Jornal Correio Braziliense

Tecnologia

Com humor controverso, jogo South Park executa até mais do que propõe

Mistura entre boa mecânica e ótima adaptação da série resulta em jogo que, ao mesmo tempo em que conta com piadas extremas, representa legítima brincadeira de criança (para adultos)




Se fosse feita uma escala para a falta de escrúpulos no humor, com certeza a unidade de medição seria estimada em South Parks. A animação para tevê sempre foi conhecida pelas piadas pontiagudas que, geralmente, tem como alvo celebridades e os mais improváveis e distintos grupos: desde religiosos aos Genius (atendentes das lojas da Apple), por exemplo, representados de forma catártica. Um jogo da série com o mesmo estilo de humor, portanto, seria nada mais que previsível. Em contraponto, a surpresa em Stick of truth é justamente a combinação deste humor com a parte mecânica do jogo. Mesmo simples, a mistura resulta em 11 divertidas horas em frente ao videogame -- e, dependendo do seu gosto, com muitas gargalhadas.

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Desde o começo do desenvolvimento, South Park: stick of truth foi conturbado. Isso porque a THQ, empresa que o publicaria, anunciou falência pouco depois do anúncio -- ainda em 2012. Após leilão feito pela companhia, a Ubisoft adquiriu os direitos de publicação e, após essa demora, o jogo chegou às prateleiras.

Você incorpora o papel de uma criança que acabou de se mudar para South Park, e a primeira missão já o faz imergir naquele universo: cabe a você fazer novos amigos. Para os fãs, poder interagir com personagens clássicos da série é um bônus. Mais adiante, serão eles os companheiros da sua jornada. Em certo momento, assim como nos RPGs, você pode escolher entre quatro classes: mago, ladrão, cavaleiro e judeu. Sim, nem eles foram poupados.

[SAIBAMAIS] Migração
A equipe da animação esteve presente em todas as partes do jogo, e isso sem dúvidas resultou em uma das melhores adaptações de outras mídias para o videogame até então. O roteiro possui todas as características de Trey Parker e Matt Stone (criadores da série), e vai desde as piadas mais esdrúxulas com vacas zumbis nazistas até as pintas na cara do Morgan Freeman. Dependendo do jogador, pode ser um motivo para tirar o jogo do console imediatamente. Mas você provavelmente não vai querer fazer isso.

A história é básica e não tem muitas complicações; apesar de algumas reviravoltas. Cartman, um poderoso mágico dos flatos batalha com Kyle e sua gangue dos elfos com um objetivo: o graveto da verdade. Quem tem a posse do objeto é a pessoa mais poderosa do universo -- na imaginação dos personagens; na verdade, o graveto é apenas um pedaço de madeira insignificante.



Feito pela Obsidian Entertainment (de Fallout: New Vegas), o game tem a cara de sua desenvolvedora. O ambiente da série foi totalmente exportado para o cenário do jogo. Desde o Canadá -- que inclusive é uma das partes mais bem elaboradas do jogo -- até a casa de Cartman, Stan, Kyle e Kenny, a sensação de que (guardadas as proporções) lhe é disponibilizado um mundo aberto para exploração é uma das características mais gratificantes que o jogo te oferece.



A mecânica de batalha segue o estilo de jogos como Paper Mario e Mario dream team. É um RPG onde determinados movimentos, para serem efetivos, têm de ser executados de acordo com o reflexo do jogador. Girar a alavanca analógica esquerda e apertar quadrado ou B para atingir o inimigo, por exemplo, resulta em um ótimo golpe.

Outro elemento que faz o jogador querer ficar grudado no game o dia inteiro é a rápida progressão e bonificação. É gratificante explorar um lugar além do objetivo da missão e achar uma arma mais poderosa -- mesmo que esta seja um cano de esgoto enferrujado que lhe dá mais ataques.

Um dos únicos defeitos, além do travamento constante enquanto o jogo está salvando os arquivos, são as trilhas sonoras repetitivas que fazem você querer apertar o mudo em dois minutos.

Os inimigos em Stick of truth, por sua vez, não exigem muito de quem está jogando. Justamente por seu avanço rápido e ótimas armas. Somados todas essas características (progressão rápida de personagem, bonificação, e mecânica e inimigos fáceis), o game teria de tudo para não ser estimulante.

Mas isso não é o que acontece. Por mais improvável que soe, South Park: stick of truth é uma boa representação de uma brincadeira de criança. E parte os elementos técnicos confluem para que isso seja ainda mais palpável.

É um jogo que não almeja conquistas gigantes, não tem execução técnica estonteante, e não tem preocupação alguma se irá ofendê-lo ou não. Mesmo assim consegue executar algo além. Mais fácil seria afirmar que South Park: stick of truth é um parquinho para adultos.

SERVIÇO
Desenvolvimento: Obsidian Entertainment
Publicação: Ubisoft
Classificação: Não recomendado para menores de 18 anos
Plataforma: Xbox 360, PlayStation 3, PC
Preço: R$ 149,90

AVALIAÇÃO
Gráficos: 2,5
Jogabilidade: 2
Sons: 1,5
Entretenimento: 2,5
Total: 8,5

Com informações de Álvaro Viana