Tecnologia

Livrarias virtuais começam a ganhar fôlego, mas preços ainda precisam cair

Enquanto a popularização não chega, sites internacionais garantem livros a custo mais baixo para os usuários

postado em 10/03/2011 17:27
O administrador Bruno Viana compra, em média, quatro livros por mês em lojas virtuais estrangeirasUma estudante de direito carrega pilhas de livros, pega um ônibus e se dirige à faculdade. No trajeto, ninguém se oferece para segurar o material. Quando ela consegue se sentar é quase impossível aproveitar o tempo livre para ler um pouquinho: afinal, no balanço do ônibus, cada curva é uma aventura para vencer as páginas.

Era assim, há 10 anos, com a advogada mineira Raquel Ferreira. Leitora compulsiva, ela tinha que escolher o que levar para a universidade. As compilações legais foram a alternativa. Poderia ser diferente se ela tivesse em mãos, na época, um e-reader. Na leveza do leitor de livros eletrônicos, é possível carregar uma biblioteca inteira. Isso Raquel descobriu há dois meses, quando adquiriu o aparelho. Em uma verdadeira lua de mel com o dispositivo, a advogada conta que comprou o aparelho por US$ 350 (com impostos), em uma viagem aos Estados Unidos, sem nem mesmo conhecer todo o potencial.

Não apenas livros, mas principalmente arquivos de estudo e material de trabalho integram a biblioteca virtual de Raquel, que, no entanto, reclama que os livros digitais são caros no Brasil. ;A diferença de preços entre os impressos e os digitais ainda é pequena. Por isso, por enquanto, baixo somente obras de domínio público disponíveis em bibliotecas virtuais e códigos de lei;, explica. Seu e-reader Daily Edition, da Sony, é compatível com documentos do Office, PDFs e e-Pubs (abreviação de publicações eletrônicas), padrão internacional de e-books. ;No aparelho não sinto o mesmo cansaço da leitura no PC. Posso ficar horas lendo. Mas, ainda assim, o livro impresso tem aquela sensação única de folhear as páginas, do cheirinho... Acredito que cada um tem o seu lugar. Gosto dos dois;, afirma a advogada.

Incentivo à leitura
Desde julho do ano passado, o administrador mineiro Bruno Henrique Viana também desfruta das vantagens de um e-reader. Com seu Kindle Wi-Fi, ele conta que compra, em média, quatro livros por mês na Amazon. ;Só adquiro obras em inglês, muitas na área profissional e alguns romances. Com ele, passei a ler mais. Também entro em sites de notícias e acompanho as principais novidades;, detalha. Vinte dias depois de adquirir seu equipamento, o administrador comprou um iPad.

Comparando a leitura nos aparelhos ele afirma: ;O iPad me cansa, eu não consigo ficar atento à tela por muito tempo. Com o Kindle, leio a noite inteira;. Questionado sobre a necessidade de ter somente um dos gadgets, a dúvida diminui. ;Acho que escolheria o iPad, porque tem muitas outras funções.;

Dentre as peripécias de seu Kindle, ele destaca o fato de poder sublinhar trechos do livro e mandar diretamente para as redes sociais. ;É tão perfeito que o tempo de virar a página apertando o botão é o mesmo que se gasta em um livro físico. As editoras brasileiras ficam tentando lançar um e-reader. Por que não comercializam o que já existe de uma vez? Os aparelhos criados ficam mais caros e, muitas vezes, se revelam uma porcaria. Cobrar R$ 800 num e-reader nacional é querer dar um tapa na sua cara;, ressalta.

Numa ida a um shopping, ele conta que viu uma obra em uma livraria no valor de US$ 49. Imediatamente, procurou sua versão digital, que saiu por US$ 3,99. ;Demora 30 segundos para baixar um livro. Você cria uma conta e o seu cartão fica associado ao seu cadastro. Você acha o que quer, é só clicar em comprar para receber um e-mail de confirmação;, explica o administrador.

A falta de livros em português na Amazon não chega a ser um problema para ele, mas mesmo assim já entrou em contato com um escritor brasileiro para saber a causa da ausência da versão digital de uma de suas obras. Segundo Bruno, o autor respondeu que queria fazer essa convergência, mas a empresa (detentora da obra) não autorizava. Na opinião dele, as editoras brasileiras estão anos-luz atrás das norte-americanas. ;Elas têm que aprender que é com o volume (de livros eletrônicos) que se ganha;, afirma.

Acervo aumentado
Com o lançamento do iPad no ano passado, a corrida pelo mercado de livros digitais foi intensificada. A Livraria Cultura, que tem cerca de 3 milhões de títulos impressos, também resolveu apostar no mercado virtual. Ela disponibiliza 2 mil e-books em português e, em contrapartida, oferece uma média de 140 mil títulos em inglês. Mauro Widman, coordenador da equipe de e-books da livraria, conta que a entrada no novo mercado não afetou as vendas dos livros impressos. ;Não chega a 1% o faturamento pela venda de e-books. Ainda não é expressivo. Mas a cada dois meses ele tem dobrado. As vendas de janeiro, por exemplo, foram equivalentes às dos cinco primeiros meses do negócio;, explica.

Ele defende duas abordagens para incentivar a popularização dos livros eletrônicos entre os brasileiros. A primeira seria oferecer um maior acervo em português e a segunda, tornar o preço dos equipamentos mais acessível. ;Tem que ter conteúdo e o dispositivo para ler. Cada vez que aumentamos o acervo de livros em português, aumentam bastante as vendas;, completa. O fundador da Gato Sabido acredita que, neste caso, o ovo nasceu antes da galinha. ;Ninguém vai comprar leitores digitais sem ter títulos em português disponíveis na rede;, enfatiza Duda Ernanny.

Em geral, os livros eletrônicos têm valor inferior ao impresso. Segundo Mauro Widman, os e-books chegam a ser entre 15% e 20% mais baratos do que as obras físicas na Livraria Cultura. A versão de A cabana sai por R$ 16,99, enquanto o impresso custa R$ 24,90. O título 1822 sai por R$ 32,90, em sua edição eletrônica; e por R$ 44,90, em formato físico.

Na Livraria Saraiva, que também entrou na onda digital e tem 2,1 mil livros em português, o e-book é taxado a 70% do preço da versão impressa do mesmo conteúdo, de acordo com Deric Degasperi Guilhen, diretor de produtos digitais. ;O preço médio do livro eletrônico gira em torno de R$ 20, para uma obra digital de interesse geral, e R$ 30 se o livro for de conteúdo técnico;, explica. Mas ele pondera que a regra não é incontestável: ;Há ocasiões em que o valor da versão digital deve ser menor que os 70% do impresso, bem como há casos em que o conteúdo sob o suporte eletrônico pode ser mais caro que o livro impresso, graças às capacidades de interatividade;, complementa.

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