"Estou pronta para servir. O que deseja?", cumprimenta Minerva. A voz lembra as mensagens ouvidas em alto-falantes no aeroporto, e o rosto é o de uma boneca muito cara. O diálogo continua, e a máquina humanoide responde com frases polidas, como ;É bom acordar com o pé direito, não é mesmo?;. Diplomática, Minerva sabe conduzir uma conversa com educação e busca suas respostas em um banco de mais de 50 mil sequências de diálogos com base no horário e nos papos que bateu ultimamente.
Ela não é tão dinâmica quanto C3PO, o robô da série Guerra nas Estrelas, que se diz fluente em mais de 6 milhões de formas de comunicação, mas dificilmente duas conversas com ela serão iguais ; e isso é mais do que se pode esperar de muitas pessoas. ;Você não vai discutir filosofia, é só bater um papo. Aquela conversinha de elevador dá para fazer de forma bastante razoável;, descreve Marcos Barretto, coordenador do Laboratório de Robôs Sociáveis da Faculdade Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP) e um dos criadores da mulher mecânica.
Por enquanto, Minerva ainda tropeça em algumas respostas com um educado ;não entendi;, como reagiria qualquer pessoa que é apresentada a um novo assunto. Afinal, um robô não conta com os anos de aprendizado que uma pessoa tem desde a primeira infância. Todas as convenções sociais, as regras de etiqueta e a adaptação das respostas de acordo com o contexto precisam ser ensinadas. No caso da robô feita pela equipe da Poli-USP, o que ela sabe foi programado manualmente por uma força-tarefa de alunos, com base em conversas reais e em referências de diálogos.
;No final, é isso, um tijolinho de cada vez para fazer a casa;, resume Barretto. O pesquisador estima ao menos mais uma década até que possamos conversar com as primeiras máquinas dotadas da capacidade de interpretar perguntas e formular respostas. No futuro, especula o especialista, podemos ter companhias mecânicas como no filme Frank e o robô, em que uma máquina se torna cuidadora de um idoso. Ou, ainda, sermos atendidos por um simpático porteiro eletrônico que fala sobre o tempo, conta piadas ou comenta o último jogo de futebol.
Evolução lenta
Traduzir para a linguagem das máquinas as sutilezas do diálogo humano é uma difícil tarefa da computação afetiva, o ramo da robótica que tem o objetivo de dar a um sistema eletrônico a capacidade de reagir de forma apropriada a uma pergunta ou comentário. Até pouco tempo, relações entre homem e máquina como essa só existiam no imaginário popular e eram retratadas em diversos níveis no cinema: desde o limitado robô B9 da série dos anos 1960 Perdidos no Espaço (que praticamente se limitava a gritar ;perigo!” e a dizer ;isso não computa;) a androides perfeitos como o menino David, de A. I. ; Inteligência Artificial, capaz de simular o amor de um filho.
Um cenário mais realista, de acordo com a descrição de especialistas, estaria no meio-termo. No futuro próximo, devemos nos deparar com balconistas em repartições como o assistente que atende o operário Max no filme Elusium. Ao notar que o personagem interpretado por Matt Damon está nervoso, a máquina lhe oferece um medicamento, e depois teme por um ataque. A conversa com o robô, no entanto, é fria: o atendente eletrônico se recusa a argumentar com Max e ainda tem dificuldades em detectar o sarcasmo na voz do humano.
O velho sonho de dotar robôs de inteligência foi descrito de forma exemplar em 1950 pelo escritor Isaac Asimov, autor do consagrado livro Eu, Robô. Na série de contos que mostram o desenvolvimento das máquinas inteligentes, o russo descreve os primeiros modelos de robôs como grosseiros assistentes mudos e encarregados de tarefas simples, como distrair uma criança. Levariam anos até que eles evoluíssem para operários cegos pelo raciocínio lógico de seus cérebros positrônicos e depois chegassem até mesmo a desenvolver preferências próprias, como o gosto por livros. Somente muito depois eles adquiririam sensibilidade suficiente para se tornarem os atenciosos cuidadores de toda a humanidade.
