Tecnologia

Engenheiro conta como variados objetos deverão estar ligados à internet

O brasileiro vai assumir a presidência do Instituto de Engenheiros Eletricistas e Eletrônicos. Mesmo com uma história de influência mundial, será a primeira vez que um profissional fora do continente norte-americano ocupa o cargo

Roberta Machado
postado em 25/10/2013 09:22

Roberto Boisson de Marca ingressou no IEEE há mais de 40 anos

O nome Instituto de Engenheiros Eletricistas e Eletrônicos (IEEE) pode soar pouco familiar para algumas pessoas, mas a importância da organização começou a ser construída há mais de um século. Mais precisamente, em 1884, quando a eletricidade ainda era uma novidade. O que começou como um pequeno grupo de eletricistas em Nova York cresceu, contando com nomes como Thomas Edison e Alexander Graham Bell, e hoje reúne técnicos, profissionais e cientistas desenvolvedores de tecnologias das mais variadas áreas, da medicina à computação. Mesmo com uma história de influência mundial, em 2014 será a primeira vez que um profissional com origem fora do continente norte-americano assume a presidência da organização. E o posto será ocupado por um brasileiro.

Roberto Boisson de Marca ingressou no IEEE há mais de 40 anos, ainda como estudante, e assumiu diversos cargos na entidade, entre eles o de vice-presidente mundial de atividades técnicas da Communications Society (ComSoc). No currículo profissional, estão 34 anos como professor do Centro de Estudos em Telecomunicações (Cetuc) do Centro Técnico Científico da PUC-Rio, além de pesquisas nas universidades da Califórnia (UCLA) e de Tecnologia de Dresden, na Alemanha, assim como no Instituto Politécnico de Torino (Itália). Os trabalhos no exterior também incluem colaborações com empresas como Lucent Technologies, Siemens, Petrobras e AT Bell Laboratories.



O conceito de objetos conectados pela internet das coisas ainda parece um pouco futurista. Como o senhor vê esse tipo de tecnologia na nossa vida hoje em dia?


Atualmente, é possível ter todos os pontos de luz da casa com IP, e você poderia controlá-los. Isso já existe em ambientes em que você pode comandar qualquer ponto de luz pelo celular. Essa inteligência das coisas precisa ter algum tipo de capacidade de processamento, memória e um transmissor de rádio. Se elas tiverem isso, podem se integrar à internet do futuro. A ideia é que você possa ligar o sensor de temperatura da sua casa à internet e programá-lo com seu celular, por exemplo. Ou o seu telefone pode ter vários sensores embutidos que ajudem na sua vida diária. A quantidade de sensores vai aumentar muito, e eles estarão em objetos que usamos no dia a dia integrados à internet. Isso está sendo considerado a quarta revolução industrial, que vai modificar a manufatura.

Isso parece empolgante, mas não tem despertado tanto o interesse do consumidor. Esse é um cenário realista ou apenas mais um campo de pesquisa?

A internet das coisas tem desafios grandes pela frente. Desde a parte técnica até o lado social, que é a aceitação ou não da sociedade a uma tecnologia como essa. Confiar na tecnologia e poder usá-la é um desafio que interpassa várias dessas evoluções tecnológicas. Acho que será como a internet se desenvolvia até aparecer a web. Aí, mais pessoas passaram a usá-la. Uma hora, vai ter de aparecer uma maneira que facilite e mostre às pessoas que elas podem, com segurança, fazer bom uso das novas tecnologias. Um exemplo são mecanismos de identificação testados para detectar uma queda de um idoso e avisar o hospital. Essas coisas podem ser úteis, e as pessoas verem que elas são essenciais para a vida. Até lá, vai demorar para a tecnologia deslanchar. A China acha que isso pode ser um diferencial e está investindo no setor e na internet 5G. Se um país desse tamanho investir fortemente, vai haver um impulso grande.

O senhor fala da tecnologia celular 5G, enquanto o Brasil ainda luta para implantar a 4G. O que seria essa nova geração?


Ainda está sendo definido por alguns países, como China e Inglaterra. Em grande parte, você vai ter de aumentar substancialmente a capacidade, talvez em mil vezes, para aguentar esse enorme crescimento de dados, seja por causa da internet das coisas, seja para colocar transmissões de rádio em outros tipos de equipamentos. E aí tem várias maneiras de fazer isso. Uma delas é aumentar a frequência de operação, ter uma banda maior, usar a nuvem como meio de controle das rádios-bases, integrar melhor as tecnologias. Esses são objetivos de longa data. Esse tipo de coisa tem de acontecer em algum momento. Não só para celular, mas para segurança, controle de veículos, telemedicina. Se isso for verdade, os requisitos de retardo são muito mais rigorosos. Isso tem de evoluir. Mas se vão chamar de 5G ou 6G, é questão de marketing.

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