Tecnologia

Brasiliense é um dos mais jovens desenvolvedores de aplicativos da Apple

postado em 26/09/2011 09:43
Rafael já vendeu nove aplicativos para a Apple e tem dezenas à espera de aprovação
O palestrante chega ao auditório e o silêncio se instala. A plateia parece não acreditar no que vê. Com óculos de grau e aparelho nos dentes, Rafael Costa, 13 anos, aluno da sétima série, é o orador. Fala sobre tecnologia, linguagem de programação de computadores e até a respeito de estratégias de marketing. O público ouvinte quase sempre é formado por gente bem mais velha que Rafael, muitos com diploma universitário em mãos.

O menino sente frio na barriga antes de subir ao palco. É um dos mais jovens desenvolvedores de aplicativos da empresa de produtos eletrônicos Apple. No colégio Leonardo da Vinci, onde estuda, Rafael é chamado de gênio, em tom de brincadeira, por professores e colegas. No total, apresentou nove produtos aprovados pela multinacional. Depois disso, ministra palestras em Brasília ; em locais como Banco do Brasil e faculdades ; para contar sua experiência.

Entre as criações do menino, está o Sweet Tweet, o primeiro projeto do brasiliense aceito pela Apple. Ele permite inserir informações com mais rapidez na rede social Twitter. Além disso, quando a internet perde o sinal, o aplicativo possibilita que o texto escrito seja armazenado e entre na web assim que o funcionamento for retomado ; tudo automaticamente. O Sweet Tweet está na segunda versão. Nela, é possível também sincronizar várias redes, como Facebook, Twitter e Tumblr.

O Facepad, outra criação de Rafael, aprimorou o programa Face Time, da Apple, que faz chamadas de vídeo entre portáteis, como o celular iPhone. O menino retirou a limitação que havia no programa original de originar chamadas exclusivamente para quem estava incluído em contatos de alguma rede social. ;Com isso, o usuário não precisa adicionar a outra pessoa para conversar com ela. Pode simplesmente convidá-la para a chamada de vídeo;, explica Rafael.

Literatura
Uma invenção do adolescente, o Machado de Assis ; Romances, disponibiliza ao usuário todas as obras do escritor, que estão em domínio público. O gosto pela literatura e o conteúdo aprendido no colégio despertaram a ideia. ;Os projetos surgem no dia a dia, em situações comuns;, conta o criador dos aplicativos. Rafael inventou também o Shoe Convert, para ajudar pessoas que estão fora de seus países de origem e querem comprar sapatos. O aplicativo para celular mostra, por exemplo, qual é o equivalente nos Estados Unidos à numeração do Brasil.

Já o URL Cutter encurta links em URL para caberem no Twitter. ;Os posts do twitter permitem apenas 140 caracteres. Alguns endereços da internet têm mais que isso. Para usá-los na rede, é preciso torná-los mais curtos;, esclareceu Rafael. Basta copiar o endereço do navegador e colar no campo do aplicativo e o serviço está feito. ;O mais importante é que o aplicativo seja fácil de usar;, afirmou Rafael. O rapaz também criou jogos para iPhone e tem dezenas de projetos à espera de aprovação da Apple.

Rafael ganha dinheiro com as invenções. Recebe 70% do valor de cada aplicativo pago baixado e 60% da verba de publicidade de cada um. ;Não é muito, porque a maioria dos aplicativos é grátis;, diz o inventor. Mensalmente, são feitos pelo menos 5 mil downloads de criações de Rafael, por meio do site da Apple. Quase 5 mil brasileiros participam da loja virtual como criadores de aplicativos para celulares e computadores da marca.

A empresa não aceita contribuições de quem tem menos de 18 anos, por isso o pai de Rafael, Luiz Cláudio Costa, assumiu a burocracia para a entrada do garoto no sistema de criação da multinacional. Rafael cursa a sétima série e já escolheu sua formação universitária. Quer estudar ciências da computação ou engenharia de software.

Início
A paixão de Rafael por computadores começou aos 9 anos. Com essa idade, ele desenvolveu um vírus do tipo Cavalo de Troia, para pregar uma peça na mãe dele, a pedagoga Patrícia Costa, 39 anos, que entendia pouco de computadores. ;Aos 4 anos, ele aprendeu a escrever o próprio nome no teclado do computador, antes de escrevê-lo no papel. Meu filho me ensinava a mandar e-mails. Para não ser uma mãe analfabeta para ele, aprendi um pouco mais sobre tecnologia;, disse Patrícia.

Depois da primeira experiência em criação, Rafael tomou gosto pela linguagem de programação, que aprendeu sozinho. ;Criei um navegador, que era muito fraco. Quando descobri o iPhone, fiquei muito empolgado. Comprei um computador da Apple e também livros sobre programação. A maioria é escrita em inglês, tive de aprender essa língua;, lembrou Rafael. O adolescente usa o dinheiro que ganha da Apple para comprar mais equipamentos e desenvolver outras ideias. ;Faço parte da geração Z, formada por pessoas que têm contato com computadores e tecnologia desde o nascimento. Para mim, é algo natural;, explicou.

Apesar das habilidades incomuns para um garoto de 13 anos, Rafael leva uma vida normal. Sai com os amigos, joga bola e se dá bem com a turma da escola. Tem interesses além de tecnologia, como o cinema. Gosta também de videogame e de música. Ouve com atenção especial uma canção do grupo Os Seminovos. A letra, bem-humorada, diz: ;O nerd de hoje é o cara rico de amanhã. O nerd de hoje é o cara lindo de amanhã. O nerd de hoje é o bom marido de amanhã;. Rafael confia na previsão.

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação