Tecnologia

Estudantes educomunicadores fazem cobertura jornalística da Campus Party

Além da cobertura de eventos, a cargo da equipe do Imprensa Jovem, são desenvolvidos projetos de rádio escola, jornal mural, fotografia e quadrinhos

Agência France-Presse
postado em 31/01/2013 19:35
São Paulo - A câmera de vídeo comandada por Wesley Oliveira, 15 anos, e o microfone nas mãos de Nicolas Oliveira, 15 anos, possibilitam mais do que o registro das novidades tecnológicas expostas hoje (31) na Campus Party. Por meio do Projeto Imprensa Jovem, uma experiência que mescla educação e comunicação, os estudantes exercem o direito de produzir e divulgar conteúdo, aprendem sobre tecnologia e compartilham o que fazem com pessoas do mundo inteiro na internet. Blogs e redes sociais são alguns dos meios usados pelos jovens para divulgar em tempo real o que descobrem na feira.

Nicolas participa do projeto desde 2010, quando ainda estava no 6; ano. No grupo de comunicadores estudantis, ele atua como repórter. "Sou mais solto, então fiquei com essa parte de entrevistar", relatou. Para Wesley, que se considera tímido, o trabalho com filmagem foi mais fácil. Assim como eles, 30 mil jovens, pelo cálculo da prefeitura de São Paulo, participam de projetos de educomunicação - conceito que agrega as duas áreas - na rede pública de ensino.

Além da cobertura de eventos, a cargo da equipe do Imprensa Jovem, são desenvolvidos projetos de rádio escola, jornal mural, fotografia, quadrinhos, jornal comunitário e profissionalização na comunicação para estudantes do programa de Educação de Jovens e Adultos (EJA). Ao todo, 250 escolas municipais desenvolvem projetos desse tipo. "O chamado é por adesão. A secretaria apoia, capacita, mas a escola é que manifesta o interesse", diz o coordenador do projeto, Carlos Lima.

Ele explica que essas experiências permitem articular conteúdos e facilitam o processo de ensino-aprendizagem. "O professor educomunicador consegue articular ações interdisciplinares. É possível transitar com vários disciplinas. Dialogar, por exemplo, português e matemática e fazer um projeto de comunicação com os alunos. Ele vê o conjunto informações e não conteúdos isolados", defende.

Em um dos trabalhos de educomunicação desenvolvidos por Nicolas e Wesley, eles tiveram a oportunidade de conhecer melhor a história do bairro de Perus, onde vivem. "Um dos pontos mais conhecidos [do bairro] é a fábrica de cimento, que teve uma revolta de quem trabalhava lá e depois fechou. A gente sabia que existia, porque meus avós, minha mãe, falavam, mas com esse trabalho a gente ficou sabendo mais", relataram. Eles reconhecem que esse conteúdo talvez não fizesse parte das aulas de História convencionais.

[SAIBAMAIS]Para o coordenador do projeto, a interação com a comunidade é uma das principais vertentes do conceito de educomunicação. "Entender o ecossistema comunicativo da sala de aula até a comunidade, para que através disso sejam criadas redes e as pessoas se comuniquem melhor", defendeu. Ele destaca que esse processo vai além de explicar técnicas. "Não é formar um novo jornalista nem tomar o espaço dos meios de comunicação. É agregar um potencial importante que tem a linguagem midiática no processo de ensino", explicou.

O professor Ismar Oliveira, coordenador de licenciatura em Educomunicação da Universidade de São Paulo (USP), destaca que esse conceito confronta modelos tradicionais, tanto de comunicação, quanto de educação. "A educomunicação é uma via que dialoga com os campos da comunicação e da educação para ampliar o coeficiente comunicativo das pessoas, para colocar essas relações [sociais] a serviço da construção de um mundo solidário. É uma utopia, no sentido [de] que é uma militância".



O professor de língua portuguesa Fábio Nepomuceno, 37 anos, da escola Jairo Almeida, em Perus, aceitou o desafio de usar a comunicação para o processo de aprendizagem e relata que ele mesmo se modificou como educador nesse processo. "Comecei em 2011 com a curiosidade de usar o equipamento de uma rádio escolar que estava desativada. Eu pude contribuir para uma postura mais crítica dos alunos, especialmente em relação ao que a mídia convencional produz, mas também estou evoluindo como professor, procuro sempre melhorar".

Na prática, a experiência de educomunicação constrói uma perspectiva prática do processo de ensinar e aprender. "Aprendi muita coisa com eles. Uma delas foi a editar vídeo. Aprendi com um aluno, o Diego. Lembro como se fosse hoje: cortar, colocar foto. Outra coisa que aprendi foi a me comunicar melhor com eles. Percebi a forma como os próprios alunos falam entre si e isso influencia um pouco a forma como você fala com eles depois", relembrou.

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação