Espalhar pela internet que a empresa tem potencial e produtos de sucesso não basta. É preciso ter uma vitrine para que os consumidores conheçam a marca e possam tirar dúvidas sobre os serviços. As páginas na rede estão se tornando obrigação para os pequenos e médios empresários. E eles estão dispostos a investir. De acordo com uma pesquisa da IBM, até o fim do ano, as pequenas e médias empresas devem colocar 81% do orçamento em tecnologia da informação (TI). Grande parte deve ser aplicada na construção de um espaço na web.
A fim de auxiliar e incentivar os empreendedores nesta jornada, empresas conhecidas na rede se unem para que a ação dê certo. O projeto Conecte seu Negócio, lançado pelo Google em parceria com o Sebrae, a HP e o site de hospedagem Yola, deve estimular os 5 milhões de empresários de pequenas empresas a criar uma página.
;O principal benefício é poder ampliar a divulgação, aumentando a visibilidade e a possibilidade de realização de novos negócios. Assim como hoje o celular está completamente disseminado, não se pode imaginar no futuro empresas que não estejam na internet;, explica Luiz Barretto, presidente do Sebrae.
Com um site desde 2008, a empresária Lilian Pelliccione, proprietária de um restaurante na Asa Sul, acredita que a criação de uma página na web tenha sido uma escolha acertada.
;Quando os clientes não têm muita noção do que se trata o empreendimento e o tamanho dele, eles ficam receosos. No site, dá para ver o ambiente, se é arrumado ou muito caro. Eu tive boas surpresas com a criação da página. Inclusive já fechei muitos eventos no restaurante por conta do site. Há também pessoas que viraram clientes só por causa disso;, explica Pelliccione.
A maior preocupação das empresas são com os gastos que um site pode gerar. ;O único investimento é o registro do domínio eletrônico, que fica em torno de R$ 30 por ano;, aponta Barretto. No projeto do Google, a parceria com o Yola oferece a criação de uma página com as ferramentas e a hospedagem gratuitas.
;Considero a página um investimento. Estamos passando por uma reformulação para que o site fique um pouco mais humanizado. Vamos integrar com as redes sociais e incluir um blog para que eu possa falar diretamente com os clientes. Isso entra no meu custo mensal de uma forma muito tranquila e com um bom retorno;, ressalta a empresária Pelliccione.
A lista de benefícios para a PME que começa um site é grande. A consultoria McKinsey Global Institute divulgou um estudo no qual revela: os empresários que utilizam a web nos negócios conseguem aumentar a produtividade em até 10%, além de obter taxas de crescimento até duas vezes maiores em relação àquelas que não entraram na rede. ;Para utilizar a internet da melhor maneira, é necessário que o empresário faça um planejamento, defina estratégias e faça uma análise de mercado. Esstes são os primeiros passos para quem ingressa neste mundo virtual;, ressalta Barretto.
Após montar toda a estrutura, chega a hora de gerenciar o site e também os negócios com a ajuda da internet. Nessa área, entram a computação em nuvem e a virtualização de desktops. A primeira conta com a adesão de 59% das empresas no Brasil, de acordo com a consultoria Avanade. Já a virtualização tem sido apontada por 77% dos funcionários das companhias como responsável por um aumento de produtividade, segundo a Citrix. ;Ao contrário dos que os empresários pensam, os dois sistemas não geram custos altos. Se, por exemplo, instalar o Windows Server 2008, o cliente vai pagar a licença e não vai precisar de mais nenhum outro software para fazer a virtualização. O valor é baixo;, explica Marcelo Rezende, diretor da Promisys, empresa especializada em soluções de TI para PMEs.
Cortar os custos
O preço para aderir a essas duas soluções também é compensado com a diminuição dos custos de gerenciamento das empresas. Mesmo companhias pequenas, com poucos computadores, acabam investindo muito em servidores, mas nem sempre utilizam toda a capacidade.
A computação nas nuvens pode fazer com que isso seja mais bem aproveitado, pois todos os arquivos ficam armazenados em um servidor fora do local de trabalho e é cobrado apenas a parte utilizada. O mesmo ocorre com a virtualização, que traz ainda a mobilidade como vantagem.
