Tecnologia

"A Internet é democrática desde sua concepção

postado em 02/07/2010 07:04


Os EUA já concentraram grande parte dos servidores raiz da internet. Atualmente existem cópias espalhadas pelo mundo. A senhora considera que a gestão da internet se tornou mais democrática nesse período?
A Internet é democrática desde sua concepção, pois sua arquitetura permite que qualquer computador conectado a ela se comunique com qualquer outro. A Internet começou nos EUA, e é natural que a gestão dos serviços de nomes e distribuição de endereços fosse realizada lá até que estruturas fossem criadas em outros paises. Os servidores de nomes raiz foram espalhados pelo mundo assim que a Internet se tornou global. Mais importante que isto é a gestão dos subdomínios, principalmente o .com, que é o mais disputado. Mesmo este agora está espalhado em empresas concorrentes, que permite que se mantenha baixo o preço de registro. Mas não existe "gestão da Internet", já que a Internet é uma coalizão de redes autônomas (Internet = entre redes). A gestão de cada pedaço da rede é independente das demais. Se olharmos o caso do Brasil, conforme a Internet deixou de ser apenas acadêmica, foi criado um comitê gestor com representantes dos diferentes interessados na Internet, para a criação de políticas para a parte da Internet que se encontra no Brasil.


Ainda existe uma certa primazia dos EUA no controle da internet mundial?
Como junção de redes autônomas, a Internet não pode ser controlada por nenhum país. Os EUA podem controlar a parte da rede que se encontra dentro de seu país, mas é possível a qualquer tempo ficar independente dos serviços oferecidos nesta parte da rede. Infelizmente, isto causaria um particionamento lógico da rede, o que não é desejável. Explicando em outras palavras, se quiséssemos fazer um serviço de nomes exclusivamente brasileiro, isto é possível, e até simples. No entanto, se este serviço não fosse integrado no serviço de nomes do resto do mundo, as pessoas de fora não conseguiriam acessar as máquinas do Brasil por seu nome (no entanto, a não ser que as linhas internacionais fossem cortadas, ainda seria possível acessá-las através do seu endereço IP).

Os EUA estão discutindo leis mais duras para controlar o tráfego na web, que em casos extremos poderia inclusive bloquear o fluxo de dados (uma espécie de blackout virtual). O senhor acredita que esse tipo de lei pode ter reflexo no que nós, no Brasil?
É muito difícil controlar conteúdo. Descobrir o significado de um conteúdo é uma coisa que computadores não sabem fazer bem, e é muito simples criptografar dados para que eles se tornem opacos. Disto isto, já se faz bloqueio de conteúdo com direitos autorais na fonte. Por exemplo, sitios que tem programas de televisão, como o Hulu, impedem seu acesso a partir do Brasil. Mesmo no YouTube existe conteúdo que por direitos autorais não é acessível a partir daqui. Mas não é através da leitura do tráfego e do uso de "firewalls" de conteúdo.
A jurisdição de um país termina em sua fronteira. É possível que os EUA consigam bloquear tráfego indesejável, e que façam pressão diplomática para que sejam seguidos pelo resto do mundo, mas a decisão do que é aceitável ou não será feita país a país.



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