Basiléia - Uma dupla de policiais suíços faz a ronda, enquanto uma criatura usando um capacete espacial com uma câmera no topo e mochila de astronauta caminha pelo parque Saint Johann, em Basileia, Suíça.
Mas o que parece ser um visitante de outro mundo na verdade é o designer inovador Jan Torpus, que, com o projeto que ele chama de "realidade aumentada", confunde as fronteiras entre o mundo real e a fantasia.
Através da tela de seu capacete, Torpus distingue dois funcionários de limpeza, árvores, arbustos e bancos, mas a paisagem também é povoada por animais virtuais que caçam besouros.
"Talvez possamos fazê-los caçar nosso chefe", diz um dos funcionários ao colega.
O jornalista que testou o capacete também viu algo assombrosamente inusitado: um grande peixe vermelho caçando besouros através do que parecia ser um canavial, que então virou um deserto, e finalmente, se transformou em uma tranquila pradaria.
Um grande verme verde abraça o peixe, cena acompanhada por um fundo musical que lembra a trilha de um filme dramático.
Torpus explica que em seu projeto, ;lifeClipper 3;, a pessoa que usa o capacete cria suas próprias percepções.
"Cada passeio é único: a situação no parque sempre é diferente em termos de hora do dia, luz, clima, temperatura, encontro com pessoas e animais. Ao ambiente real se justapõe o ambiente virtual; aos seres realmente vivos, os virtuais", continua o inventor, de 45 anos.
"Os dois mundos podem ser influenciados pelo usuário. Ao mesmo tempo, o elemento do acaso desempenha um papel tanto no mundo real quanto no sintético. Isto dá origem a situações únicas, impossíveis de reproduzir", explica Torpus.
As percepções são influenciadas pelo movimento de animais e pela música, que é transmitida por um programa em um computador preso à nuca do usuário.
A base de Torpus é o Instituto para Pesquisa em Arte e Design (HGK), vinculado à Universidade de Ciências Aplicadas do Noroeste da Suíça, em Basileia, cidade que faz fronteira com França e Alemanha.
Entre a vida diária e o mundo fantástico
O projeto começou em 2003, com a união de artistas e cientistas na busca por sensações desafiadoras da mente e novas ideias para aplicativos de celulares, mapas eletrônicos e sites na internet mais inteligentes.
O equipamento usado no ;lifeClipper 3; foi todo adquirido em lojas de eletrônicos locais, afirma Torpus, orgulhoso, enquanto ele saca um robusto laptop preso com tiras à bota do usuário.
"Temos que usar um laptop volumoso como este pois precisamos de um computador com muita potência para fezer isto rodar", explica.
O equipamento conta ainda com um GPS com nível profissional de posicionamento, utilizado em engenharia e construção civil, vistorias e agricultura. Também há um sensor de direção e outro de dados biométricos preso ao peito do usuário.
Além disso, há um display de cabeça com câmera e fones de ouvido, microfone e mouse de dedo.
Torpus convida os visitantes a caminharem pelo parque com o capacete de forma a testar a realidade alternativa.
"Ele muda entre situações da vida diária e mundos fantásticos", afirmou, entusiasmado. "É uma alienação das regras físicas e culturais, como centralidade, gravidade, noção de tempo e espaço", afirma.