Tecnologia

Liberdade para o iPhone

A chegada ao Brasil do novo modelo do smartphone da Apple traz à tona o tema da liberação do telefone para aplicativos não autorizados pela empresa, o chamado jailbreak. Afinal, quais os riscos e as vantagens desse processo?

postado em 21/09/2010 09:11

A chegada ao Brasil do novo modelo do smartphone da Apple traz à tona o tema da liberação do telefone para aplicativos não autorizados pela empresa, o chamado jailbreak. Afinal, quais os riscos e as vantagens desse processo?Após três meses de espera, o Brasil finalmente recebeu na semana passada a primeira leva da quarta geração do iPhone. O CEO da Apple, Steve Jobs, disse durante o lançamento que o smartphone é o ;maior salto desde o lançamento do produto; e que o aparelho mudaria ;tudo de novo;. E mudou mesmo. Não só pelas novas tecnologias, como o recurso que permite ligações de vídeo por meio da rede wi-fi ou o display com tela de melhor resolução, mas também por acirrar ainda mais a constante disputa entre hackers e a Apple. Essa relação conturbada entre as partes consiste, principalmente, no jailbreak. Em uma tradução ao pé da letra, a palavra significa fugir da prisão, o que aplicado ao contexto do smartphone seria a liberação dos aspectos de segurança do iPhone para a incluir, geralmente, aplicativos que não são permitidos pela Apple.

De acordo com os últimos dados da empresa de segurança da informação Stratum Security, o jailbreak foi feito em mais de 3,5 milhões de iPhones 4 apenas nos Estados Unidos. Mas, a briga é antiga. Desde 2007, e dois meses depois do lançamento do iPhone Classic (que não chegou oficialmente ao Brasil), os hackers criam ferramentas para a liberação(1) do telefone.

A página de suporte da Apple traz um texto sobre o jailbreak que pode assustar muitos usuários e relata experiências encontradas com o processo, como instabilidade de aplicações e do aparelho, comprometimento da segurança e problemas nos serviços de telefonia.

;O principal problema do jailbreak continua sendo a forma com que ele pode afetar a estabilidade do sistema operacional;, afirma Federico Pacheco, gerente de Educação e Investigação da ESET América Latina. Vale lembrar que a cada novo firmware lançado pela Apple, uma nova barreira de segurança é criada para tentar impedir o jailbreak.

No entanto, apesar dos conselhos de especialistas e da própria empresa, a liberação dessa prática ganhou mais um aliado. O Departamento de Direitos Autorais dos Estados Unidos autorizou em junho deste ano o jailbreak e o desbloqueio de celulares, o que antes era considerado ilegal. ;É certo que a legislação norteamericana modificou alguns pontos do Copyright, permitindo que usuários de iPhone realizem modificações do tipo jailbreak e recebam assistência técnica mesmo que o dispositivo sofra algum dano devido a essa alteração. O problema com o jailbreak, além da questão legal, sempre foi e continuará sendo o possível efeito que possa produzir no funcionamento do software do dispositivo, por ser uma modificação não-oficial;, explica Pacheco.

No Brasil, o Ministério da Cultura realizou uma consulta pública para modernizar o código e incluir esse tipo de questão. Foram recebidas 8.431 sugestões, mas ainda não há previsão para votação da proposta.

Loja paralela
Uma das vantagens ao fazer o jailbreak de um iPhone é a inclusão do Cydia. A loja de aplicativos criada por Jay Freeman, PhD em ciência da computação pela Universidade da Califórnia, reúne uma grande variedade de programas que não foram aprovados ou que os desenvolvedores não estavam satisfeitos com as políticas da Apple. O Cydia trabalha por meio de servidores de reposição, os usuários criam endereços na web para incluir os aplicativos e basta adicioná-los ao programa. A última jogada da loja paralela foi adquirir a Rock Your Phone, empresa que faz o mesmo trabalho que o Cydia e possui mais de 4,5 milhões de aplicativos compatíveis com o iOS.

Também como vantagem, o jailbreak possibilita a liberação de algumas funções coibidas pela Apple e pelas operadoras. Uma delas é o tethering, que permite que o aparelho sirva como modem 3G. Basta o usuário conectá-lo ao computador, ou por meio do Bluetooth, e o 3G passa a ser utilizado para acesso à internet.

Liberação e desbloqueio
É comum o usuário confundir jailbreak com desbloqueio do aparelho. No entanto, são processos diferentes, nem sempre dependem um do outro. Para smartphones comprados nos Estados Unidos, é obrigatório fazer o jailbreak para depois liberar o aparelho para uso em qualquer operadora. No Brasil e em alguns países, como Itália, Canadá e Hong Kong, o iPhone é vendido desbloqueado, sem a necessidade de fazer o jailbreak. Com o telefone desbloqueado da operadora, o usuário pode realizar, por conta própria, o processo de liberação para adquirir programas não autorizados pela Apple.


Não abre mão
Apesar de legal em território norte-americano, a Apple não vai liberar uma ferramenta que faça o jailbreak do aparelho e possibilite o desbloqueio. Isso é explicado por razões comerciais. A App Store, com mais de 250 mil aplicativos e 6,5 bilhões de downloads, é uma fábrica de dinheiro para a empresa. Para a Apple não é interessante que programas de terceiros sejam compartilhados por outros locais sem a divisão dos lucros, no qual o desenvolvedor fica com 70% do valor da venda e a Apple, com 30%. Além disso, o telefone nos EUA, por acordo, está ligado à AT, uma das maiores empresas de telefonia norte-americana, que subsidia o preço do iPhone, o que descarta o desbloqueio do aparelho para uso em outras operadoras.


Turma do Jailbreak
Basta uma pesquisa na internet pelo termo jailbreak que uma infinidade de processos diferentes aparecem. A saga da liberação do aparelho começou com George Hotz, um hacker de 17 anos. O jovem descobriu que ao abrir o aparelho e soldar uma parte específica era possível a instalação de qualquer programa. No entanto, o processo era perigoso e se o usuário errasse, todo o aparelho estaria comprometido.

Com o passar do tempo, George conseguiu a liberação com o uso de softwares e projetou várias ferramentas, como o blackra1n, que permitiu o jailbreak do iPhone 3GS. Cansado das cobranças dos usuários afoitos por novos métodos, Hotz decidiu se aposentar. ;Eu estava me divertindo, mas algumas pessoas tinham que levar isso muito a sério. É só um telefone, e não é mais divertido. Minha descrição não diz ;iPhone hacker;, é só algo que eu fazia ocasionalmente quando estava entediado;, explicou no Twitter.

Apesar de o pioneiro ter desistido da batalha, outros grupos que fazem o processo continuaram a liberar o telefone da Apple. O Dev-Team, formado por 12 pessoas, é conhecido por fornecer a ferramenta Pwnage, que na última versão modificava e liberava o firmware 4.0.1 do iPhone. Atualmente, o blog dos desenvolvedores pede cautela na atualização do telefone para a versão 4.1, pois ainda não é possível fazer o jailbreak. Além disso, o uso errado do programa pode fazer com que o aparelho fique completamente bloqueado.

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