O especialista em robótica da organização internacional Instituto de Engenharia Elétrica e Eletrônica (IEEE) Antonio Espingardeiro assegura que essa evolução realmente deve ser lenta e que robôs idênticos aos humanos não devem fazer parte da nossa vida tão cedo. ;Não há robôs humanoides nas ruas e, lamento desapontar, mas esses robôs não serão vistos nos próximos 30 ou 40 anos;, avalia. ;Porque nós temos 50 anos de computação, e só agora um computador começa a ouvir, começa a ler, começa a falar, começa a ver;, enumera Espingardeiro.
Variedade
O cenário, prevê Espingardeiro, aponta para um futuro com robôs ;de muitas morfologias, de muitas formas, de muitas escalas, de muitos tipos de locomoção;. Essa variedade tecnológica pode ser parecida com a retratada no filme Wall-e, no qual uma colônia espacial é mantida por diversos robôs em formatos de objetos automatizados e por máquinas especializadas em tarefas como limpar o chão, maquiar e, claro, recolher o lixo, como o próprio personagem que dá nome ao longa.
Os equipamentos que têm cara de máquina, não de gente, se multiplicam na maior velocidade que as linhas de montagem permitem. O mercado já oferece uma variedade de pequenas máquinas automáticas que fazem tarefas simples da casa, como limpar janelas ou cuidar do jardim. Programar a cafeteira, a máquina de pão ou a panela de arroz já se tornou rotina. A empresa iRobots, exemplo mais próximo que temos da Skynet hoje em dia, já vendeu mais de 6,5 milhões de unidades do aspirador de pó autônomo Roomba, um disco que passeia sozinho pela casa, encontrando e sugando a sujeira do chão.
Para o especialista em robótica Marco Antonio Meggiolaro, professor de Engenharia Mecânica do CTC da PUC-Rio, a tendência é que a própria casa se torne um grande robô, mais barato e eficiente do que a figura de servente mecânico retratada há décadas em filmes e séries de TV. ;Em vez de gastar bastante dinheiro para ter um robô no formato de um ser humano, executando várias tarefas, uma de cada vez, por que não gastar uma fração desse dinheiro numa máquina de lavar automática, ou em um sistema que liga e desliga o ar-condicionado?;, questiona.
O raciocínio, infelizmente, tornaria inúteis alguns dos personagens mais queridos da ficção científica. ;É muito caro fazer um robô R2-D2 que vai te ajudar a pilotar a sua nave. É muito mais barato fazer um computador de bordo muito sofisticado;, afirma Marco Antonio. Talvez George Lucas não tenha pensado nessa lógica ao criar os droides do universo de Guerra nas Estrelas, assim como tantos outros autores que deixam de lado o realismo em função narrativa. Mas são justamente histórias como esta que até hoje alimentam a criatividade de pesquisadores e cientistas, e fazem surgir ideias que mudam para sempre a vida real.
Leis da robótica
Isaac Asimov cunhou as três leis que devem reger a robótica pela primeira vez no conto Runaround, e depois na coletânea Eu, Robô. As regras dizem que um robô não deve ferir um ser humano, ou deixar que uma pessoa se machuque por omissão; a máquina também deve obedecer às ordens dadas por qualquer humano, a não ser que elas entrem em contradição com a primeira lei; e os robôs também seriam obrigados a proteger a própria existência, contanto que a tarefa não seja um conflito às primeiras duas leis.
;Escravos;
O conceito de robôs surgiu na ficção, há quase um século. Em 1921, a peça tcheca de Karel Capek Rossum;s Universal Robots levou para os teatros a ideia de uma fábrica de seres humanos artificiais que trabalham como escravos ; a palavra ;robota;, que cunhou o termo em todo o mundo pela primeira vez, tem significado similar a ;trabalho forçado;. Essas máquinas só passariam a fazer parte da realidade na década de 1950, quando os ;escravos robóticos; foram reduzidos aos braços mecânicos adotados pela General Motors nas linhas de montagem de automóveis.
Confira a entrevista completa com Antonio Espingardeiro, especialista em robótica do Instituto de Engenheiros Eletricistas e Eletrônicos (IEEE):
Correio: O que são robôs? Temos uma ideia específica da ficção como o robô dos Jetsons, que ainda não parece real. Robô é só a máquina que tem o formato humano, ou qualquer tipo de máquina automatizada seria? Antonio: Você faz uma pergunta muito interessante, para a qual penso que nenhum roboticista, nenhum engenheiro tem uma resposta concreta. Não existe uma definição consensual na comunidade de robótica sobre o que é o robô e como se classifica um robô. O que se tem é uma definição que muitas vezes engloba a entender um robô como a máquina que é programável. E tem um certo nível de autonomia e que pode executar tarefas repetitivamente. E portanto, essa é a definição mais consensual do que é um robô. Mas eu gostaria de iniciar a explicação sobre que robôs nós temos hoje em dia e como tudo começou. Se voltarmos a 1950, esse foi realmente o ano da introdução dos robôs em ambientes industriais, em fábricas de automóveis como a GM, que introduziu os primeiros robôs, que eram braços robóticos operando a grandes velocidades e repetidamente. Então você encontra a primeira manifestação de robótica na indústria. Especificamente na indústria de automóvel. Esses robôs ainda estão hoje em voga, são os robôs mais utilizáveis, os robôs mais produtivos nas fábricas, produzindo não só automóveis, mas todos os objetos que você toca. Seu celular, seu computador... todos eles de alguma forma passaram por uma linha de montagem com automação, com robôs. Então esse é o primeiro ponto essencial para percebemos onde estamos em termos de tempo e espaço. A maior manifestação e a maior expressão da robótica é na indústria. Agora, estamos avançando tecnologicamente muito rápido, a tecnologia evoluiu muito nesses últimos 50 anos, nos primeiros 50 anos de computação na história da humanidade. O que você tem com esta revolução dos sistemas de informação, e tecnologias de comunicação, toda essa tecnologia está expandindo o poder robótica que no passado estava confinado apenas à indústria. Então o que começamos a ver são robôs que estão entrando nas nossas casas com o objetivo final, no sentido que podem, por exemplo, limpar o chão, podem aspirar o chão. Certos robôs estão sendo preparados para limpar o WC. Em alguns casos, limpando piscinas também, cortando relva, tratando do jardim. Então todo esse aspecto funcional de atividade que os humanos não têm muito tempo para se dedicar, os robôs estão sendo desenvolvidos para essas mesmas tarefas.
Correio: Na ficção, os robôs eram retratados como escravos, fazendo tarefas de forma dedicada, e depois surgiu a ideia do robô operário, tomando o emprego de qualquer um como secretária ou trabalhos que os humanos não se interessassem. Depois a ideia do robô humano, com essa coisa de pessoa, ter sentimentos e vontades. Que objetivos os robôs seguem hoje? É fazer tarefas simples em casa?
Antonio: A primeira introdução dos robôs foi em ambientes industriais por razões óbvias, por redução de custos final dos consumidores. Esse trabalho foi fenomenal. Hoje conseguimos comprar celulares tão baratos porque essa massa de produção está tendo execução e continuidade Agora, com o desenvolvimento tecnológico, está se criando uma vaga em que os robôs vão sair dos ambientes industriais para tarefas que em casa são muitas vezes vistas como secundárias. Então essa inspiração das tarefas em que as pessoas não estão tão focadas no momento está abrindo horizontes para novos mercados dos robôs. E há muitas companhias, como a iRobots, que vendeu 6,5 milhões de robôs de aspiradores, está havendo esse lado de um mercado de volta desses robôs. Mas a questão dos robôs humanoides, que no momento são puramente ficção. Lamento mas não verás robôs como estes tão depressa. Porque a sua complexidade é muito grande em termos de locomoção para máquinas como se vê em Terminator, ou I, Robot, estão ainda muito longe da realidade. Não existe um high performance para colocar essas máquinas no mercado. Então acho que tu encontras uma fase de transição, que, nos anos 20, com a introdução da palavra robô numa peça de teatro que se chama Rossum;s Universal Robots, que foi feita por Capek , e aí se introduz a palavra ;robô;. Que vem do checo, significa robota, trabalho forçado. E só a partir daí a ficção começa trabalhando nessa mesma definição de um escravo para o ser humano que estivesse aí, que pudesse fazer todo o tipo de atividade, um servo leal ao ser humano. Mas isso não passou duma ficção desde 1920 até a atualidade, portanto você não tem robôs humanoides nas ruas e, lamento desapontar, mas não verás esses robôs nos próximos 25 anos. O que irás ver são robôs de muitas morfologias, de muitas formas, de muitas escalas, de muitos tipos de locomoção. Mas a maior forma de locomoção serão as rodas. Serão robôs móveis que vão poder rodar em diversas áreas e ter sensores para perceber um pouco sobre o que se está passando na vida humana e responder e fazer um conjunto de tarefas muito importantes.
