universidade. Gosto do fato de que posso usá-lo como leitor digital, porque os livros que preciso para estudar são caros. As versões eletrônicas são mais acessíveis financeiramente. Sei que houve muitas críticas no lançamento, mas as pessoas precisam entender que o iPad não é um iPhone gigante. O tablet é um gadget para leitura, diversão e tarefas comuns na internet. Não pode ser comparado a um laptop, por exemplo;, defende Johnson. ;As especificações são mais que suficientes para as minhas necessidades;, completa.

Longe da unanimidade
Logo depois da apresentação do iPad, comandada por Steve Jobs(1), no Yerba Buena Center for the Arts, na Califórnia, os fóruns de discussão sobre a Apple ficaram lotados de comentários. Os applemaníacos estavam divididos. Enquanto uma parte dos usuários comemorava o lançamento de um novo produto, outro grupo enumerava os recursos que faltaram na ferramenta. Se por um lado, os preços abaixo do esperado rendiam mensagens eufóricas, por outro, as ausências de entradas USB e de câmera eram apontadas como defeitos graves no gadget.

Especialistas como Daniel Santos, editor especial da revista eletrônica Macworld Brasil, lembrou, também, de problemas presentes em produtos mais antigos da Apple e que não foram corrigidos no iPad. Pelo menos, não durante a apresentação de Jobs. ;O erro com o flash não foi legal. Como consumidor, esperaria as próximas gerações do tablet;, disse. O redator do site MacMagazine Newton Mota lamentou, ainda, a falta de saídas saídas HDMI e DVI, para conectar o aparelho a televisores. ;Senti falta da câmera porque seria muito útil para usar um software da própria marca, o iChat;, ressaltou.

As críticas ao iPad renderam, inclusive, um prêmio ao produto. Isso mesmo. O gadget foi o vencedor da segunda edição do Fiasco Awards, prêmio autoexplicativo entregue em Barcelona, na Espanha, no último dia 11. A eleição online teve 7 mil votos e o produto foi escolhido por 4.325 pessoas. ;Os eleitores decidiram que o iPad seguiria o mesmo caminho do presidente Obama: ganharia um prêmio antes mesmo de ter sido testado;, brincaram os organizadores no site oficial do prêmio, em referência ao Prêmio Nobel da Paz, recebido pelo presidente dos Estados Unidos. A reportagem do Correio entrou em contato com a assessoria de imprensa da Apple no Brasil para saber a posição da empresa sobre as críticas ao iPad, mas não obteve resposta até o fechamento desta edição.


1 - Nova polêmica

Depois de criar problemas com o Google, Jobs decidiu arranjar confusão com o Brasil. Convidado a abrir uma loja da Apple no Rio de Janeiro, onde ganharia, inclusive, o local para a construção, o CEO da marca respondeu ao secretário do Patrimônio Cultural do Rio de Janeiro, Washington Fajardo, que a fabricante norte-americana não iria instalar uma Apple Retail Store em terras brasileiras. ;Não podemos nem exportar os nossos produtos com a política maluca de taxação superalta do Brasil. Isso faz com que seja muito pouco atraente investir no país. Muitas empresas high tech se sentem assim;, teria dito Jobs, segundo um jornal do Rio de Janeiro.

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação