Tecnologia

Briga entre Microsoft e Google por buscas reabre discussões judiciais

postado em 15/02/2011 07:00
O clima ficou tenso entre duas das maiores empresas de tecnologia do mundo. A Microsoft, dona do Bing, é acusada de copiar os resultados do serviço de buscas do Google. A segunda, comandada por Larry Page, começou a desconfiar da primeira, de Bill Gates, ao usar o termo tarsorrhaphy (tarsorrafia, em português) ; um raro procedimento cirúrgico nas pálpebras. No final do ano passado, os engenheiros do Google se depararam com uma consulta incomum de ortografia, ;torsorophy;. O site, então, sugeriu a ortografia certa e mostrou os resultados corretos. No entanto, o Bing, que não retornava nenhum resultado para a palavra incorreta, começou a exibir o primeiro resultado do Google para os seus usuários sem oferecer a forma certa da grafia.

[SAIBAMAIS];Essa experiência confirma nossas suspeitas de que o Bing utiliza uma combinação do Internet Explorer 8, que pode coletar dados sobre o que as pessoas pesquisam e sobre os resultados nos quais elas clicam no Google. Em outras palavras, alguns resultados do Bing parecem uma imitação barata do Google;, escreveu Amit Singhal, engenheiro do Google, no blog da empresa. Bastou a divulgação para que a briga ficasse ainda mais feia. ;Não sejam tolos. O Google quer mudar de assunto, pois estão sob investigação nos Estados Unidos e na Europa por manipular resultados;, disse Frank Shaw, diretor de comunicação da Microsoft no Twitter. ;O Google também coleta informações dos usuários pelo Chrome e pelo Android. É o sujo falando do mal lavado?;, defendeu Shaw.

Quem sai perdendo nessa disputa é o usuário dos serviços de buscas. Ele simplesmente tem reduzidas as opções para encontrar resultados diversos na internet ; comprovadamente, um vasto mundo. Além disso, as duas empresas coletam informações sobre os hábitos dos usuários. Isso facilita o uso das ferramentas, como localizar apenas resultados da região onde está sendo feita a busca, mas pode expor a vida dos que utilizam a web. Mais de 100 milhões de usuários do Facebook tiveram, no ano passado, informações pessoais expostas após um erro no sistema da rede social. Nada impede que o mesmo possa acontecer com aquilo que o Bing e o Google recebem dos usuários.

Para o presidente da Comissão de Ciência e Tecnologia da Ordem dos Advogados do Brasil, seccional de São Paulo, Vítor Hugo Freitas, a briga ainda vai longe. ;Essa situação entre Google e Microsoft só será resolvida quando as empresas apresentarem os códigos dos serviços de busca. Vale lembrar que essas histórias de processos são antigas e ocorrem desde 1988, quando a Apple acusou a Microsoft de copiar o sistema Macintosh;, lembra Freitas.

A briga entre as duas se estende também pelo campo dos aparelhos de smartphones, sistemas operacionais e até mesmo nomes populares. Desde agosto de 2008, quando a Apple lançou a loja de aplicativos App Store, a empresa de Steve Jobs tenta registrar o termo como marca da empresa. A primeira a se impor contra o registro foi a Microsoft. Em entrevista à rede britânica de televisão BBC, o conselheiro da empresa Russell Pangborn disse que o termo é muito genérico e comumente usado pelas empresas e indivíduos que oferecem aplicativos. ;É lógico que a Microsoft perde uma fatia de mercado com o registro do nome. Por isso, a empresa vai correr atrás judicialmente para tentar reverter a situação;, explica Freitas , da OAB de São Paulo.

Patentes
Os processos se multiplicam também em relação ao registro de patentes. A última investida nesse campo foi feito pela LG. A empresa sul-coreana entrou com um processo na Comissão Internacional de Comércio dos EUA (ITC) para barrar a importação dos consoles PlayStation 3 para lá. A LG alega que o tocador de Blu-ray do PS3, console da Sony, viola duas patentes de propriedade da marca.

O cofundador da Microsoft, Paul Allen, também reivindica a posse de patentes. A empresa de Allen, a Interval Licensing LLC, reabriu um processo contra AOL, Apple, eBay, Facebook, Google, Netflix, Office Depot, OfficeMax, Staples, Yahoo e YouTube por infringirem quatro patentes que registravam processos de busca avançada em sites da internet. Em nota, a empresa disse que esses documentos são fundamentais para companhias de e-commerce e para os serviços de busca.

A Apple também está na Justiça contra duas empresas de telefonia, acusadas de quebrar patentes desenvolvidas para o iPhone. Contra a HTC, o processo da companhia de Jobs abrange cerca de 20 patentes. ;Achamos salutar haver concorrência, mas os concorrentes devem criar sua própria tecnologia original, não roubar a nossa;, disse Steve Jobs, CEO da Apple, em nota. Contra a Nokia, a relação é mais complicada. Ao mesmo tempo que Jobs diz que a empresa copiou as patentes, a finlandesa fabricante de celulares acusa a Apple de violar 13 delas, inclusive a que possibilita a inclusão de uma loja de aplicativos dentro do telefone, como é o caso da App Store.

Nesse caso específico, as brigas podem prejudicar a distribuição de produtos e impedir que novas tecnologias cheguem às mãos do consumidor. A Apple, por exemplo, tem a posse da patente que permite enxergar imagens em 3D sem o uso de óculos, independente do ângulo de visão do consumidor. Mas a empresa não divulga se há planos para utilizar a tecnologia e, por isso, ela não pode ser utilizada por outras companhias sem que haja consentimento da Apple.

Resultados precisos
Um levantamento da consultoria Experian Hitwise mostra que, em janeiro, o Bing ofereceu resultados mais precisos nas buscas que o Google. De acordo com o estudo, 81% das buscas feitas no portal da Microsoft levaram os usuários a realmente visitar os sites pesquisados, enquanto que o índice foi de 65% para o Google. No entanto, apesar do resultado, o Google continua liderando a preferência do público. De todas as pesquisas feitas nos Estados Unidos, 67,95% foram realizadas pelo site de Larry Page. O Bing vem logo atrás, com 27,44%.

Desfibrilador touchscreen?
O nome iPad ainda é motivo de briga no Brasil. O tablet da Apple enfrenta a concorrência de um desfibrilador de nome I-PAD Fast. O Instituto Nacional de Propriedade Industrial (Inpi) disse, na época do lançamento, que a empresa de Steve Jobs só teria problema se o produto pertencesse à área médica, como acontece com o desfibrilador. Os advogados da marca Transform, responsável pelo aparelho, prometem continuar a disputa.

Presidente da comissão de ciência e tecnologia da OAB-SP, Vítor Freitas, fala sobre a briga Google e Microsoft

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