Tecnologia

Minas entra na briga para fabricar iPad

Minas entra na disputa para receber investimentos de US$ 12 bilhões que a Foxconn pretende fazer no Brasil para fabricar o tablet da Apple. Sul do estado é candidato

postado em 14/04/2011 19:18
Minas está na briga para receber o prometido investimento de US$ 12 bilhões da empresa taiwanesa Honhai, proprietária da Foxconn, que anunciou a construção de uma fábrica de displays no país, ainda sem local definido, com criação de 100 mil empregos, dos quais 20 mil seriam para engenheiros. A unidade tornará possível a montagem do iPad, da Apple, no país, com componentes nacionais. O Vale da Eletrônica, no Sul de Minas, é candidato para receber o aporte. ;Naturalmente é uma região que pretende sediar esse investimento;, afirma o secretário estadual de Ciência e Tecnologia, Nárcio Rodrigues.

Minas disputa com dois estados: São Paulo e Rio de Janeiro. São Paulo é apontado como favorito, pois conta com duas unidades da Foxconn, uma em Jundiaí e outra em Indaiatuba. Ontem, o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Fernando Pimentel, afirmou que a fábrica deve ser instalada em São Paulo, mais precisamente em Jundiaí, mas não há nada acertado e a decisão deve ser comunicada apenas no mês que vem.

[SAIBAMAIS]Já o Rio de Janeiro tem os bilhões de Eike Batista, que desde o fim do ano passado manifesta a intenção de trazer uma fábrica da Apple para o Brasil. Especula-se que a empresa taiwanesa deseja um sócio local, o que a aproximaria do grupo de Eike. Outro atrativo é o complexo do Porto de Açu, em São João da Barra, estrutura logística do grupo de Eike.

Porém, o secretário Nárcio Rodrigues aponta a localização estratégica do Vale da Eletrônica, no Sul do estado, na divisa com São Paulo, como um fator essencial. ;Temos também oferta de mão de obra qualificada, com diversas universidades;, afirma. O secretário calcula, entretanto, que, pelo número de empregos gerados, ;qualquer local que abrigar a empresa terá que preparar trabalhadores;. Além de receber a fábrica de displays, o secretário acredita que a região do Vale da Eletrônica pode desenvolver outras tecnologias para dar suporte ao complexo industrial. Somente em Santa Rita do Sapucaí o número de empresas de base tecnológica dobrou nos últimos oito anos, passando de 72 para cerca de 150.

Uma potencial candidata é a Fênix Indústria de Eletrônicos, em Santa Rita do Sapucaí, ativa na cidade desde setembro do ano passado. A fábrica emprega 500 funcionários e recebeu investimentos de R$ 37 milhões. A Fênix tem capacidade para cinco linhas de montagem, sendo que três estão prontas, e a quarta está em fase de conclusão e produz componentes como placa-mãe, modem, memória e placas para celular e smartphones. Nárcio Rodrigues também destaca a presença de outras grandes empresas em cidades próximas a Santa Rita do Sapucaí. É o caso de Itajubá, que conta com fábrica para montagem de helicópteros da Helibras, e de Extrema, onde a Panasonic está construindo uma fábrica de lavadoras de roupa e geladeiras.

Compensação

A fábrica da Foxconn, na visão de Rodrigues, pode ser uma compensação do governo federal por não ter mantido o compromisso da Petrobras na instalação da fábrica de ácido acrílico, em Ibirité, na Região Central do estado. A construção da unidade estava orçada em R$ 600 milhões. ;A última visita do presidente da Petrobras (Sérgio Gabrielli) a Belo Horizonte jogou uma ducha fria nos planos do estado. Minas está sendo preterida;, afirma Rodrigues. Na análise do secretário, que até o mês passado era presidente do PSDB mineiro, a presidente Dilma Rousseff precisa mostrar que tem ;carinho; por Minas. ;Vamos levar essa questão para a negociação;, afirma.

Porém, o secretário ainda não tem detalhes. ;Não sei como será a definição. Esse assunto brotou ontem (anteontem);, ressalta. Rodrigues disse que se reuniu duas vezes com o ministro da ciência e Tecnologia, Aloízio Mercadante, neste ano e não foi informado sobre os planos da Foxconn. Foi Mercadante que fez o anúncio do investimento e disse estar negociando com a empresa taiwanesa há três meses. ;Acredito que ninguém foi consultado, pois faltava a confirmação do investidor. Foi tratado em sigilo para não gerar expectativa e também não colocar a decisão em risco;, pondera Rodrigues.

Empresa vê país como estratégico

A Foxconn divulgou uma nota nessa quarta-feira e destaca que só fará um anúncio oficial após a aprovação do conselho e das autoridades responsáveis. Além disso, ressaltou que o país é estrategicamente posicionado para abastecer o mercado latino-americano. Já o presidente da Associação Brasileira da Indústria de Eletro Eletrônica (Abinee), Humberto Barbato, vê com cautela o investimento, pois considera que os números são exagerados.

A Foxconn já foi duramente criticada pela forma como trata os funcionários. No ano passado foi noticiada mais de uma dezena de casos de suicídios de empregados em unidades da China. A empresa é uma das maiores fabricantes de componentes eletrônicos do mundo. Entre os produtos mais famosos produzidos por ela estão o iPod, iPhone, iPad, da Apple; os videogames Playstation, da Sony; Wii, da Nintendo, e Xbox 360, da Microsoft.

No Brasil, a Foxconn pode se beneficiar de incentivos fiscais. Isso porque o governo prepara uma emenda à Medida Provisória (MP) 517, que deverá ser votada na Câmara logo depois da Páscoa, classificando os tablets como computadores e notebooks, de forma a que a indústria possa usufruir dos benefícios fiscais da legislação (como Lei do Bem, Lei de Informática e Zona Franca de Manaus) e o consumidor consiga pagar menos pelo produto. O tablet é considerado hoje um palm top e paga mais impostos.

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação