postado em 01/05/2011 06:50
Oitava maior economia do mundo e um dos principais países emergentes, o Brasil chama a atenção como mercado consumidor. O poder de compra do brasileiro consolidou este ano a sexta posição global, logo depois do Reino Unido, graças à combinação da valorização do real e sete anos seguidos de crescimento da massa de salários. O resultado disso aparece na quantidade e na qualidade dos produtos e dos serviços que o consumidor está colocando no seu ;carrinho; ; uma variedade de fazer inveja a europeus. Aliás, quem tem um passaporte nacional virou o queridinho das empresas estrangeiras.Os números puxados pelo crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) e pela política de ganhos reais do salário mínimo contrastam com os estragos deixados nas nações desenvolvidas pela crise econômica de 2008. Para especialistas em varejo, os resultados práticos desse quadro são vistos pela disponibilidade recorde de produtos no mercado doméstico. Multinacionais passaram a tratar o consumidor brasileiro como um dos seus alvos preferenciais, ampliando redes de distribuição e agregando serviços. Outras desembarcam aqui em busca de margens de lucro maiores ou para compensar as perdas de suas matrizes.
Conforme o Programa de Comparação Internacional (PCI), do Banco Mundial ; que analisa economias de 146 países ;, o Brasil responde por metade da economia da América do Sul ao se considerar o critério da Paridade do Poder de Compra (PPP). Por ele, o bolso do consumidor local tem para o varejo peso semelhante aos de ingleses, franceses, russos e italianos. O PPP, que compara o valor da moeda local com o que se pode comprar em dólar, serve como indicador do padrão de vida global.
Mercado de luxo
Carlos Ferreirinha, consultor especializado em consumo, lembra que o mercado de luxo, sozinho, já movimenta US$ 6 bilhões no Brasil. Ele acha que o interesse internacional pelo país tende a crescer porque ainda há um potencial inexplorado em áreas como perfumaria, cosmética e culinária. Além disso, acredita que as vendas, atualmente concentradas no Sudeste, tendem a crescer mais em outras regiões. Outro fator de mudança está nos hábitos de consumo, em processo de aprimoramento.
Um exemplo das novas tendências está nas vendas de cervejas premium no Brasil, um negócio que cresceu 20% em 2010, atingindo US$ 300 milhões. Há 10 anos, os rótulos diferenciados representavam 2% das vendas totais da bebida. Hoje, são 5%. Em razão do câmbio e do maior conhecimento sobre a oferta variada, além da renda crescente, as opções importadas impulsionam o consumo dos produtos diferenciados.
Números do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que a classe C, ou a ;nova classe média;, com renda de quatro a 10 salários mínimos, saiu de 37% da população em 2002 para 49,7% em 2009. São 95 milhões de pessoas que passaram a engordar faixas de consumo antes restritas. Outro dado curioso desse avanço é que o país pulou da oitava posição em lançamentos de embalagens em 2005 para a quarta em 2009, atrás apenas de Estados Unidos, Japão e Reino Unido.
Com melhores salários e ampla oferta de crédito, muitos brasileiros fizeram suas primeiras compras de artigos sofisticados recentemente. Mas não fosse a pesada carga tributária ; que chega a 55% de um automóvel nacional, por exemplo ;, o país poderia subir mais uma posição no ranking mundial do consumo. Ainda assim, a capacidade de compra deverá continuar orientando estratégias de empresas locais e estrangeiras: a marca alemã Kare, de mobiliário e acessórios de decoração, inaugura no próximo mês, em São Paulo, uma loja com catálogo de 5 mil produtos de estilos variados.
Mais exigente
Dados do Ministério do Trabalho divulgados há duas semanas mostram que a massa salarial continuou engordando em março, a despeito da taxa de ocupação muito baixa, na casa de 6%. Mais do que empregos formais, o que os especialistas apontam como maior fator de pressão sobre os preços é mesmo o aumento médio dos salários ; combustível para o consumo que o governo quer conter.
O IBGE informou que, só no mês passado, o rendimento médio real do trabalhador subiu 3,8% na comparação anual, atingindo R$ 1.557, maior valor para março desde 2002. A massa de rendimento médio dos ocupados (R$ 34,8 bilhões) cresceu 6,9% em relação a março de 2010. O governo estima que a massa salarial ainda vai crescer 10,98% este ano e a uma taxa anual acima de 9% até 2014.
Pela fórmula aprovada este ano pelo Congresso, o reajuste do piso salarial deve levar em conta o PIB de dois anos antes mais a inflação acumulada do ano anterior. Na conta para 2012, entram o crescimento de 2010 (que ficou em 7,5%) e o percentual acumulado do Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), que deve ficar acima de 6%. Com isso, especialistas calculam que mais de R$ 9 bilhões deverão ser despejados na economia no próximo ano.
Independentemente da evolução da renda, Marco Quintarelli, especialista em varejo, lembra que o consumidor está cada vez mais exigente. ;Graças a um maior acesso à informação, os compradores prestam mais atenção a aspectos como inovação e responsabilidade ambiental;, ilustra.
"Graças a um maior acesso à informação, os compradores prestam mais atenção a aspectos como inovação e responsabilidade ambiental;
Marco Quintarelli, especialista em varejo
Acima da inflação
Para o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), 2010 foi o melhor ano para o aumento da renda do trabalhador desde 1996. Depois de uma década e meia de disputas salariais, mais de 80% dos dissídios coletivos resultaram em reajustes acima da inflação ; algo entre 2 e 4 pontos percentuais de ganho real. Apenas 5% das categorias não garantiram a reposição das perdas inflacionárias. O salário médio subiu entre 5% e 7% na comparação com 2009.