postado em 13/01/2012 08:00
Fazer buscas em sites com endereços fora do convencional, como receitas de bolo em uma página intitulada www.comer.doces, sem precisar do .com ou do .com.br , será possível nos próximos meses. Desde ontem, a Corporação da Internet para Atribuição de Nomes e Números (Icann, na sigla em inglês) está aceitando pedidos de empresas para criar outros domínios de sites, com sufixos além dos tradicionais, como .com, .net e .org. Responsável pelas políticas de registro de nomes das páginas na web, a Icann pretende, ao implementar outros domínios genéricos de nível máximo (gTLDs), causar ;uma revolução na internet;, que multiplicará as possibilidades de nomear as páginas.O presidente e diretor executivo (CEO) da corporação norte-americana, Rod Beckstrom, defendeu o polêmico projeto em coletiva de imprensa na quarta-feira. ;Nossa ideia é abrir o sistema de domínio de nomes na internet para inovações. Isso vai beneficiar inclusive países que usam caracteres que não são latinos nem ingleses. Empresas na China e nos países árabes poderão usar seu alfabeto;, exemplifica, destacando que apenas serão aceitas letras nesses sufixos, sem a inclusão de números, pontuação e outros símbolos. ;A web será mais como o mundo e menos como um país individual;, salientou. Atualmente, além dos finais já conhecidos, cada país tem sua terminação para os sites. São o código do país (ccTLD), como o .br (Brasil), .us (Estados Unidos), .uk (Reino Unido), que aparecem geralmente após o TLD.
A maior parte da primeira onda de candidaturas deve vir de empresas e marcas líderes, que veem uma oportunidade de impulsionar sua visibilidade on-line ou simplesmente temem que alguém fique com o espaço. Mais aspirações pelo ;.qualquernome; devem vir de cidades regiões com fortes identidades, como .londres e .mumbai, de companhias que almejam construir um negócio baseado em novos domínios e de comunidades como .eco ou .gay.
A Melbourne IT, uma consultoria que está preparando cerca de 100 candidaturas para clientes, diz que a maior parte do interesse vem dos setores de serviços financeiros e de bens de consumo. ;Bancos procuram por isso como uma autenticação on-line, a fim de prevenir fraudes e construir confiança, enquanto fabricantes de bens de consumo acreditam que possam usar isso para se tornarem mais eficazes em suas campanhas de marketing on-line e de comunicação com o consumidor;, disse o diretor de vendas da consultoria para a Europa, Stuart Durham.
A fabricante de câmeras Canon é uma das poucas empresas que reconheceu publicamente que busca operar um de seus próprios domínios ; a Deloitte e a Hitachi são outras. A maioria, contudo, mantém segredo, temendo uma competição nociva, e o Icann vai publicar mais detalhes dos candidatos apenas quando a janela se fechar, em abril.
A organização estabelece que qualquer instituição que preencha os requisitos de elegibilidade da Icann pode entrar com o pedido para criar e administrar um novo registro gTLD ; solicitação que deve ser feita entre 12 de janeiro e 12 de abril deste ano. Nessa inscrição, os grupos devem demonstrar capacidade operacional, técnica e financeira para cuidar do registro. Além disso, devem pagar uma taxa de US$ 185 mil (cerca de R$ 334 mil) para ter seu pedido avaliado. Se o sufixo for negado ou a companhia desistir do processo, há reembolso parcial do valor pago ; no máximo, US$ 148 mil (R$ 267 mil), se a desistência ocorrer nos primeiros 21 dias da avaliação. A manutenção da página aprovada custará US$ 25 mil (R$ 45 mil, aproximadamente) por ano.
O processo completo de avaliação, entre inscrever a ideia de sufixo e ter a permissão para usá-lo, demora, no mínimo, nove meses. Se duas instituições quiserem o mesmo domínio, como uma organização comunitária que trata de crianças com câncer e uma empresa, a comunidade terá prioridade no registro, garantiu Beckstrom. Se ainda assim muitas organizações quiserem o mesmo nome, a solução parece contradizer a ideia de a Icann não ter como objetivo lucrar com o projeto: todos os concorrentes vão participar de um leilão.
Vantagem no mercado
O especialista em marketing digital Conrado Adolpho, da agência Publiweb, afirma que a decisão da Icann faz todo sentido, do ponto de vista de posicionamento de marcas no mercado. ;Certamente, essa medida será positiva. Para uma empresa como a Canon, é muito mais vantajoso ter um domínio www.cameradigital-abc.canon do que www.canon.com/cameradigital-abc. O nome do domínio de 1; nível vai transmitir muito mais credibilidade;, detalhou. Ampliar as possibilidades para médias e grandes empresas colocarem seus nomes no sufixo de cada domínio também é considerado pelo consultor de marketing digital Gunther Aleksander, da Agência Digital, o ponto mais positivo da medida.
Espaço em falta
Todos os computadores que acessam a internet têm um endereço próprio, formado por números, o endereço de IP (sigla para protocolo de internet). Como os IPs são difíceis de decorar, eles são ;traduzidos; em caracteres ou letras, que formam o nome de domínio. Todos esses nomes têm como terminação um domínio de nível máximo, o TLD, que é o sufixo do endereço ; como o .com, .org, .net. Os de segundo nível se referem ao nome da página em si, como correiobraziliense no correiobraziliense.com.br e apple no site apple.com, e vêm antes do sufixo. Existem, ainda, os nomes de terceiro nível. Também chamados de subdomínios, se referem a partes específicas dos sites, como mail, no mail.google.com. A internet funciona com o sistema standard IPv4, que permite que existam 4 bilhões de endereços.
Essa quantidade, no entanto, está próxima de ser exaurida, devido à demanda crescente de sites. A Ásia já esgotou seu espaço de IPv4 e a expectativa é que o mesmo aconteça nos EUA no próximo ano. Por isso, há cerca de seis anos a Icann pede a adoção do novo padrão IPv6, que autoriza a existência de aproximadamente 340 sextilhões de endereços (340 vezes o número 10 seguido de 36 zeros).
Direitos concedidos
Algumas nações abrem mão de seus códigos, o que faz a felicidade de grandes corporações. O domínio .co, inicialmente da Colômbia, foi liberado e é usado como alternativa ao .com. Tuvalu, uma ilha do Pacífico, repassou o direito do registro .tv para uma empresa que vende endereços com essa terminação. As emissoras televisivas, em geral, fazem seu domínio com o nome .tv. Outro caso curioso é o das páginas com final .ly, de Líbia. Na época dos protestos contra o então presidente Muammar Kadhafi, páginas com essa extensão sofreram com instabilidade e algumas ficaram fora do ar. Houve, inclusive, o temor de que o encurtador de links bit.ly parasse de funcionar, o que não se concretizou.