Correio: Temos a ideia do robô humanoide da ficção ou do que segue ideias muito específicas, como o aspirador. Então seria mais similar a Star Wars, onde os robôs têm tarefas muito específicas, um robô que trata de fazer segurança de pilotar naves, então seria algo assim, a criação de um robô para cada tarefa especifica e não de um robô que substituísse as pessoas?
Antonio: Sim, penso que essa é a tendência das próximas décadas, em que vamos ter robôs muito especializados: robôs para casa, robôs de assistência, social. Mas aí muito focados em uma tarefa específica. Então esse conceito de inteligência artificial geral, que tenta reproduzir uma inteligência muito parecida com a do ser humano, não vai ver isso nos próximos 30 ou 40 anos. Mas o que você vai ver são robôs muito específicos para tarefa, e com um grau de associabilidade muito bom, criando mais oportunidades para os seres humanos. Mas não robôs generalistas, robôs focados.
Correio: E quanto às três leis da robótica de Asimov? Há regras que são seguidas para criar esse tipos de máquinas?
Antonio: Estou terminando meus estudos de doutorado exatamente nessa área. Poderíamos falar por duas ou três horas sobre esse aspecto. Mas, na realidade, as leis de robótica de Isaac Asimov são puramente ficcionais. Elas foram apresentadas numa também peça de teatro que se chamava Runaround. Em que basicamente um robô se torna louco, não responde a comandos e realmente põe em caos a segurança de seres humanos. Isaac Asimov apresenta em sua história três leis de robótica. Mas na realidade essas leis não se aplicam ao estado de arte da robótica. A primeira lei é que um robô não pode causar dano a um ser humano. Aí, como isso é possível? Onde está a inteligência para uma máquina perceber que não pode danificar, que não pode causar danos ao ser humano? Não existe, é puramente ficção. O que nós temos hoje em dia são sensores de proximidade, o Kinect, da Microsoft, que consegue reconhecer, no máximo, uma silhueta humana, consegue reconhecer que está aí um ser humano. Mas além disso não é possível uma máquina ter senso comum para perceber que está causando bem ao ser humano. Então essas leis são de um conceito em que as máquinas já teriam uma inteligência artificial muito avançada. Não é esse o caso que estamos vivendo hoje em dia, e é certo que nos próximos 30 anos não iremos chegar a esse nível de inteligência artificial de senso comum. Mas você tem robôs na indústria de automóveis que estão em um recinto fechado e têm de seguir protocolos de segurança muito estritos. Então um operador não pode estar perto do robô porque o robô pode causar danos ao ser humano. Já houve mortes na robótica industrial. Então as leis da robótica não têm uma aplicação direta. Mas existem protocolos que estão em vigor nos robôs industriais. Quando você fala nos robôs de casa, como aspirador de pó e etc., não parece que esse robô possa causar grandes danos ao ser humano. Essas máquinas estão em conformidade basicamente com sistemas de proteção elétrica para não descarregar energia elétrica e causar dano a um ser humano. Também penso que, espiritualmente, os humanos ainda não despertaram para a importância que as regras ou que uma derivativa dessas regras poderá ter.
Correio: Mas há pelo menos regras éticas em relação a isso, como as de experimentos com animais?
