postado em 19/01/2011 08:00
O Vale do Silício é aqui. Ou melhor, poderia ser, com tanta gente empenhada em fazer da tecnologia um negócio inteligente e lucrativo. Cada vez mais, investidores brasileiros e estrangeiros voltam os olhares para os talentos nacionais. Prova disso é a Campuseiros Inventam, atração da Campus Party, a maior feira de internet do Brasil que ocorre esta semana em São Paulo. A organização selecionou 15 projetos individuais para serem apresentados durante o evento. Uma banca vai avaliar os trabalhos e o vencedor será conhecido no sábado.
;A Campuseiros Inventam é voltada para pessoas que têm ideias bacanas, mas não pensam em abrir uma empresa. Elas estão lá para vender o projeto, tentar registrar a patente e buscar parceiros;, explica Mário Teza, diretor-geral da Campus Party. A grande novidade desta edição ; a quarta realizada no país ; é o prêmio para os inventores: R$ 100 mil, a serem investidos no produto durante o período de um ano. O valor é bem maior do que os 3 mil euros dados ao vencedor da Campuseiros Apresentam no evento europeu do ano passado, por exemplo. O empresário brasiliense Marcos Roberto Oliveira levou o reconhecimento na época, pelo iTV Project, software que desenvolve aplicativos interativos para a TV digital através de qualquer navegador.
» O diretor-geral da Campus Party, Mário Teza, fala sobre o Campuseiros Inventam e o espaço para jovens empreendedores apresentarem seus projetos
Este ano, Oliveira está na organização da Campus e ajudou a escolher os 15 finalistas da Campuseiros Inventam. ;Esse é o maior encontro de tecnologia do mundo. O Al Gore (ex-vice-presidente dos Estados Unidos) esteve aqui, o Steve Wozniak (parceiro de Steve Jobs na fundação da Apple) estará. Isso abriu muitas portas para o nosso trabalho. Quando a gente conta que levou o prêmio de 2010, as pessoas nos encaram de um jeito diferente;, diz. Oliveira acredita que o Brasil começa a entrar em uma onda de desenvolvimento semelhante à que aconteceu nos Estados Unidos nos últimos anos. ;Nós somos o povo que fica mais tempo na internet, temos milhares de internautas e o mundo está de olho nisso. Vai saber se o próximo Mark Zuckerberg não sai daqui.;
Inspirado nas redes sociais, o campuseiro Brynner Ferreira criou o Wup, um site que organiza conteúdos dos endereços favoritos do internauta e facilita o compartilhamento de informações. ;Ele mostra resultados hierarquizados por meio de uma avaliação comportamental do perfil do usuário dentro da rede. A ideia é que ele encontre o que precisa de maneira fácil e rápida;, destaca Brynner. A comunicação não é, porém, o único foco dos campuseiros inventores.
Jhonatham Fernandes, 24 anos, está com dois projetos finalistas na Campuseiros Inventam. Um deles, uma espécie de autoatendimento em três dimensões, foi elogiado pelos jurados da banca na tarde de ontem. ;O programa permite que o cliente de um shopping, por exemplo, visualize a loja que quer visitar na entrada do edifício. Além disso, o software tem espaço para publicidade e programação de cinema, por exemplo;, detalha o jovem, morador de Goiânia. O outro projeto de Jhonatham é um sistema de vendas para restaurantes via celular. ;O dono do estabelecimento pode ter a fotografia do cliente, dos pratos, com detalhes sobre os pedidos de forma muito mais sistemática;, destaca.
Vitrine
Mesmo otimistas com a avaliação dos jurados, os campuseiros já se consideram privilegiados de estar entre os finalistas. ;A Campus é uma oportunidade gigantesca, mesmo sem ganhar o prêmio, teremos um feedback muito grande de futuros possíveis parceiros;, diz Daniel Barbosa, 34 anos. O campuseiro criou um projeto de comunicação alternativa digital para portadores de necessidades especiais. ;As chamadas pranchas multitouch já existem nos Estados Unidos, mas custam US$ 4 mil, US$ 5 mil. Queremos viabilizar um produto nacional, em língua portuguesa, de tecnologia assistiva. É um sonho;, define ele.
O diretor-geral da Campus Party afirma que o envolvimento dos participantes mostra o amadurecimento da feira. ;No primeiro ano, o campuseiro vinha assistir a uma palestra; no segundo, acampava; no terceiro, dava um curso; agora, no quarto ano, já vem com uma ideia. E as empresas estão percebendo esse potencial, já sabem que precisam inovar e aqui é o lugar para isso;, comenta. ;Além disso, as empresas vêm aqui para recrutar profissionais, o que desperta cada vez mais o interesse dos jovens.; Há, este ano, 6,8 mil jovens acampados no Centro de Exposições Imigrantes.
Para o professor Ricardo Queiroz, do Departamento de Engenharia Elétrica da Universidade de Brasília, a premiação da Campus Party incentiva milhares de jovens nerds com boas ideias Brasil afora. O problema, diz ele, é que esse modelo de negócio acaba não estimulando o desenvolvimento estruturado do setor no país. ;Dar dinheiro para um projeto que já existe não é algo complicado. O raro é incentivar financeiramente a criação de novos projetos;, afirma. Ricardo acredita que a tecnologia brasileira somente vai decolar com a adoção de um sistema parecido com o que existe nos Estados Unidos.
;Lá, há empresas de tecnologia de fato. Os investidores te dão US$ 1 milhão para pensar em soluções, algumas funcionam, outras não. Aqui, isso tudo fica na mão das universidades, onde os professores precisam se desdobrar para dar aulas e os alunos de pós, para fazer suas teses ou dissertações;, observa. ;Basicamente, os empresários daqui procuram apenas projetos simples e que estão na mão de jovens, gente ainda com bastante tempo livre e que não se preocupa tanto com sua situação financeira.;
Estrela de cinema
Mark Zuckerberg, no auge de seus 26 anos, deu mais uma prova de seu sucesso. O filme A rede social, inspirado em sua trajetória, ganhou esta semana o Globo de Ouro. Pode ter sido por competência dos cineastas, mas é inegável que a história do fundador do Facebook é um roteiro de filme: depois de largar a universidade, o jovem criou a rede social mais popular do mundo e foi considerado o homem do ano de 2010 pela revista Time.