postado em 25/01/2011 08:00
São Paulo ; Não é de hoje que pessoas se reúnem para lutar por direitos e conseguir progresso. Com a internet, na teoria, isso se tornaria ainda mais fácil. Na prática, figuras emblemáticas conhecidas pelo trabalho na web ainda lutam por uma mobilização digital organizada. Foi o que fez o ex-vice-presidente dos EUA, Al Gore, ao passar pela Campus Party Brasil, em São Paulo. O debate do ativista vencedor do Nobel da Paz com Tim Berners-Lee, criador da World Wide Web (WWW) e considerado um dos pais da internet, era um dos momentos mais esperados pelo público e concentrou todas as atenções dos campuseiros.A dupla arrancou gritos e aplausos da plateia, que ouvia atenta as ideias sobre como utilizar a internet da melhor maneira. Em seu argumento, Al Gore defendeu a democracia e disse que a rede não pode ser controlada. ;A internet não pode ser manipulada pelo governo ou por grandes corporações. A liberdade digital é algo do qual não podemos abrir mão. Por meio dessa ferramenta, a geração atual poderá fazer um mundo melhor;, disse. O ambientalista ainda relacionou as catástrofes no Rio de Janeiro com o aquecimento global e falou sobre os documentos divulgados pelo Wikileaks de maneira cautelosa, dizendo que o embate entre aqueles que querem reter a informação e aqueles que querem divulgá-la deve ser regido pela lei. ;Informação é poder. Governos livres não temem a internet, somente governos totalitários;, enfatizou.
O discurso dos dois convidados convergia para o mesmo caminho. Com tom mais social, Berners-Lee apelou para o poder de mobilização da web. Ele falou rapidamente sobre a história da internet e sobre o funcionamento da rede como um canal de comunicação entre os países e como ferramenta de utilidade pública. ;Se perceberem que estão sendo controlados por alguém, mexam-se. Vão às ruas, protestem, criem blogs, juntem os amigos, façam alguma coisa. Vocês têm poder;, afirmou. Segundo ele, as ;revoluções silenciosas; são as mais poderosas.
Utilidade x Orkut
Cristina Fontes de Melo, 21 anos, estudante de Ciências da Computação, veio de Curitiba (PR) para participar da Campus Party pela primeira vez e ficou entusiasmada com o que viu no início do evento. ;Internet é revolução popular, uma verdadeira transformação cultural, e não pode ser domada. Al Gore fez muito bem em contrapor os governantes que querem controlar o incontrolável. Espero que o nível de todos os debates seja assim;, afirmou.
Al Gore falou ainda sobre o uso adequado e inteligente da internet para promover a educação. ;A web mudou o ensino. Hoje, as crianças tiram vantagem do conhecimento exposto na rede e, como consequência da curiosidade, acabam aprendendo muito mais. Está na hora de o sistema educacional entrar no século 21;, disse. Houve também um clima de descontração. Os palestrantes falaram sobre o que costumam acessar na rede. ;Uso a internet para facilitar a vida. Pago contas, faço compras e troco muitos e-mails, mas não costumo entrar em mídias sociais;, confessou Berners-Lee. Já Gore revela outro gosto. ;Estou o tempo todo conectado. Tenho Twitter, uso RSS e visito cerca de 40 sites por dia. Gosto de saber o que está acontecendo. Se vivesse no Brasil, com certeza estaria no Orkut;, brincou.
Balanço
Com um público recorde de 6,5 mil pessoas, a Campus Party Brasil fez história mais uma vez. A quarta edição nacional de um dos maiores eventos do mundo sobre conteúdo digital, games, mídias sociais e entretenimento virtual conquistou internautas e apaixonados por tecnologia do Brasil. Além das novidades do mundo eletrônico, dos robôs e megacomputadores, quem passou por lá pôde compartilhar conhecimento e participar de debates com convidados de alto nível: Al Gore, ex-vice-presidente dos EUA e vencedor do Nobel da Paz, Steve Wosniak, cofundador da Apple, Tim Berners-Lee, criador da World Wide Web (WWW) e outras celebridades do mundo da web.
