Tecnologia

Entrevista com Janus Friis, uma das 100 pessoas mais influentes da TI

postado em 09/12/2011 10:39

O Brasil é o primeiro país, além dos Estados Unidos e do Canadá, a receber o Rdio. Quais os motivos que o levaram a começar a expansão por aqui?
Pensamos em começar pela América Latina, e o melhor lugar seria o Brasil. O país é enorme e tem muitas possibilidades. Aqui, as pessoas amam música e são early adopters (como o mercado chama os usuários que se interessam e adquirem rapidamente uma nova tecnologia). Hoje, já atuamos nos Estados Unidos e no Canadá e temos a ambição de tornar o Rdio um serviço global. Já estamos olhando para a Ásia, para a Europa e para toda a América Latina. O próximo passo será entrar na Alemanha, que é um país onde também há muito interesse por música.

E qual a expectativa do lançamento do serviço no Brasil?
As pessoas se acostumaram a comprar CDs, depois fazer download de músicas e achamos que o streaming é o passo natural na evolução desse mercado. É algo que é muito barato e permite ter acesso a uma gama enorme de álbuns. Hoje, somente as pessoas mais antenadas e que gostam de conhecer o que há de novo no mercado têm conhecimento sobre esse tipo de tecnologia. Os consumidores em geral, como nossas mães ou irmãos, ainda usam o iTunes ou mesmo compram CDs, mas isso vai mudar, pois ainda estamos no início dessa onda. Quando começamos um negócio, temos que olhar para três, cinco anos à frente. Em cinco anos, acreditamos que, quando as pessoas falarem de música, elas vão falar de streaming e, quando esse momento chegar, queremos ser os líderes desse negócio. Sabemos, contudo, o quão difícil é fazer com que um serviço se torne global. Quando lançamos o Kazaa, basicamente criamos um software, colocamos na internet e as pessoas podiam usá-lo de onde elas estivessem. Com o Rdio é muito mais complicado. Nós temos que estudar os mercados, fazer acordo com as gravadoras, entender os impostos locais e tudo mais. Esses processos variam de país para país, o que torna as coisas muito mais complexas.

[SAIBAMAIS]As negociações para lançar o serviço no Brasil foram difíceis?
Na indústria da música, há várias partes envolvidas: os estúdios, as gravadoras, os artistas, o governo, o público... Então, foi necessário nos adequar a várias situações. Tivemos muitos desafios durante esse processo, como entender os impostos e a legislação brasileira. Demorou um pouco, mas conseguimos.

Nos últimos 15 anos, as principais gravadoras de discos perderam muito dinheiro por causa dos downloads ilegais feitos, inclusive, por meio de programas como o Kazaa (criado pelo próprio Janus Friis). O senhor acredita que elas ainda têm medo da internet?
Eu acho que é normal elas terem um certo receio das novas tecnologias que surgem, mas acredito que esse não seja mais o caso. Cada vez mais vemos que as gravadoras estão apostando em novos meios de distribuição, e a internet é uma excelente ferramenta. E isso é excelente! É bom para nós, como empresa, para as gravadoras, para os artistas e para o público. Isso porque mais dinheiro será gerado a partir da música. Definitivamente, as gravadoras estão do nosso lado e entendem a nossa ideia.

No setor de música sob demanda, a Rdio tem pelo menos outros dois grandes concorrentes: o Spotify e o iTunes. Como o senhor enxerga esse mercado?
A competição varia de acordo com o mercado em que esses serviços são oferecidos. O Spotify (serviço semelhante ao Rdio lançado em 2008), por exemplo, acabou de chegar à Suíça e já fez grandes acordos com as gravadoras. Então, por lá, eles lideram. Já na Alemanha não há serviços de streaming legal. Nos EUA, já há vários concorrentes brigando para conquistar consumidores, mas o iTunes, da Apple, ainda é o mais conhecido. Aqui no Brasil, o iTunes ainda não está disponível, não é?

Ainda não. No entanto, há rumores de que o serviço será lançado muito em breve...
É impressionante o iTunes ainda não estar disponível por aqui. É um serviço que já existe há 10 anos. Não dá para entender.

Serviços como o Rdio podem ajudar a diminuir a quantidade de downloads ilegais na internet?
Definitivamente, sim. O download ilegal acontece quando as pessoas querem ter acesso a música de um cantor ou de uma banda, mas simplesmente não encontram uma alternativa legal para se chegar até ela. Não estou dizendo que fazer download ilegal seja correto, mas é algo muito fácil e, se não houver um serviço igualmente fácil, barato e que esteja dentro da lei, os internautas vão continuar baixando pela internet. Aliás, é isso o que eles têm feito desde o fim dos anos 1990, com o surgimento do Napster. No entanto, vale a pena lembrar que sempre que surge um bom serviço no mercado de download de música a taxa de pirataria cai. O Spotify é um bom exemplo disso. Na Suíça, eles tiveram uma grande penetração no mercado e a taxa de pirataria caiu consideravelmente. Isso não quer dizer que será sempre assim. Há pessoas que simplesmente não querem pagar e a internet possibilita ter acesso a diversos conteúdos, sejam eles permitidos ou não. Ao oferecermos um serviço que seja simples de usar, com um acervo rico e barato, porém, acreditamos que estamos contribuindo com o mercado e, ao mesmo tempo, dando mais opções ao consumidor.

Depois da aparição e da popularização do formato MP3, o senhor acredita que a música via streaming pode ser considerada uma segunda revolução dentro do mundo da música digital?
Eu não vejo como uma revolução, mas como um passo natural na evolução da música digital. Assim como foi a mudança do vinil para o CD e, logo depois, para o formato MP3. A diferença é que em todas essas outras mudanças o usuário teve que gastar dinheiro para adquirir um novo dispositivo para conseguir reproduzir a nova oferta de música que estava chegando, mas, desta vez, isso não vai acontecer, porque a mudança está no acesso à musica e não no tipo de formato em que ela se apresenta. O acesso pelo streaming é muito mais fácil e barato, sem dúvida.

No futuro, poderemos escutar música via streaming enquanto dirigimos nossos carros?
Certamente. Na verdade, alguns carros já estão sendo vendidos com conectores para o iPhone, o que permite acessar a rede de internet móvel e, consequentemente, as musicas via streaming.

Então a indústria automobilística também poderia ser um potencial parceiro para o Rdio?
Já estamos em negociações com algumas marcas. Nos próximos anos, veremos muitas novidades nesse setor. Por exemplo, da mesma forma que hoje são desenvolvidos aplicativos para iPhones ou celulares Android, muito em breve também veremos aplicativos para serem rodados nos sons dos automóveis.

Acesso
O serviço pode ser acessado em dois planos. O primeiro permite ouvir as canções diretamente pela web ; a partir do browser ou por meio de um aplicativo para Mac e PC ; ao custo de R$ 8,99 ao mês. O segundo, por R$ 14,90 por mês, o usuário pode, além de escutar as músicas pela web, carregá-las em dispositivos móveis para serem executadas em modo off-line.

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