Tanto o Google quanto a Microsoft já lançaram sistemas para auxiliar nessa transição do real para o virtual. A gigante das buscas oferece, além do Gmail, o Google Cloud Connect, que permite edição simultânea em Word, Excel e PowerPoint. Para as médias empresas, o Google oferece o Merchant Center, no qual é possível disponibilizar os produtos da companhia para que eles possam ser facilmente encontrados nas buscas. Já a Microsoft lançou o Office 365, que alia as versões em nuvem dos produtos e oferece e-mail, comunicação e colaboração, simultaneamente e pela internet.
Qualquer domínio
O ICANN, órgão regulador de endereços na internet, decidiu que empresas, cidades e organizações poderão registrar domínios genéricos na rede. A decisão permite que uma pessoa crie o endereço .brasilia, por exemplo. No entanto, comprar um domínio desses pode sair caro (US$ 185 mil) e os interessados devem apresentar uma boa justificativa para solicitá-lo.
Entrevista
A Giuliana Flores enfrentou a bolha da internet e conseguiu passar da condição de pequena para grande empresa. Como foi o trabalho realizado para alcançar esse resultado?
Antes de começar na internet, vendíamos flores por catálogo. Quando veio a web, pensamos que o modelo de negócios poderia dar mais certo ainda, mesmo ainda desconfiando do potencial da rede. Seis meses depois do primeiro site, ele passou por uma mudança completa para apresentar melhor os produtos. E aí conseguimos bons resultados. Em seguida, tivemos mais três alterações da página, tudo com muito planejamento. Para chegar a esse ponto, com um crescimento médio de 30% anual, foram 11 anos de muito trabalho na rede.
Enfrentar grandes empresas na internet parece ser complicado para as PMEs, que sempre estão com o orçamento apertado. Qual é a melhor maneira para que elas cresçam e apareçam na web?
A segmentação. Focar em apenas um tipo de negócio é a grande jogada do momento. Se o empresário tem a possibilidade de vender apenas um produto ou serviço, esse é o melhor caminho, pois, se quiser vender de tudo, ele terá que enfrentar uma concorrência muito maior. Se alguém comercializa apenas grampeadores, por exemplo, seja o melhor vendedor nesse ramo. Os consumidores vão se lembrar da marca na hora da compra. É preciso também se diferenciar, independentemente do produto. Por exemplo, se o concorrente pode entregar apenas em dias da semana, tente fazer a entrega também nos fins de semana.
A criação de páginas da internet são boas vitrines para as PMEs mostrarem seus produtos. O que essa página deve ter para atrair
os consumidores?
Quanto mais simples e rápida for uma página, melhor. Não adianta ter um site muito poluído, pois isso dispersa o cliente. Tem que ter planejamento também. É preciso saber onde colocar as principais informações. O que o internauta vai querer encontrar primeiro é o produto. Os detalhes podem ser colocados em outras páginas. Há vários institutos que dizem: quanto menos cliques o cliente precisar dar para fazer compras ou serviços, maiores as chances de elas se concretizarem.
As redes sociais e os sites de compras coletivas são um bom
investimento também para essas empresas?
As redes sociais são uma das grandes modas, mas também uma questão delicada. É um canal de relacionamento, o empresário só deve entrar se tiver condição de dar atenção a elas. Se a empresa é muito pequena, não se cadastre. Espere até a empresa se estabelecer. As redes são canais para humanizar a marca. Se não há pessoas para responder ou comentar, o usuário vai achar que aquilo está abandonado e isso pode tirar credibilidade da marca. Já as compras coletivas são interessantes do ponto de vista de investimentos. Esses sites geram um número de vendas extremamente alto, mas deve-se levar em conta a margem de lucro do produto que será oferecida, para não causar prejuízos.
Quais dicas são importantes para os pequenos e médios empresários que estão entrando no mundo virtual?
Algo que causa muita ilusão é o fato de os empresários acharem que basta ter um site que o problema está resolvido. É preciso investir para poder acontecer na internet. Se está começando agora, faça investimentos em publicidade. Podem ser pequenos, mas devem ser feitos. É preciso que os consumidores saibam da existência da página.