Tecnologia

Projetos criados na web fiscalizam e mostram as ações dos órgãos públicos

postado em 23/08/2011 16:50
O professor da Universidade de Fortaleza, Vasco Furtado, é o criador do WikiCrimesO que Cuba, Romênia e Brasil têm em comum? Os três ocupam a 69; posição em um ranking de corrupção com 3,7 pontos ; em uma escala de zero a 10 pontos, no qual 10 é o menos corrupto ;, de acordo com a organização não governamental Transparency International. A falta de transparência nas ações do poder público é uma das causas desse índice. No Brasil, algumas ações do governo tentam reverter esse quadro. O Portal da Transparência, no qual estão listadas todas as despesas dos órgãos federais é um desses exemplos. No entanto, quem está promovendo de forma mais abrangente e clara a divulgação das contas, atitudes dos representantes e até mesmo crimes e ações da polícia são usuários da internet.

O WikiCrimes vai nessa linha de denunciar locais onde houve algum tipo de crime com a ajuda do cidadão. ;Quando alguém vai à delegacia para prestar uma queixa, essa informação é pública, claro que guardando as particularidades da privacidade. Depois, essa pessoa conta para outras o que aconteceu e onde foi. Para que todos ao seu redor tenham ciência do fato, ele compartilha. Essas informações públicas deveriam ser totalmente transparentes, mas no Brasil não é;, explica Vasco Furtado, criador do WikiCrimes e professor da Universidade de Fortaleza.

Após um cadastro, que não pede nenhum dado de documentos oficiais, é possível apontar em um mapa feito no Google Maps qual o tipo de crime e o local, em qualquer parte do mundo. O grande problema é saber se o usuário está dizendo a verdade. Por isso, foi criado um carimbo ;credibilidade alta; quando o denunciante utiliza dados do Boletim de Ocorrência ou uma notícia divulgada pela imprensa. ;Temos pesquisas para tentar identificar e criar no sistema uma certa credibilidade. O usuário é obrigado a indicar uma pessoa que pode dizer que o relato é verdadeiro;, aponta Furtado.

O Transparência Hacker ; apesar da conotação negativa da palavra ; também quer ser um espaço para que indivíduos proponham e articulem ideias e ;que utilizem a tecnologia para fins de interesse da sociedade.; Os usuários cadastrados trabalham em projetos para garantir transparência ao usuário, como, por exemplo, o Legisdados. O site promete dar mais informações ao cidadãos sobre os planos em tramitação parlamentar. A página da web vai permitir o acompanhamento do que é votado e quem votou. ;Para participar de qualquer projeto do Transparência Hacker basta mandar um e-mail e entrar na lista (do Google Groups) e se oferecer para tocar algum projeto. Temos mais de 300 pessoas no grupo;, explica Yasodora Córdova, participante do site.

O Deputado Analytics também é exemplo. Por meio de dados disponíveis na página do Congresso Nacional, o site vai analisar a assiduidade dos parlamentares, os projetos de lei propostos e o gasto das verbas indenizatórias. O sistema ainda está em fase de produção e deve separar os representantes do povo em partido, região e estado. ;Não adianta fazermos vários projetos se o governo não abrir os dados. Quando abrem alguma coisa, os documentos são bagunçados e há muita burocracia;, ressalta Yasodora.



Denunciar os abusos de poder no Brasil também está mais fácil. No site Otoridades, quem ouvir a famosa frase ;você sabe com quem está falando?; e achar que foi menosprezado, pode relatar o ocorrido. Os denunciados têm o direito de responder os posts e também se desculparem pelo ocorrido. A proposta é fazer um diálogo entre as partes e resolver a situação da melhor maneira possível. O site adverte que acusação falsa é crime de calúnia e, por isso, oferecem ao denunciante espaço para anexar documentos e fotos que provem o caso.

Internacional

Na capital dos Estados Unidos, o cidadão ganhou um guia para começar na criação de aplicativos que possam ajudar a dar mais transparência ao governo. Disponível no site Apps for Democracy (aplicativos para democracia, em português), o tutorial em vídeo dá todos os passos e mostra exemplos que podem dar certo. Um deles é o wiki We the people ; uma espécie de enciclopédia virtual, como a Wikipedia. De acordo com os criadores do projeto, a página foi feita para que qualquer usuário possa editá-la com base nos dados públicos divulgados pelo governo em Washington. O We the people pretende dar voz a comunidade e também discutir como cada um pode fazer a diferença.

A cidade de San Francisco, Califórnia, conta com um mapa que identifica os principais crimes da cidade. O San Francisco Crimespotting acredita que ;um entendimento claro do que acontece no ambiente é essencial para a cidadania;. No site é possível reportar um crime, como assaltos, assassinatos, roubos e vandalismo, além de comparar a criminalidade entre as semanas e marcar os locais com maior incidência de violência.

Ônibus itinerante
Por meio de uma ação de crowdfunding ; quando pessoas doam dinheiro em prol de uma causa ;, o Transparência Hacker conseguiu comprar um ônibus para levar workshops, noções de dados abertos, software livre para os estados brasileiros. Uma das palestras propostas é baseada na lei orgânica presente na maioria dos munícipios que permite ao cidadão apresentar um projeto de lei coletando assinatura de cerca de 5% dos eleitores da cidade. O veículo será completamente modificado e deve incluir webcams, conexão 3G e GPS. Mais de 460 pessoas apoiaram a causa e o montante doado foi de R$ 58.593.

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação