Jornal Correio Braziliense

Tecnologia

A rede ligou o planeta e deixou tudo sem limites geográficos

Facebook, Orkut, Twitter. As redes sociais parecem pertencer a um mundo novo de ferramentas tecnológicas. Mas, na verdade, as trocas de informações invadiram o cotidiano bem antes do que se possa imaginar. Com gestos e desenhos nas paredes, os homens das cavernas já deixavam depoimentos sobre o dia a dia para quem pudesse ou quisesse ver. Vieram as primeiras palavras, as cartas, o e-mail e as mensagens instantâneas. De mãos dadas com a evolução humana, as redes contribuem para a comunicação da vida real.

[SAIBAMAIS]Luiz Carlos da Silva Ramos, 52 anos, é exemplo de quem tem fôlego para acompanhar os avanços digitais. Antes mesmo da internet, o consultor de Tecnologia da Informação (TI) utilizava uma rede social eletrônica. O software Bulletin Board System (BBS), que atuou entre 1989 e 1996 no mercado, permitia conectar por telefone um sistema no computador e trocar arquivos. ;No início, era interface simples e texto na tela. As conexões eram muito lentas;, conta. Com a internet, o programa perdeu espaço. E, no mesmo ano, recorda, apresentaram o primeiro browser: ;Foi encantador, fiquei impressionado;.

Ao comparar o passado com o que vive hoje, Ramos cita o baixo custo como a principal mudança benéfica. ;O preço viável permitiu que, além das empresas, o usuário doméstico pudesse partilhar dessa tecnologia.; Pagava R$ 90 para acessar 30 horas mensais, sem custo da ligação. Hoje, é possível pagar R$ 70 por mês, sem limite de horas ou transferência de dados. Encantado com a facilidade, ele assume: ;Há anos não desligo meu computador;.

Como a internet se popularizou, exageros são cometidos. A principal crítica de Ramos é o excesso de propaganda que recebe por e-mail. Apesar do protesto, o internauta pioneiro cita os lados positivos da expansão tecnológica: as redes facilitam a comunicação dos grupos excluídos da sociedade. Eles podem montar grupos na web, formar opiniões e discutir sobre qualquer assunto com pessoas de mesmo interesse.

Elogios e críticas também fazem parte do discurso dos especialistas. O professor Carlos Nepomuceno pesquisa as tendências da internet e analisa o avanço do mundo digital. O profissional, que trabalha há 15 anos com o assunto, avalia que o ciberespaço é o ponto de partida para construir uma nova civilização e que as pessoas não estão preparadas para compreender o fenômeno internet ; rede social. ;Estamos intoxicados com a mídia passada, acostumados com antigas realidades;, afirma.

Futuro conectado
Nepomuceno ainda brinca ao comparar a internet a um cometa que passa no céu, de tempos em tempos. O momento é de completa transformação virtual e social. A sugestão é que leigos e pesquisadores fiquem atentos e estudem mais sobre o assunto. ;As cabeças estão nubladas com a correria do cotidiano e para conseguir ver o cometa, é preciso subir no alto da montanha. Exige-se esforço e estudo para isso;, esclarece.

Porém, só é possível entender o processo tecnológico a partir de um passado que projeta o futuro. E segundo o professor, não é preciso ser profeta para imaginar o que vem pela frente. Ele arrisca palpites em três etapas: massificação, surto filosófico e revolução social. O primeiro momento é o atual, em que há uma explosão do número de usuários nas redes com acesso a informações. A próxima fase seria ligada à filosofia. O espaço virtual será usado para questionar as regras da sociedade. ;Vamos rever a maneira como nos relacionamos política, econômica e religiosamente;, completa Nepomuceno. Por último, as mudanças nas atitudes das pessoas e a consolidação de uma nova era.

Outra teoria do estudioso é que independentemente da ordem dos acontecimentos, a rede social é um termo que não tem tempo fixo. Está sempre em movimento, em evolução. O usuário Luiz Ramos concorda e ressalta que a principal tendência será o espaço livre para qualquer pessoa se manifestar do jeito que quiser. ;É importante para democratizar a informação;, afirma.

Conceitos e opiniões sobre a importância da web se dividem entre aspectos positivos e negativos. Contudo, o consenso: as redes fazem parte da história humana. Família, amigos, colegas de trabalho completam o homem como ser social. Carlos Nepomuceno acrescenta que, desde o início da humanidade, ;a troca de informações promove o alargamento das redes de conhecimento para fora dos limites geográficos;. E resume: ;As redes sociais digitais são a ponta do iceberg da nova sociedade;.


CONEXÃO DAS ANTIGAS
Na década de 1990, o pioneirismo digital assumia papel importante na sociedade e redes sociais virtuais começaram a se popularizar. Em 1995, o endereço classmate.com foi considerado o primeiro site com objetivo de conectar antigos colegas de escola. Dois anos mais tarde, o Sixdegrees possibilitava a criação de perfis. O que mais parecia com as redes sociais conhecidas hoje foi o Friendster, que não suportou o crescimento e frustrou usuários quando limitou as funções do serviço.


2001
Apple apresenta o iPod
Lançado em outubro de 2001, o iPod ainda é o produto de maior sucesso da Apple. O tocador de MP3 fez com que o Walkman, que utilizava fitas cassete, desaparecesse de vez do mercado. Já foram lançadas quatro gerações do dispositivo. A última conta com comunicação por vídeo entre os usuários.

Lançado o Windows XP
Para tentar solucionar os problemas do Windows ME, a Microsoft lança a versão XP com a promessa de mais estabilidade. A nova interface gráfica, aliada a mecanismos multimídia, agradou os usuários. Foi a primeira versão do Windows a usar um programa de ativação contra a pirataria de software.

2002
Nasce o Friendster
Com 115 milhões de usuários registrados e 61 milhões de visitas únicas por mês no mundo, o Friendster deu início à era das redes sociais. O site proporciona o contato direto entre amigos e familiares, além de permitir expandir os contatos. Hoje, a rede conta com mais usuários da Ásia.

Fotolog conquista o Brasil
Com a disponibilidade de mais velocidade para acesso à internet, ficou mais fácil compartilhar fotos e vídeos. O Fotolog foi o meio mais utilizado para isso. O site gerou mais de 3 bilhões de page views. O Brasil permaneceu na liderança dos acessos e cadastros até a chegada do Orkut e do Flickr.

2003
Lançado o MySpace
Em um primeiro momento, o site funcionava como as outras redes sociais, com o diferencial de personalizar as páginas. Logo depois, a página ficou conhecida como um lugar para divulgação de bandas e músicas. A empresa dominou as redes até a chegada do Facebook.