Tecnologia

Game une a estrutura clássica em jogos de tiro e direção de arte moderna

postado em 13/09/2011 10:25

Na história recente dos videogames, pouca coisa provocou tanto alarde quanto a criação dos controles com sensor de movimento. A Nintendo deu o pontapé e foi seguida de perto pela Sony e pela Microsoft. Passada a euforia, restou aos jogadores a sensação de desapontamento e tempo perdido. O recurso parecia, ainda, um penduricalho utilizado para alavancar as vendas, e a sensação de ;imersão na tela; ainda soava como conversa para boi dormir.

Cinco anos depois, ainda são poucos os jogos que fazem justiça à nova tecnologia. É o caso de Child of eden, lançado pela Ubisoft para Xbox 360 e cuja versão para Playstation 3 chega às lojas em outubro. Criado pelo japonês Tetsuya Mizuguchi (famoso por jogos como Lumines e Rev), o game apresenta uma história simples embalada em complexas imagens.

A única personagem, Lumi, é o primeiro ser humano nascido em uma estação espacial, em 2019. Lumi morre sem realizar seu maior sonho ; conhecer de perto o planeta ; e tem suas memórias armazenadas no Eden, uma espécie de HD virtual que contém o conhecimento do mundo. Anos depois, cientistas decidem recriar o subconsciente da garota para que ela possa vivenciar o que foi acumulado sobre a Terra. No entanto, a experiência é atacada por um vírus, e o jogador precisa entrar em ação para limpar os arquivos e salvar a consciência errante de Lumi.


A cada arquivo, uma sequência de luzes, cores e formas é projetada na tela, e o jogador utiliza uma de suas armas para destruir os corrompidos. Embora seja possível jogar com o controle físico, é no Kinect que Child of eden revela todo o seu potencial. Com a mão direita apontada para a tela, o jogador controla um laser que trava sua mira nos inimigos; com a esquerda, uma metralhadora de tiros rápidos. Ao jogar as duas mãos para o alto, aciona uma bomba de euforia que liquida os inimigos na tela. E pronto. Três comandos, simples assim.

Beleza no detalhe

Dito assim, parece um jogo de tiro-sobre-trilhos, similar a Starfox e outros do gênero. Mas, basta um contato de poucos segundos para notar o abismo que separa a última criação de Mizuguchi dos outros títulos do mercado ; incluindo o antecessor Rez. O ambiente de cada arquivo troca a riqueza de objetos e cenários por projeções lineares com foco nas cores e na iluminação da tela. Animais translúcidos, bolas de energia e outras formas ;orgânicas; se misturam a engrenagens e placas metálicas, e a destruição progressiva dos inimigos aumenta o ritmo da ação e a intensidade das luzes.

Mas nem só de belas imagens é feito Child of eden. A estrutura de som tem início na trilha composta pela banda Genki Rockets, presente em outros games como Lumines e No More Heroes. E não para por aí. Cada tiro disparado pelo jogador é acompanhado por notas musicais, e o ruído da destruição dos inimigos ingressa na melodia também de modo harmônico. Junte tudo isso à movimentação de braços exigida pelo Kinect, e a impressão é de estar comandando uma orquestra de luzes e brilhos na tela da televisão.


Entre tantos sons e movimentos, seria fácil esquecer do enredo. Para isso, flashes de Lumi entram em cena ao fim de cada fase. Em agonia, a protagonista busca os olhos do jogador e pede socorro, recompensando em seguida com clipes musicais ; a personagem é também vocalista da Genki Rockets. A cada saraivada de inimigos, alguns segundos de descanso permitem ao jogador contemplar as formas geradas na tela, enquanto se prepara para o próximo desafio. O balanço entre narrativa e ação garante uma jogabilidade menos cansativa.

Com uma arquitetura tão promissora, é decepcionante (embora, compreensível) a curta duração do game. As seis fases podem ser percorridas em pouco mais de uma hora, restando ao jogador retornar aos mesmos percursos em busca de melhores pontuações. Por menos enjoativos que sejam os cenários, e por mais que a vontade imediata seja refazer todo o trajeto no próximo nível de dificuldade, fica a sensação de que poderia ter outros arquivos, outras criaturas e, até mesmo, um enredo mais extenso.

Mesmo tendo sido lançado há pouco mais de um mês, Child of eden parece mais um teaser que uma obra completa. Ou, vendo de outro modo, uma aula de imersão e sinestesia para as demais produtoras de games. Talvez, algumas sigam o exemplo e passem a justificar o investimento em Kinects, Moves e outras bugigangas.



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