Tecnologia

Engenheiro apresenta na USP sistema que alerta motoristas para colisões

postado em 07/11/2011 09:03

Um momento de distração no trânsito e, em uma fração de segundo, ocorre uma batida. As razões para isso podem ser as mais diversas, mas é comum que surjam episódios como uma ultrapassagem perigosa pelo motorista do veículo ao lado ou porque um motociclista estava localizado exatamente no ponto cego do carro quando a pessoa foi trocar de faixa. Cerca de 430 mil acidentes de trânsito são registrados todos os anos no Brasil, de acordo com o Departamento Nacional de Trânsito (Denatran). O Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) adverte que aproximadamente 8% dessas colisões são causadas por distração do condutor ; ou seja, cerca de 25 mil. Preocupado com essa questão, o engenheiro elétrico Eduardo Bertoldi desenvolveu, como projeto de mestrado na Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP), um sistema anticolisão, que possui sensores ao redor do carro e alertas sonoros e vibratórios no banco do motorista.

Bertoldi explica que decidiu fazer o protótipo quando constatou que colisões laterais são um problema muito frequente nas vias de São Paulo. ;Essa falta de visualização completa no retrovisor pode gerar acidentes. E, nesse aspecto, a eletrônica do veículo pode ser usada para ajudar o motorista;, garante. ;Nosso foco foi encontrar uma forma eficiente de alertar o condutor de um possível risco de batida sem assustá-lo, pois isso poderia resultar em uma reação brusca e arriscada.; Com base nesses aspectos, o pesquisador elaborou um sistema que conta com sensores nas laterais do carro, como os de estacionamento já existentes, que identificam veículos em rota de colisão.

O ponto principal do dispositivo, no entanto, consiste em seus dois meios de alertar o condutor sobre uma possível batida. ;Queria algo que superasse a interação visual. Por isso, um dos alarmes elaborados é sonoro. Foram usados dois alto-falantes, que ficam, respectivamente, à direita e à esquerda da cabeça do motorista, no encosto do banco;, descreve. O outro alerta é composto por dois dispositivos vibratórios, que ficam no assento do banco do motorista, localizados próximo aos joelhos. ;Se o carro corre o risco de bater no lado direito, imediatamente os alarmes sonoro e tátil começam a funcionar do lado direito. O mesmo vale para o lado esquerdo;, completa o pesquisador. O alerta vibratório, segundo ele, foi criado para que o indivíduo realizasse automaticamente um movimento mecânico, já que ocorre estimulação direta da parte motora do corpo humano.

A orientadora de Bertoldi no projeto, Lucia Filgueiras, engenheira eletrônica e professora do Departamento de Computação e Sistemas Digitais da Escola Politécnica da USP, explica que o trabalho surgiu da junção da experiência profissional do engenheiro elétrico, que trabalha em uma empresa automotiva, com a experiência acadêmica dela. Para ela, o mais interessante do dispositivo foi compreender quais os efeitos da interação multimodal ; ou seja, de estimular sentidos variados, como a audição e o tato ; entre o sistema e o motorista. ;A ideia era superar apenas o estímulo visual enquanto a pessoa estivesse dirigindo. Foi muito positivo saber que a multimodalidade foi útil, no sentido de fazer com que as pessoas agissem mais rapidamente a partir dos estímulos, a fim de evitar acidentes.; Os resultados foram notáveis: nos testes feitos com 35 voluntários, eles reagiram à iminência de batida em 83% dos casos quando usaram o sistema, contra 75% de reações quando não o usavam. O tempo de reação com os dispositivos de alerta também diminuiu em 150 milésimos de segundo.

Lucia considera que a parte mais difícil do projeto foi executar um experimento simples, que dispunha de poucos recursos e, ainda assim, fosse consistente com a realidade de um automóvel e de situações de trânsito. ;Nas simulações, foi feita a projeção do jogo de videogame Mania Drive em uma parede, e os sistemas de alerta foram instalados em uma cadeira. Houve momentos de questionamento sobre até que ponto essa instalação comprometeria os testes, porque queríamos o máximo de fidelidade possível à situação de um carro no trânsito, como quanto à posição e ao ângulo dos espelhos retrovisores;, relata a professora.

Como o software do jogo é livre e colaborativo, os pesquisadores conseguiram adaptá-lo de acordo com seus interesses. Incluíram um carro que perseguia o veículo de teste, procurando sempre colidir com ele ou ;fechá-lo;. A equipe também acrescentou espelhos retrovisores, para tornar a experiência mais próxima do real.

;Essencial;

A universitária Amanda Rodrigues, 22 anos, acha que esse sistema seria ;essencial; na vida dela. ;Não sei o número exato da quantidade de vezes que bati meu carro. Aliás, não só o meu. Já bati carro da minha mãe, de amigos e até mesmo de namorado. A maioria das vezes foi por falta de atenção, principalmente por causa do ponto cego;, detalha. O último acidente grave em que se envolveu foi no fim de 2010, quando estava fazendo um retorno na avenida L2. ;Não vi o outro carro mudando para a faixa que eu estava entrando. Ele me jogou pra cima de outro veículo e depois meu carro foi arremessado para fora da pista, parando entre uma árvore e um poste no canteiro;, recorda. ;Exatamente por causa do ponto cego e por às vezes não conseguirmos ver um veículo mudando de faixa, acho extremamente importante o dispositivo anticolisão;, ressalta Amanda.

A bióloga Márcia Motta, 23 anos, acha válida a criação e implantação desse sistema. A jovem já bateu o carro duas vezes. Em uma delas, no período de chuva, um pedestre passou sem sinalizar na faixa, fazendo com que um carro parasse bruscamente e causasse um engavetamento, no qual ela foi a última motorista envolvida. ;Não foi nada forte, mas, com a pista molhada e a freada brusca, não deu para segurar. Confesso que poderia ter visto antes, mas não notei;, recorda. O outro caso, mais grave, ocorreu porque ela dormiu ao volante após tomar um antialérgico, acidente que poderia ter sido evitado quando os sensores detectassem a rota de colisão e os alarmes a despertassem. Márcia concorda com Amanda quanto ao fato de que o projeto lhe ajudaria no trânsito, ;principalmente em relação ao ponto cego;. ;Com esse dispositivo, evitamos também aquela virada de cabeça ou jogada de olho rápida para ver se o carro está perto;, acrescenta.

Bertoldi conta que os próximos passos da pesquisa são fazer testes em um ambiente real. ;Queremos tornar esse sistema o mais eficaz possível. E sabemos que dá para fazer isso, já que existem sistemas de alerta do tipo na aviação;, destaca. Lucia acrescenta que ainda serão necessários mais experimentos para identificar se há falhas nos alertas sonoro e vibratório que precisam ser resolvidas. ;Na indústria, os donos das empresas querem implementar a primeira solução para os problemas que encontram. No mundo da pesquisa, queremos dar não a primeira, mas a melhor solução;, garante.


No vidro

Para facilitar ainda mais a vida dos motoristas, a empresa norte-americana Making Virtual Solid está desenvolvendo um dispositivo que coloca os dados de navegação por GPS no vidro do carro, fazendo com que a informação do sistema se sobreponha à paisagem que o condutor vê. O dispositivo Virtual Cable, segundo a empresa, teria profundidade 3D. A ideia dos criadores do protótipo é ajudar os motoristas principalmente durante a noite, para que vejam os locais para onde querem ir. A companhia garante que inclusive informações de placas de trânsito ficarão disponíveis no sistema, para que o condutor saiba com clareza a velocidade da via. O Virtual Cable ainda está em fase de testes.

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação