Jornal Correio Braziliense

Tecnologia

Aparelhos celulares ajudam usuários a realizar ligações de mentirinha

Ao ver aquela pessoa na rua com que não se está com vontade de conversar, são várias as opções para se esquivar de uma possível conversa: olhar para o outro lado, mudar de calçada, usar fones no ouvido e fingir que está distraído. A mais tecnológica dessas opções é simular que está em uma ligação importantíssima ; algo que, segundo o centro norte-americano de pesquisas Pew Internet & American Life Project, 13% dos donos de celular fazem. Para esse público, já foram criados aplicativos de smartphones que permitem fazer ligações falsas para si, de maneira bem convincente. Nas ;chamadas de mentira;, o usuário pode, inclusive, personalizar toque, nome, número e foto de quem está ;ligando;. Ou seja, os aparelhos criados para estabelecer a comunicação também podem ter exatamente a função contrária.

Entre os aplicativos que prometem facilitar a vida dos donos de celular citados na pesquisa, está o Fake Calls, específico para iPhone, que custa U$ 0,99. Após todo o processo de personalização das chamadas, o uso do programa é bastante simples: basta abrir o aplicativo e, em segundos ou minutos ; dependendo do que foi escolhido previamente pelo usuário ;, a pessoa recebe a tal ligação. Para celulares com sistema operacional Android, existe o Fake Call Me, que funciona do mesmo modo que o Fake Calls. O aplicativo, gratuito, já foi baixado por mais de 7,5 mil pessoas no Android Market. Outro programa para Android é o Call Faker, que também é de graça. Com as mesmas funções dos outros, sua descrição é curiosa: ;Use-o para escapar de reuniões, encontros ruins, funerais etc.;

Já para quem usa o sistema Windows Mobile, está disponível o Fake Call, gratuito e que permite à pessoa tanto programar um horário para o telefone tocar quanto apertar uma tecla e executar o aplicativo. Uma de suas características interessantes é a possibilidade de selecionar um contato da lista do próprio celular para que ele apareça na chamada falsa.

Esses aplicativos parecem ;geniais; para o universitário Eduardo Costa, 22 anos. ;É quase como se a gente pudesse usar a tecnologia para construir nossa ;cerquinha social;;, acredita. O universitário, que finge atender ao celular quando não se sente confortável em um ambiente, já mandou mensagens de texto para amigos, pedindo que ligassem para ele, só para aparecer o rosto da pessoa na tela de chamada. ;Vez por outra, também finjo que o alarme programado do telefone é mensagem chegando;, acrescenta. ;Na real, preciso de um aplicativo desses. Na verdade, estou procurando um, enquanto fazemos essa entrevista.;

Facilidade
Há, ainda, aparelhos que vêm com a opção de chamada falsa, facilitando ainda mais a vida do usuário. Basta ativar no menu de configurações, ferramentas ou aplicativos ; isso varia para cada celular ; a chamada e personalizar o tempo de espera entre a ativação e a ligação. Em geral, para iniciar o ;telefonema;, é só apertar uma das setas de volume permanentemente, até aparecer na tela a mensagem ;chamada falsa ativada; e esperar o telefone tocar. Os aparelhos mais atuais da marca Samsung têm essa opção. Entre os telefones com o dispositivo, estão o GT-S7230B, o Star e o Corby GTS3650.

;Acho muito desagradável quando estou comendo e vem alguém puxar papo;, diz a analista de requisitos de software Fabíola Oliveira, 22 anos. ;Por isso, resolvo fingir que estou falando ao celular. Pode até parecer errado, mas é melhor do que você se estressar ou tratar alguém mal;, explica. A produtora Vanessa Silva, 21, acha que, no Brasil, o índice de adeptos da chamada de mentira é maior que o registrado na pesquisa americana. ;Com certeza, todo mundo já fez isso, pelo menos uma vez;, estima. ;Faço essas ;simulações; quando vejo alguém que não quero falar ou uma pessoa estranha vindo na minha direção. É como se fosse uma desculpa para poder atravessar a rua, fingindo que estou distraída;, afirma. Segundo a produtora, essa é uma das ;maneiras mais fáceis de se evitar alguém chato;. Ela diz que faz isso principalmente quando está andando sozinha na rua.

Vanessa destaca que sempre deixa o celular no silencioso, o que a evita passar por certos constrangimentos ao fingir usar o aparelho. ;Quando quero fazer de conta que acabei de receber uma ligação, aperto um botão qualquer, finjo que começou a tocar e ponho na orelha;, ensina. ;Assim, não corro o risco de eu receber um telefonema real, e a pessoa na minha frente perceber;, completa a produtora.

Mas nem sempre a tática funciona. ;Já teve gente que veio falar comigo mesmo eu estando ocupada. Eu pedi licença, dizendo que precisava usar o celular, e a pessoa afirmou que me esperaria terminar a ligação sem problemas;, recorda Fabíola. ;Então, tive que desligar o telefone e conversar com a pessoa;, conta.

Sem tédio e com informação
Dados da pesquisa feita pelo Pew Internet & American Life Project com 2.277 norte-americanos mostram que 42% das pessoas usam o celular para se entreter quando estão entediadas. Esse número aumenta para 70% no grupo entre 18 e 29 anos. O estudo também revela que 51% dos usuários de celular recorrem ao aparelho quando precisam buscar uma informação imediatamente, índice que chega a 54% na faixa etária de 18 a 29 anos. Entre os jovens adultos, 42% tiveram problemas em fazer algo por não ter o celular por perto. Esse número foi de 27% no total de entrevistados.