Tecnologia

Polêmico e fascinante

Jornalista norte-americano escreve biografia sobre Steve Jobs e revela detalhes sobre o crescimento profissional do mago dos computadores. Moritz era amigo do dono da Apple e acompanhou a criação da empresa e momentos de sua vida pessoal

postado em 30/06/2010 07:00
Heinar Maracy, tradutor do livro O Fascinante Império de Steve JobsQuase tudo que ele fala ecoa nos quatro cantos do mundo. Steve Jobs, 55 anos, parece ser uma daquelas pessoas que seguem a máxima: falem mal, mas falem de mim. Mesmo quando solta alguma bobagem ; vide a mais recente dica sobre como segurar o iPhone para que o aparelho não apresente falhas no sinal ; o fundador e poderoso chefão da Apple consegue chamar a atenção, seja por seu talento ao conduzir uma das maiores empresas de eletrônicos do planeta, seja por seu jeitão peculiar. Peculiar a ponto de evitar qualquer contato com jornalistas desde 1982, exceto, é claro, para divulgar ideias e lançamentos. Naquele ano, Steve Jobs teve uma briga com o então amigo jornalista Michael Moritz. Moritz escreveu um perfil de Jobs para a revista norte-americana Time, quando a publicação decidiu eleger o computador como a pessoa do ano. O texto de Moritz, no entanto, passou por uma edição que não agradou ao jornalista e, menos ainda, a Steve Jobs. ;Steve não fez segredo de sua raiva e deixou uma enxurrada de mensagens na secretária eletrônica de meu chalé (;). Ele, compreensivamente, baniu-me da Apple e proibiu a todos em sua volta de falar comigo;, conta Michael Moritz no prólogo do livro O fascinante império de Steve Jobs (Universo dos Livros), relançado em outubro passado nos Estados Unidos e traduzido para o português do Brasil este ano. A indignação de Jobs não impediu que Moritz publicasse as histórias do fundador da Apple ainda na década de 1980 e completasse o material em 2009. A biografia não autorizada revela, em detalhes, como Jobs se tornou um dos principais empresários do ramo de eletrônicos e conseguiu mudar a relação dos consumidores com os computadores pessoais. Jobs, que por pouco não se tornou um hippie, se rendeu ao capitalismo e alcançou a proeza de fazer com que seus produtos se tornassem objetos de desejo. ;Na Apple, eles veem o que as pessoas precisam antes mesmo de elas precisarem;, diz Heinar Maracy, editor-chefe das revistas Windows e Mac e responsável pela tradução do livro no Brasil. Carona certa O texto de Michael Moritz se diferencia de outros sobre a vida do todo-poderoso da Apple porque o jornalista foi testemunha ocular de boa parte das experiências de Jobs. ;Ele é extremamente detalhista, viu os grandes produtos da Apple nascerem e conta coisas no livro que sequer precisavam estar lá;, diz Heinar. Algumas dessas histórias derrubam lendas sobre a vida pessoal de Steve Jobs, outras confirmam o temperamento difícil e a persistência do presidente da Apple. ;Steve sempre teve a alma inquisitiva de um poeta ; alguém um pouco distante de todos nós que, desde a tenra infância, andou por seu próprio caminho(1). Se tivesse nascido em outros tempos, teria pulado em trens de carga e seguido sua estrela;, escreve Moritz na obra. Mas, como nasceu na época em que os computadores começaram a se tornar imprescindíveis ; e no lugar mais propício para isso, o Vale do Silício, na Califórnia ; Jobs pegou carona na tendência e soube aproveitar o talento de seu amigo de infância, Steve Wozniak, cofundador da Apple. ;Wozniak desenvolveu um hardware bem mais avançado que os disponíveis até então e eles conseguiram rapidamente dominar o mercado;, destaca Heinar Maracy. ;No começo de 1977, quando Jobs, Wozniak e Markkula (que também dirigia a empresa) tentaram avaliar o inventário de peças de sua garagem e o design do Apple II, eles chegaram a uma soma de US$ 5.309. Um ano depois, quando três firmas de capital de risco adquiriram ações da Apple, ela já era avaliada em US$ 3 milhões;, escreve o autor de O fascinante império de Steve Jobs. O boom da empresa, fundada em 1; de abril de 1976, trouxe muita riqueza a Jobs e ao time que administrava o negócio, jovens que logo ganharam o adjetivo de ;zilionários; na região . Isso não impediu, porém, que a Apple entrasse em um colapso durante o desenvolvimento do Apple III, no começo da década de 1980. ;A arrogância se infiltrou na empresa e conseguiu afetar todos os aspectos do negócio: o estilo com que tratava os fornecedores, as empresas de software e as revendas, sua atitude frente à concorrência e o jeito com que encarava o desenvolvimento dos produtos;, conta Michael Moritz no livro. Para o editor Heinar Maracy, o epílogo da obra valeria outro livro inteiro. Nessa parte, Moritz relembra a saída e a volta de Jobs para a Apple. Em 1985, ele foi demitido da empresa e ficou afastado por 11 anos. Em 1996, a Apple passava por dificuldades e tentava desenvolver um novo sistema operacional. Seus dirigentes perceberam que, para a coisa toda funcionar, precisariam do talento de Jobs. A solução foi comprar a empresa criada por ele no período, a NeXT. ;Muitos conhecem a história do ressurgimento da Apple. O que eles podem não saber é que ela tem poucas similares, se tiver alguma. Quando um fundador voltou à empresa que o expulsou rudemente para elaborar uma retomada tão completa e espetacular quanto a da Apple?;, pergunta Moritz. A resposta parece óbvia. É confirmada pelos iPads, iPhones, iPods e outros tantos objetos que hoje são mais que necessários para muita gente. Visão de futuro Nos anos em que Steve Jobs ficou afastado da Apple, ele financiou o surgimento da Pixar, estúdio de animação responsável por sucessos como Toy Story, Carros e Monstros S.A. Jobs também bancou, já de volta à Apple, o filme No Direction Home, de 2005, uma homenagem do diretor Martin Scorcese ao compositor Bob Dylan.
Ouça trechos da entrevista com Heinar Maracy

Três perguntas para Heinar Maracy O fascinante império de Steve Jobs
Michael Moritz
Editora:Universo dos Livros
Páginas: 367
Preço: R$ 27,90O que difere essa biografia das outras lançadas no Brasil até então? O Michael Moritz estava na Apple na época em que a empresa começou. Ele acompanhou reuniões, viu a coisa toda acontecendo. O autor fala em primeira pessoa, com detalhes, viu o Steve Jobs lá, dando bronca nos funcionários. O mais bacana é que ele conseguiu transmitir a personalidade das pessoas. Há muita lenda sobre o início da Apple, sobre o relacionamento do Jobs como o Steve Wozniak, principalmente sobre como eles eram na vida real, e ele consegue quebrar isso. Traduziu para o leitor aquele momento único da história, em que um bando de malucos mexia com computadores e não sabia direito no que isso iria dar. Na sua opinião, qual é a passagem mais marcante do livro? A hora em que o Jobs decide montar a Apple. Ele ficou um tempo naquela dúvida entre virar um cara místico, depois de voltar da Índia, ou criar a empresa. Ele percebeu que, para montar o negócio, precisava negar um monte de coisas nas quais ele acreditava. Há uma outra parte interessante também que conta rapidamente a história da volta de Jobs à Apple. É um capítulo grande que daria até outro livro. Há, inclusive, outras tantas obras sobre esse assunto. Por que a Apple deu tão certo? O principal é que eles estavam na hora certa, no lugar certo e com as ideias certas. O Wozniak desenvolveu um hardware bem mais avançado que os disponíveis até então e eles conseguiram rapidamente dominar o mercado. Além disso, eles tinham e têm uma filosofia de poder oferecer para as pessoas aquilo que elas querem. Claro que hoje todo mundo quer um aparelho portátil, que acesse a internet, esses caras praticamente reinventaram a videoconferência! É isso que é o iPhone 4. A Apple continua dominando, há sempre inovações acontecendo. Raramente isso é fruto de uma pessoa só, mas há um cara muito bom por trás que consegue dar a visão do negócio.

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