Antonio: Ainda é difícil poder justificar que existem essas regras, porque os robôs são muito focados na indústria, onde tudo está muito bem protegido em termos de protocolo, em termos de sinalética e aí os profissionais da indústria sem formação específica para trabalhar com essas máquinas. Mas, esses robôs da indústria de automóvel, depois do que está começando a ter centros de investigação nas universidades em todo o mundo que estão fazendo investigação nas mais diversas áreas da robótica. Móvel, swarm robotics, interação entre homem e máquina, etc. Mas nesses centros de investigação apenas se obtém uma aprovação ética que instituição onde está trabalhando, onde especifica o que está fazendo, que está fazendo interação com humanos e com robôs e que riscos estão envolvidos nessa mesmo interação. Mas isso é local, porque não existe uma organização internacional que estritamente tenha leis, que tenha de seguir protocolos, etc. Aí estou propondo a primeira framework de robótica mundial. Que possivelmente poderá ser seguida para a interação entre homem-máquina e robôs de assistência social. Estamos preocupados com a questão, e estamos trabalhando nesse caminho.
Correio: O Sr. poderia falar mais dessa framework que o Sr. está sugerindo?
Antonio: Essa framework está resultando, com meu trabalho de doutorado, onde estou propondo uma possibilidade na forma de entender as questões éticas que estão incluídas nos robôs de assistência social. Nós estamos num envelhecimento da população mundial, se você ver os números das Nações Unidas, verá que em 35 anos teremos um envelhecimento muito gradual das pessoas. Portanto, temos pessoas vivendo agora aos 90 anos e é possível que essas mesmas idades sejam ultrapassadas. Em países que estão num momento muito preocupados, me refiro ao Japão, que tem uma taxa de 50% de idosos, 50% de pessoas trabalhando, de população ativa. Então temos de pensar em tecnologias de assistência social. Quando você pensa no potencial de robótica e automação em termos de assistência cognitiva, em supervisão de pessoas idosas, então há um grande potencial. Mas também existem questões éticas que têm de ser analisadas e é aí onde meu trabalho está sendo desenvolvido.
Correio: Há alguns anos, já se fala de robôs com formato humanoide, mas eles são muito estranhos. Não se movem direito, são assustadores. O que mudou? Agora temos robôs minúsculos e graciosos como o Nao. Qual é a aparência dos robôs hoje? A aparência é humanoide, ou lembra um brinquedo?
Antonio: Na realidade, o Nao é puramente para pesquisas em universidades. É um robô bastante caro, que está servindo como uma plataforma de investigação para testar a interação entre homem e máquina. A resposta do tamanho do robô depende da complexidade e do preço que essa máquina custa, porque criar uma máquina como o Asimo custa milhões de dólares. E não há um mercado que esteja interessado em comprar essas máquinas. Além do caso de Asimo, que provavelmente é o humanoide mais ágil em termos de dança, tem grande destreza em movimentos, mas todas essas coreografias são programadas. Esse robô não tem uma autonomia que se possa experimentar na rua e está trabalhando apenas em exposições, eventos, concertos, musicais. Então o que a Aldebran está tentando fazer é evoluir o conhecimento na robótica, mas criando uma plataforma que seja acessível aos centros de investigação, e um futuro também acessível aos consumidores finais. Agora é uma máquina muito cara. Nao custa 8 mil dólares. Não é uma pessoa normal que tem essa quantidade de dinheiro para um robô. Então estão sendo desenvolvidos maioritariamente para centros de investigação para testar esses pontos que referi da interação entre homem e máquina. Os gestos e linguagem corporal a máquina tem de ter, que envolve a máquina que virá exibir, que comunicação essa máquina deverá exibir para ter um efeito positivo no ser humano. Portanto, a investigação é absolutamente crucial, e está começando com a aplicação se pode dizer bem calibrada em termos de performance, escala e preço. Porque você olha para um robô como Asimo e vai custar é um milhão de dólares. É completamente impossível ter uma máquina dessas em cada centro de investigação.
Correio: Os robôs seguem então mais essa tendência de interação entre robô e humanos? Há essa preocupação de criar robôs amigáveis a crianças e idosos?
