Mesmo na era digital, ainda é comum encontrar pessoas que ficam perdidas diante da tela do computador, do caixa eletrônico ou de qualquer outro dispositivo que desempenhe um serviço virtual. Com incontáveis ícones, janelas e cliques, a confusão é tanta que, nessas horas, o usuário pode sofrer um bloqueio. Pensando em minimizar essa dor de cabeça, um projeto de doutorado da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) explorou uma técnica de animação baseada na manipulação de imagens fotográficas de uma face real. É uma espécie de atendente virtual que pode tanto ensinar a navegar em determinado sistema, como atuar como ator, professor e até repórter.
A técnica, comumente chamada de animação 2D, traz como vantagem de o avatar possuir uma aparência natural. Além do visual, o sistema desenvolvido focou na reprodução da dinâmica dos movimentos articulatórios da fala para o português do Brasil. O professor José Mario de Martino, orientador do trabalho de Paula Paro Costa, conta que a técnica é pioneira porque leva em conta as particularidades da língua falada.
;É importante entender que cada língua possui seu conjunto de fonemas e características particulares de articulação. Dessa forma, foram estudados os padrões articulatórios da fala para a nossa língua;, explica. Segundo o especialista, o trabalho usou como matéria-prima a síntese da animação, uma base de 34 imagens fotográficas de diferentes posturas labiais, representando a articulação de conjuntos de sons do português.
Martino destaca que o objetivo do trabalho é tornar a interação com o computador e outros dispositivos eletrônicos mais parecida com a que se estabelece durante uma conversação face a face. De acordo com ele, a tecnologia desenvolvida buscou superar dois desafios fundamentais: a capacidade de a face virtual reproduzir movimentos articulatórios em harmonia e sincronia com o som acústico da fala, e a obtenção de uma face sintética de aparência não artificial.
Aplicações
;Já foi desenvolvido um sistema-piloto que vem sendo utilizado para demonstrações da tecnologia e para testes de avaliação do nível de videorrealismo das animações;, diz José Mario de Martino. O software utilizado nesse sistema, voltado para a plataforma desktop, já foi registrado e pode ser considerado pronto para o uso comercial. Mas cada aplicação exigirá as adaptações necessárias do sistema. Martino salienta que a tecnologia poderá ser utilizada para a criação de personagens ou atores virtuais em jogos ou vídeos comerciais; na criação de agentes personificados virtuais, como vendedores, tutores, atendentes de suporte, guias virtuais e apresentadores de notícias, e como ferramenta de estudo e treinamento de leitura labial. Dessa maneira, desde empresas de telecomunicação até as da área educacional ou de entretenimento podem se interessar pelo sistema.
O produto possui ainda características adaptáveis a plataformas limitadas em termos de memória e processamento, como celulares, smartphones, tablets e aparelhos codificadores de TV digital. É possível imaginar, por exemplo, uma aplicação que permitiria ao usuário de celular assinar um serviço de notícias sintetizado no próprio aparelho. ;Nesse caso, as notícias poderiam ser enviadas ao celular em formato de texto, com baixo custo de transmissão de caracteres, ao contrário do envio de conteúdo de vídeo, que é mais custoso;, mensura.
;Quando essa tecnologia vier à luz, ela será a combinação perfeita para os nossos negócios;, afirma Marcelo Santos, diretor da MKTecno, empresa de TI com sede em Brasília que criou o
Vendedon, uma ferramenta virtual que reúne várias lojas em um portal. Nesse modelo de mercado virtual, o lojista participante tem à disposição operações de captação, administração e venda na rede mundial de computadores por meio de ações de marketing individualizadas e cooperadas.
Para Santos, as vendas on-line sempre esbarram em um detalhe importante: a falta da presença humana. ;Hoje, nossos serviços têm, de forma abstrata, a presença de um vendedor. Mas se esse vendedor interagisse com o cliente, as vendas poderiam disparar;, acredita. Ele diz que outra barreira detectada nas vendas no mundo virtual é a desconfiança. Santos considera que a maioria das pessoas tem receio de comprar sem saber de quem está comprando. ;As novas tecnologias servem para dar maior confiança aos clientes na hora da compra e maior credibilidade aos empresários que trabalham com e-commerce;, acredita.
Facilidades
A assessora comercial Rogéria Marques, 32 anos, conta que, mesmo já tendo trabalhado em um banco, realizar transações em caixas eletrônicos pode ser uma tarefa complicada. Para ela, faltam instruções claras ou mesmo um funcionário do banco sempre por perto, para auxiliar os que têm mais dificuldades. ;Às vezes, tenho de ir até uma agência para resolver o que poderia ter sido feito no caixa;, reclama. Rogéria acredita que o sistema paulista ajudaria bastante nas transações. ;Vai diminuir o tempo gasto com essas tarefas. Vai me ajudar demais;, acredita.
Para o consultor da 2MD ; Mídia Marketing Digital Leandro Ladeira Neiva, a ideia dos pesquisadores da Unicamp é boa e, se realmente conseguir alcançar os objetivos prometidos, o mundo tecnológico terá uma ferramenta funcional e eficiente. ;Minha maior dúvida é a respeito da praticidade de manuseio. Eu acredito que qualquer ferramenta utilizada para o homem tem que ser prática e funcional, depois bonita e sofisticada;, destaca. Para Neiva, que se intitula um estudioso da arquitetura de informação, se o sistema for demorado ou complicado em relação aos atuais, vai acabar sendo criticado e cair em desuso.
Outra questão, que segundo ele deve ser analisada com muito cuidado, é a segurança da informação. O especialista salienta que de nada vai adiantar se não existir uma plataforma segura por trás do autoatendimento personalizado criado pelos pesquisadores. ;Se esses problemas já foram pensados e resolvidos, acredito que o público, em sua grande maioria, está cada vez mais aberto às novas tecnologias, independentemente de sexo, idade ou classe social;, opina.
A cientista política Suelle Paz, 30 anos, discorda. Para ela, que assume comprar tudo o que pode ser vendido pela internet ; de cama a árvore de Natal ;, a proposta do sistema pode ser cansativa. Suelle acredita que os sistemas atualmente empregados já contam com uma interface intuitiva, e um atendente virtual só atrapalharia as transações. ;Acho que seria uma chatice. Imagina um boneco falando tudo o que você tem de fazer? Haja paciência!”
Vale sinistro
Diversas pesquisas comportamentais mostram que, assim como as pessoas sentem empatia com representações visuais caricatas de seres humanos, como personagens de desenhos animados, elas passam a sentir repulsa quando essas figuras aproximam-se muito da aparência natural. Esse sentimento tem um nome e é estudado pela ciência. Trata-se do uncanny valley (vale sinistro), termo cunhado pelo especialista em robótica japonês Masahiro Mori na década de 1970.
Acesse o sistema . Na caixa de texto, digite alguma frase, acione o botão "Gerar Animação" e espere o resultado (O Real Player precisa estar instalado).