postado em 27/10/2010 08:00
A maioria deles nasceu próximos aos computadores e à internet. Sabe navegar na web com destreza, tem amigos e seguidores, isso sem falar nos celulares e, por vezes, iPods. Mesmo assim, meninos e meninas se surpreendem com as possibilidades da tecnologia, principalmente com os recursos ;escondidos; em meio a tantos aparatos. Para entender esse mundo que não se vê, nada melhor do que experimentar. Em todas as idades.Estudantes do Colégio Candanguinho, por exemplo, passam tardes construindo robôs de Lego. A atividade extracurricular leva crianças do 7; e do 8; anos a um laboratório para entender o que são sensores, programas de computador e por que certos objetos podem se mover ao menor comando. ;Eu mal sabia o que era robótica. Hoje, já virou um passatempo;, conta Marina Reale, 13 anos. ;Antes, eu achava que sensores eram só os olhinhos dos robôs;, conta a colega de Marina, Luiza Coimbra, 13 anos. As meninas e os colegas de escola participaram, até domingo passado, da Semana Nacional de Ciência e Tecnologia. No local, aprenderam sobre meio ambiente, sustentabilidade, mas também mostraram o resultado de seu trabalho.
O grupo trouxe quatro robôs para a feira, dois deles bastante engraçados: um robô-boneco, que saía caminhando pela mesa, e um crocodilo, que atacava qualquer coisa que aparecesse na frente. ;Ele funciona com sensores de ultrassom;, explica o aluno Matheus Takada, 14 anos. ;O sensor do robô consegue perceber onde você está pelo som que você desloca;, completa Marina Reale, mostrando que computação e matemática também são coisas de menina.
Ao expor o que aprenderam, as crianças acabam incentivando outros meninos e meninas a se envolverem com ciência e tecnologia. ;Muitos dos que estão apresentando projetos este ano visitaram a semana em anos anteriores;, afirma Roosevelt Tomé, secretário de Ciência e Tecnologia para a Inclusão Social. ;A nossa expectativa é envolver cada vez mais os jovens nessa iniciativa;, completa. ;Acho bacana conhecer essas coisas. Cada dia a gente vê algo novo, fico pensando o que ainda vai aparecer no futuro;, observa Luis Felipe Vieira, 14 anos, que, por enquanto, pensa em ser veterinário.
Incentivo
O ;ciclo; do encantamento e da participação, porém, depende do estímulo de professores, escolas e governo. A Diretoria Regional de Ensino de Santa Maria, por exemplo, organizou uma feira de ciências no início de outubro para selecionar os projetos que iriam à Semana Nacional. O evento, que ocorreu em um sábado, foi financiado por um edital da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes). ;Motivar as pessoas e conseguir patrocínio não é tão fácil assim, ainda mais em período eleitoral, mas, nas escolas onde o trabalho de mobilização foi maior, tivemos ótimos resultados;, conta Maria Leles Caixeta, coordenadora intermediária da DRE de Santa Maria.
De um dos colégios, o Centro de Ensino Médio 417, saiu o projeto de Carlos Vieira da Silva, 18 anos. O adolescente construiu um robô hidráulico, que se move a partir do deslocamento de água (ou outro líquido) em suas estruturas. Máquinas com essa tecnologia foram utilizadas no resgate dos mineiros chilenos, há duas semanas. ;Se os engenheiros tivessem optado por um robô comum, poderia haver outro acidente. O atrito com as pedras acabaria rompendo o fio de aço e fazendo com que a estrutura desmontasse;, explica Carlos, que montou o protótipo com canos de PVC, cabos de vassoura, seringas de jardim e suco.
O rapaz, que está no 2; ano, planeja estudar engenharia mecatrônica na Universidade de Brasília (UnB) ; curso dos estudantes Felipe de Paula Lima e Rodrigo Carvalho, de 21 e 19 anos, respectivamente. A dupla trouxe para a Semana de C o protótipo de um braço mecânico, que pode ser utilizado para limpar o leito de rios e lagos poluídos. O robô, de quatro motores, foi construído com peças de Lego, mas a criação do software que coordena os movimentos ficou com os universitários. ;Fizemos questão de deixar o Lego. É uma coisa colorida, então as crianças passam e conseguem visualizar que elas também podem construir um robô;, afirma Felipe. ;Quando eu era adolescente, foi uma mostra como essa que me fez ter vontade de estudar mecatrônica;, lembra o rapaz.
Em prol do ambiente
A VII Semana de C ocorreu de 18 a 24 de outubro com o tema Ciência para o Desenvolvimento Sustentável. Foram mais de 12 mil atividades cadastradas, que ocorreram na Esplanada dos Ministérios e em outras 383 cidades.
Como funciona um robô
Robôs são como humanos: todas as ações são identificadas, processadas e executadas em um cérebro, que coordena tudo que acontece com a máquina. Isso vale para qualquer tipo de robô, desde os que são confeccionados para parecerem com pessoas, até aqueles que cumprem funções específicas, como a reparação de uma falha na turbina de uma hidrelétrica ou o desarme de uma bomba.
Como cada robô tem seu cérebro, é preciso que a programação seja exclusiva também. Assim, para cada máquina, há uma série de códigos que definem como ela deve se comportar diante de cada situação. Isso tudo funciona graças a outros dois elementos importantes: os sensores, que indicam o posionamento do robô e das coisas ao redor, e os motores, que, muitas vezes, são em tanta quantidade quanto o tipo o número de movimentos.
No caso da mão mecânica dos alunos da UnB, por exemplo, havia quatro motores: um para fazer a máquina andar para frente e para trás, outro para movimentos laterais, um terceiro para subir e descer e o último para controlar a abertura e o fechamento da garra. Ufa!