postado em 10/12/2010 08:00
[FOTO1]No filme Minority report, a polícia manipula, por meio de toques em uma superfície transparente, imagens de futuros assassinatos. Com o equipamento, o ator Tom Cruise cruza as imagens para descobrir o criminoso antes que ele realmente cometa o homicídio. A tecnologia utilizada na ficção lançada em 2002 hoje é realidade. Importada, ela pôde ser vista, por exemplo, em uma emissora brasileira de televisão a partir da cobertura da Copa do Mundo de 2010. Agora, um grupo de recém-formados da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) está desenvolvendo um software que permite a manipulação de imagens ; um aperfeiçoamento do sistema touchscreen, que detecta os toques por meio de telas sensíveis.O sistema desenvolvido pelo grupo de engenheiros eletrônicos, porém, não exige o uso de telas especiais, podendo ser aplicado em mesas, pisos, paredes, vitrines ou quaisquer superfícies transparentes. Basta que uma câmera capte os movimentos gerados pelo usuário sobre a imagem projetada e o software interprete como um comando. ;A novidade é que ele vai dispensar a projeção de imagens em uma superfície própria, como a tela fixa de um monitor, já que não utiliza sensores para captar os comandos;, explica o engenheiro eletrônico Simon Medeiros, um dos desenvolvedores do sistema.
O sistema está sendo aprimorado por três jovens engenheiros da Ice Interactive, uma empresa incubada no Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia (Coppe), da UFRJ. Os sócios são Rafael Amaro da Fonseca e Silva, Simon Medeiros Soares e Allan Almeida Dieguez, graduados nos cursos de engenharia eletrônica e da computação pela universidade.
Chamado de multitoque, o sistema funciona da seguinte forma: o usuário interage com imagens projetadas em diferentes superfícies, através de toques ou gestos, que são captados por câmeras e interpretados por um software (veja infografia). Isso permite que o usuário manipule as imagens projetadas na própria superfície escolhida, como se seus dedos fossem o mouse. Elas, então, poderão ser projetadas com mais liberdade, sem as tradicionais barreiras de tamanho das telas. ;É como se a superfície fosse a tela do computador. Ou mesmo como se estivesse mexendo em um iPhone gigante;, compara Simon.
Segundo o engenheiro, o único pré-requisito para poder projetar imagens sobre superfície transparentes será a instalação de uma câmera. ;Será necessário ter uma câmera de vídeo conectada ao computador e virada para os movimentos que forem realizados no local escolhido;, assinala, lembrando que apenas serão captados os movimentos que forem previamente programados para ser reconhecidos.
Medeiros informa que a tecnologia já existe fora do Brasil. Um exemplo é o aplicativo Microsoft Surface. ;É uma mesa horizontal, onde o usuário interage como se fosse um computador;, explica o engenheiro. A inovação do grupo brasileiro, porém, está no desenvolvimento de uma solução nacional e de baixo custo.
Aplicações
O software multitoque pode ser usado em diversas aplicações. A mais importante considerada pela equipe de desenvolvimento é a sua utilização na medicina. Com ele, os médicos poderão visualizar com mais precisão detalhes de órgãos e, dessa forma, diagnosticar melhor uma doença. ;Queremos simplificar a visualização de imagens médicas e, com isso, facilitar os diagnósticos dos profissionais de saúde;, explica o engenheiro eletrônico Rafael Silva.
Isso será possível porque o sistema vai facilitar a observação de pequenos detalhes das imagens digitais captadas durante exames de ressonância magnética e de raios X, por exemplo. ;A partir de agora, em vez de visualizar o exame no computador, clicando nas imagens com o mouse, o médico pode mexer direto na tela e acessar qualquer detalhe do órgão que lhe interessar;, afirma Medeiros.
Entre outras aplicações do software multitoque estão apresentações de projetos de arquitetura e engenharia e visualização de ambientes modelados em 3D. ;Nessa aplicação, a pessoa pode saber como será o apartamento que a construtora está vendendo, ou como ficará a reforma ou a decoração da casa;, aponta Medeiros.
O engenheiro também levanta a possibilidade de utilizar o sistema em vitrines, nas quais o consumidor poderia visualizar toda a coleção da loja antes de entrar. ;Os aplicativos para o software são inúmeros e vão desde navegar na internet a criar peças publicitárias, catálogos de produtos ou jogos interativos, por exemplo.;
Apesar de ainda estar longe de finalizado ; o projeto deve levar cerca de quatro anos para ser concluído ;, as expectativas são de que o sistema seja mais acessível do que os touchscreen encontrados atualmente no mercado. ;O fato de dispensar o uso de sensores pode baratear o produto;, conclui Medeiros, dizendo que está aberto a futuras parcerias com redes hospitalares.