postado em 29/07/2011 10:07
Eletrônicos em sala de aula já são conhecidos e plenamente dominados pelos alunos ; ainda que, com frequência, não se possa dizer o mesmo quanto aos professores. A novidade é que, de atrativos auxiliares do estudo, os computadores tomam agora ares de material escolar, em substituição ao lápis, às canetas e aos cadernos. Recentemente, o estado de Indiana, nos Estados Unidos, acabou com a exigência de que as escolas ensinem escrita cursiva aos alunos. Com isso, totalizam-se 47 estados americanos que recomendam o uso da digitação em sala de aula. Contudo, o computador não substituirá integralmente a escrita manual, que poderá ser em letra de forma ou um misto das duas. Ainda assim, o crescente abandono da escrita à mão, substituída pela letra impressa na tela, dá sinais de que está cada vez mais perto o fim de cadernos, lápis e borrachas. No Brasil, a adoção ampla de notebooks como material escolar ainda está distante, mas o assunto já gera discussões entre pais, professores e alunos.O estudante Leonardo Dias, 17 anos, não gosta de ter que escrever à mão. Para ele, o computador, além de mais rápido, tem maior praticidade e comodidade. ;Sempre podemos mandar uma cópia do que escrevemos por e-mail, o que não acontece com o papel.; Leonardo considera ainda sua caligrafia ;feia;, devido ;à pressa;. Ele estuda para o vestibular e tem que escrever bastante à mão. Apesar da preferência pela digitação, o estudante reconhece a importância de pegar no lápis e na caneta. ;Redações e textos precisam ser escritos à mão e uma escola que tem um computador individual não permite que o aluno se concentre ou trabalhe sua escrita.;
A concentração em sala de aula também divide opiniões no tocante ao uso dos computadores pelos alunos. A coordenadora pedagógica do colégio Sigma, Silvana Queiroz, chama atenção para a necessidade de o ensino acompanhar o desenvolvimento tecnológico do mundo moderno. Para a pedagoga, ainda é cedo para dizer se os computadores em sala de aula serão prejudiciais aos alunos. ;É um recurso didático que atrai muito as crianças e todo educador deve estar aberto às novidades.; Segundo Silvana, a tecnologia não dispersa o aluno; ao contrário, ajuda aqueles com deficit de atenção a compreender melhor os conteúdos estudados.
Para a calígrafa Fátima Montenegro, o que ocorre, porém, é o inverso. Escrever à mão, segundo ela, é extremamente importante para o desenvolvimento da criança e revela muito da personalidade. ;A letra é pessoal, trabalha a coordenação motora fina, a concentração e a percepção. Tirar isso do estudante em fase de alfabetização, por exemplo, seria fazê-lo sair do pré-escolar direto para o primeiro grau. Pular etapas.;
Para Fátima, o contato do aluno com lápis e papel e o desenvolvimento da escrita cursiva são essenciais. A tecnologia é eficiente como auxiliar, mas não como principal meio para a aprendizagem, avalia. ;A cursiva é uma letra que segue seu curso. É diferente da letra impressa, é uma identidade. Não podemos igualar a caligrafia de todo mundo com a letra de forma ou ficarmos dependentes de um computador. No dia que der um ;tilt; em tudo, como ficaremos se não soubermos mais escrever?;
Sem excesso
Opinião similar à da calígrafa tem a bancária Merity Bergamaschi. Mãe de três filhos, dois deles no ensino fundamental, ela defende o equilíbrio entre o ensino ;supercomputadorizado; e o tradicional. Mesmo assim, para Merity, papel, lápis e borracha sempre continuarão sendo essenciais. ;Tirar o caderno da criança é cortar o seu desenvolvimento. Hoje, tudo vem muito pronto, é só pegar na internet e imprimir. Às vezes, não é preciso nem pensar.; Apesar das facilidades tecnológicas, o filho caçula, de 6 anos, adora escrever à mão. O irmão dele, de 10, é adepto do teclado do computador. Para equilibrar, a bancária acredita que o bom senso é a melhor saída. ;Não podemos ignorar que um auxílio tecnológico é, com frequência, bem-vindo, afinal, é o mundo em que vivemos.;
O publicitário Fred Gallo é um dos que encontram o meio-termo entre os traços manuscritos e as teclas do computador. Quando escreve à mão, acha a própria letra feia e difícil de entender, enquanto que, ao digitar, as ideias ficam mais organizadas, na opinião dele. Além disso, têm estética própria. ;Gosto da noção que você tem da palavra escrita já com uma tipologia específica. Você tem total noção de tamanho, tom e personalidade do que escreveu, coisas importantes dentro da publicidade.; A liberdade de ter um lápis ou uma caneta sempre à mão, contudo, faz parte do processo criativo no trabalho. ;Fico com um bloco de papel e um lápis perto, pois estou o tempo todo digitando algo e desenhando simultaneamente.;
Para o estudante Renato Pereira, 23 anos, a prática da escrita cursiva é extremamente importante para a concentração e as tarefas do dia a dia, mesmo que o computador seja mais rápido e prático. Ele atribui sua vitória em dois vestibulares ao curso de caligrafia que melhorou sua escrita. Antes, ele até se considerava apto para entrar na faculdade, mas a caligrafia atrapalhava na hora da prova. ;Eu era bom, tinha conteúdo, mas a letra atrapalhava, não conseguia colocar as ideias no papel daquele jeito.;
Teorias mais radicais sugerem o fim de cadernos e anotações à mão em classe, mas a verdade é que a preferência varia muito entre os alunos. Portanto, é difícil prever se os computadores vão substituir o papel nas escolas. Para a pedagoga Silvana Queiroz, seja na tela e no teclado ou nas linhas de papel pautado, o importante é que a grafia esteja correta, sem erros de português. ;Não importa tanto onde ele vai escrever, desde que escreva bem.;