Com o total de 400 atividades e 500 horas de conteúdo, entre palestras, oficinas, personalidades e de empresas apoiadoras, a Campus Party também foi palco para o lançamento de uma nova tecnologia de ultrabanda larga. Quem esteve no local participou do teste da IPV6, a nova geração de internet, e utilizou a conexão com velocidade de incríveis 10Gbps..
No total, o evento recebeu cerca de 90 mil pessoas na área Expo. Além do Brasil, a Campus Party acontece na Espanha (país de origem), na Colômbia e no México. Paco Ragageles, um dos idealizadores, revelou que as próximas edições no Brasil serão ainda maiores e que a organização estuda a possibilidade de fazer mais de uma Campus Party no Brasil, ao mesmo tempo, em cidades diferentes.
Campus Verde
Nem só de máquinas e tecnologia vivem os participantes do evento. Um espaço de 176m; foi dedicado ao tema da sustentabilidade, cada vez mais importante na atualidade e indispensável nas discussões sobre o futuro da tecnologia. Pesquisas, produtos e ideias ganharam espaço na Campus Party para a discussão sobre como é possível evoluir e ao mesmo tempo não destruir o meio ambiente. Além de palestras, a área contou com informações sobre a tecnologia sustentável e uma exposição de produtos ligados ao tema.
O que é?
Criada na Espanha em 1997, a Campus Party é o maior acontecimento de tecnologia, conteúdo digital e entretenimento em rede do mundo. Durante uma semana, os participantes da Campus Party ; os chamados campuseiros ; mudam-se com seus computadores, malas e barracas para dentro de uma arena, onde se conectam a uma rede de alta velocidade e participam de uma ampla programação de oficinas, palestras, conferências, competições e atividades de lazer. Além das edições anuais no Brasil e na Espanha, a Campus Party acontece na Colômbia e no México. Também já foram realizadas duas edições especiais: Campus Party Iberoamerica (2008), em San Salvador (El Salvador) e a Campus Party Europa (2010), em Madri (Espanha).
Números
6,5 mil campuseiros
4,5 mil campuseiros acampados
73% são homens
27% são mulheres
400 atividades
500 horas de conteúdo
300 projetos enviados para os concursos Campuseiros Inventam e Campuseiros Empreendem
Três perguntas para
Alexandre Ottoni, fundador do blog jovem nerd
Qual foi o diferencial do Jovem Nerd para conseguir ser idolatrado por tantos jovens?
Acho que o sucesso vem com produção de conteúdo gratuito de qualidade. Nunca dependemos de marketing. Por esforço próprio e muito empenho, conseguimos chegar aonde chegamos. No começo, fazíamos humor com texto e imagens. Hoje, o grande diferencial é o podcast. Mudamos de acordo com o que os internautas pediam e a internet exigia.
O que a Campus Party tem de especial?
Este é um lugar único, onde é fácil fazer bons contatos, se mostrar para outros veículos e expor o trabalho. Muita gente se conhece só pela web e acaba se encontrando pessoalmente aqui. Todos que trabalham com tecnologia deveriam vir. Este não é um lugar para passar dias jogando videogame, é muito mais que isso. Devemos consumir menos e criar mais, como fizeram Mark Zuckerberg, inventor do Facebook, ou os criadores do Google.
Qual é o maior nome que a Campus Party conseguiu trazer para o Brasil?
Sem dúvida, Steve Wozniak, cofundador da Apple. Todos aqui estavam na maior ansiedade de ouvi-lo. Ele simplesmente criou o mundo que conhecemos hoje ao tornar o computador menor e mais acessível para todos. Devemos muito a ele. O engraçado é que a maioria só conhece Steve Jobs, mas ter Wozniak aqui é uma maravilha, é um verdadeiro gênio.