Tecnologia

Trabalho de previsão do tempo depende da troca informações entre países

Como desastres naturais não respeitam fronteiras, é do interesse de todos manter essa comunicação aberta entre meteorologistas

postado em 09/02/2011 10:02
Se há algo capaz de unir os povos de todo o mundo, é a meteorologia. Nuvem não escolhe fronteira, tampouco tornados ou furacões, e os desastres climáticos causam mortes e prejuízos econômicos imensos. Por conta disso, a previsão do tempo e suas ferramentas são compartilhadas por todos, formando uma rede planetária de troca de informações. Para que tudo funcione, porém, há um verdadeiro trabalho de formiguinha, que começa com a coleta de dados e termina com o processamento de elaborados cálculos matemáticos (veja infografia).

No Brasil, a previsão do tempo é feita por vários órgãos ; públicos e privados ;, dos quais os mais famosos são o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet). É esse último o responsável pela maior parte das estações de coleta de dados meteorológicos espalhadas pelo país. São 350 unidades convencionais, operadas por pessoas, e 466 automáticas. A meta é que este número chegue a 500 ainda este ano. Engana-se quem pensa, no entanto, que as estações ;humanas; vão desaparecer.

É claro que há uma série de aparelhos nas estações convencionais, mas eles são observados por um profissional, que sempre consegue agregar mais informações ao trabalho. ;O observador é treinado e percebe coisas que as máquinas ainda não percebem, como a altura das nuvens, a ocorrência de relâmpagos;, aponta o engenheiro José Mauro Rezende, da coordenação de sistemas de comunicação do Inmet. O ideal, explica ele, é que cada estação convencional tivesse, pelo menos, cinco funcionários. Como a meta é bastante difícil, as estações automáticas fazem o básico do trabalho.

Outra ;estrela; da previsão do tempo são as imagens de satélite. A maioria das fotos usadas no Inmet são tiradas por equipamentos de outros países, que operam em uma espécie de licença livre. ;Todo mundo é solidário quando o assunto é meteorologia, porque, no fundo, todos estão interessados na informação do vizinho;, diz o meteorologista Luiz Cavalcanti, do Inmet. Os satélites captam imagens de diversos pontos da Terra com frequência variável. Ao acionar o software dos equipamentos, o operador pode fazer uma animação e assistir à formação de nuvens e da chuva. ;Os satélites são essenciais, porque possibilitam uma visão completa do globo, especialmente de áreas onde não teríamos acesso, como o meio dos oceanos;, ressalta Cavalcanti.

Aeronáutica

Aparelhos milhares de metros distantes do solo, contudo, não são os únicos a contribuir com os meteorologistas. Há um equipamento que decola do solo duas vezes ao dia e oferece informações vitais para os homens do tempo e para a aviação. As chamadas radiossondas ficam acopladas a balões meteorológicos que atravessam a atmosfera da Terra coletando, minuto a minuto, dados sobre a pressão, a temperatura e a velocidade dos ventos. Detalhe: o lançamento dos balões é responsabilidade da Aeronáutica e custa cerca de US$ 200 por vez.

Dinheiro bem investido, já que o movimento das massas de ar determina a estabilidade do clima. Sem falar que é importantíssimo para a definição das rotas dos aviões. ;Quando há uma corrente de jato (ventos de 200km, 300km/hora), o piloto precisa saber onde ingressar nesse corredor. Se fizer isso com habilidade, aproveita a força da natureza para economizar combustível. Mas, se fizer na hora errada, corre o risco de estraçalhar o avião;, afirma o meteorologista Luiz Cavalcanti. ;A Aeronáutica é uma das nossas principais clientes;, reforça o especialista.

Outra vantagem das radiossondas diz respeito à possibilidade de esses equipamentos registrarem a temperatura e a densidade das nuvens. Satélites conseguem fazer isso, mas apenas em cima delas ou abaixo, não percebem seu interior. A previsão se completa com o uso de radares horizontais, que confirmam a ocorrência de chuvas. O aparelho usado pelo Inmet fica no Novo Gama e tem um raio de alcance de 400km. Pode parecer pouco, mas, a partir do registro de precipitação em determinado ponto, fica mais fácil prever quando irá começar a chover em outro. ;O pessoal está utilizando esse tipo de radar na Fórmula 1 também, porque ele possibilita previsões como ;daqui a 10 minutos, vai chover em Interlagos;;, diz Cavalcanti.

Todas as informações coletadas pelo Inmet vão para um supercomputador ; recentemente, um novo equipamento, considerado um dos mais avançados do mundo, entrou em funcionamento ; duas vezes ao dia. A máquina gasta cerca de duas horas para processar milhares de prognósticos e o resultado gera um relatório que é divulgado para todos os órgãos de previsão do mundo. A geração de informações segue um padrão internacional, orientado a partir do horário de Greenwich. Por enquanto, a previsão do Inmet é calculada a partir de recortes do território de 49km; (a do Inpe está em 25km;). Mas a ideia é que essa ;grade; fique ainda menor até o fim do ano: algo em torno de 14km;. ;Estamos planejando isso junto do aumento do número de estações de coleta;, adianta o meteorologista Luiz Cavalcanti.

Aviso especial
Sempre que o Inmet identifica a possibilidade de chuvas fortes, emite um comunicado à Defesa Civil Nacional e às regionais onde os temporais devem ocorrer. Esse foi o procedimento adotado em 11 de janeiro passado, um dia antes das tempestades que destruíram parte da região serrana do Rio de Janeiro. Luiz Cavalcanti, do Inmet, afirma que a carta não evitou a tragédia porque o problema era o local de moradia da população.

Observação de anos
O Inmet também faz o estudo climatológico brasileiro, que é, grosso modo, a análise do comportamento do clima ao longo dos anos. Há uma imensa sala onde estão guardados os dados coletados em estações meteorológicas desde 1909, ano de fundação do instituto. O Inmet tem uma cópia digital das folhas, mas começará agora a digitar os números. Com isso, os dados históricos poderão ser consultados no computador.

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