Antonio: Sem dúvida. Temos um envelhecimento da população muito grande, que está levando a comunidade robótica a realmente pensar em desenvolver tecnologias. Mas no passado isso não era possível. Porque nós temos 50 anos de computação, e só agora um computador começa a ouvir, começa a ler, começa a falar, começa a ver. Então só agora está sendo possível transferir essa tecnologia para o âmbito da robótica. E quando você tem um computador que consegue ouvir e ver, então tem um grande potencial de aplicar essa tecnologia para a assistência social. Há outro ponto interessante, que é o nosso fascínio pelos robôs. Na generalidade, a minha geração e a de meus pais já estão esperando que sua velhice possam realmente interagir com robôs, ter máquinas que possam supervisionar, dar alarmes. Portanto, providenciar uma perspectiva qualitativa dos cuidados de saúde, da terceira idade. Mas você tem também que a minha geração e gerações mais novas são fascinadas também por robôs. Então você começa a ter esse caminho abrindo por exemplo, na educação. Tem robôs que poderão ser utilizados em escolas, que poderão ensinar as disciplinas, áreas de conhecimento humano, pode-se imaginar aprender matemática, física ou computação ou química através de robôs, então ser capaz de motivar as gerações mais novas a aprender novas áreas através dos robôs. E isso é um aspecto muito inovador. Então nós temos uma resposta muito positiva das gerações mais novas. Quando estamos falando de assistência social, estamos falando também na terceira idade, estamos falando também de casos de autismo, no sentido de robôs que estão mediando a comunicação, treinando, através de gestos repetitivos. Porque você não consegue ter um enfermeiro, um profissional de saúde que possa ficar 8 horas por dia com uma criança repetindo gestos e melhorando a sua capacidade de comunicação. Nós não temos capacidade para pôr um enfermeiro em todas as casas. Tanto para crianças, quanto para os idosos. Não temos tantos cuidadores jovens de saúde, preparados e disponíveis para cuidar de pessoas idosas. Então essa falta de pessoal outra vez vai impulsionar a criação de tecnologias de assistência social.
Correio: Podemos esperar esse momento em que de repente os robôs devem passar por esse boom de desenvolvimento, como foi com os celulares e televisores, ou vamos acompanhar esse processo aos poucos?
Antonio: Penso que será mais essa última opção. Penso que essa tecnologia será introduzida gradualmente na sociedade. A sociedade hoje depende da tecnologia de informação, de comunicação. E, com os robôs, você não vai ter uma ruptura como o Facebook, Twitter ou Google. Você vai ter uma continuidade disso transferida para as máquinas. Então os primeiros robôs poderão se mover em ambientes físicos, e vão transportar consigo essa informação , estarão ligados à nuvem, à internet vão descarregar informação, vão completar nossas vidas, permitir sermos mais organizados. Então é essa vertente da robótica nos próximos anos. É uma continuidade com aquilo que já é bem sucedido hoje em dia com os sistemas de informação.
Correio: As pessoas ainda consideram robôs como algo de ficção científica, ou esperam ter um em sua casa? Ou ainda há um medo de que eles possam nos fazer mal?
Antonio: Penso que temos a introdução gradual. O ponto de terem vendido 6.5 milhões de aspiradores robóticos está abrindo a ideia que essas máquinas podem providenciar tarefas muito importantes na vida humana. Penso que o robô aspirador é uma boa introdução. Vamos continuar a ver essas máquinas com mais características de sistemas de informação transferidas para um plano funcional. Você terá o robô aspirador mais um robô que te dá um motor de busca, mais um robô que obedece a comandos de voz. E vai tendo cada vez mais uma máquina complexa, e que se introduz na vida humana. Mas, para dizer que realmente a geração de meus pais está muito receptiva para esse tipo de tecnologia, sinto que essa tecnologia vem aí, vai ser uma realidade e vai proporcionar muitas vantagens ao ser humano. É como se essa aspiração dos robôs estivesse gravado em nosso DNA. Nós queremos interagir com máquinas. Nós queremos esse movimento. Quando encontro jovens de 10 ou 12 anos, e estão interagindo com esses robôs LEGO Mindstorms, com kits educacionais, e que promovem criatividade e imaginação. As crianças estão respondendo muito positivamente a esse tipo de tecnologia, não consigo imaginar um futuro sem essas máquinas. E, olhando para trás, temos 50 anos de computação na história da humanidade e o que são 50 anos na história da humanidade? Não é absolutamente nada. O que virá nos próximos séculos será altamente tecnológico. E penso que é parte da nossa evolução técnica e espiritual.