Desde a concepção, a série inFamous soube levantar um tema relevante para a indústria e fugir um pouco da visão de que jogos são, essencialmente, diversão ou gráficos. Mesmo que de forma parcial, a jogabilidade sempre abrigou uma dicotomia interessantíssima entre o bem e o mal, além da liberdade de escolha para o jogador. A ascensão da franquia, que conseguiu melhorar elementos com o passar dos anos, deu esperanças de que a discussão sobre as escolhas de um rapaz com superpoderes fossem mais bem desenvolvidas. Tristemente, a falta de coerência no título ainda permanece e prejudica a credibilidade.
O personagem principal é Delsin Rowe, um rapaz de 24 anos, membro de uma tribo nativo americana que vive próxima a Seattle. Após alguns eventos, o jovem recebe o poder de absorver a habilidade de outros inimigos. A história de inFamous second son acontece após o fim do game antecessor, onde o Departamento de Proteção Unificada (DPU) é criado para ;proteger; os civis contra os conduintes (uma expressão que pode ser facilmente substituída por mutante, se você conhece X-men). Após a entrada de uma nova liderança do DPU, a trama começa a se desenrolar.
Carma bom
InFamous sempre pertenceu ao gênero do mundo aberto, o melhor estilo para mostrar o avanço tecnológico de um console. Felizmente, em Second son, isso é tão claro quanto alguns dos poderes de Delsin dentro do jogo. Começando pela visão de horizonte, que não tem limitação alguma (como acontece com alguns games em hardwares mais potentes) e transmite uma Seattle bela. Misturado a isso, a realidade do clima da cidade, que acontece em tempo real, é uma outra condição para que o jogador se sinta parte de um universo vivo.
A capacidade do personagem principal de absorver poderes é uma ótima sacada da Sucker Punch. Sempre quando você descobre uma nova habilidade, as opções de navegação na cidade aumentam ; clara e motivadora técnica que faz com que o jogador se sinta o máximo. Quando Delsin tem o primeiro poder, o da fumaça, por exemplo, é possível subir ao topo dos prédios apenas entrando por um duto de ventilação na base do edifício. E, para ;reabastecer;, é necessário sugar o gás de carros quebrados ou de exaustores. Também dá para interagir com o cenário a qualquer momento, o que deixa ainda mais crível a noção de que você é superpoderoso.
Se tem algo que você vai sentir jogando inFamous second son é a liberdade. Isso acontece pela miríade de opções disponíveis nos poderes, que variam dependendo da propriedade de cada um. Alguns podem ter melhor resultado em ataques físicos, outros mais efetivos em golpes de longe alcance. Depende de quem está jogando experimentar e saber qual estilo se encaixa melhor. As animações de Delsin, quando esses golpes são desferidos, aliás, não um detalhe simples, porém belo do que lhe espera na geração atual.
A combinação entre áudio e o esmero estético da equipe artística em Second Son é primorosa. As sombras e os efeitos de iluminação durante a noite de Seattle, por exemplo, são contrastes visuais impressionantes. Não bastasse isso, a aparência de absorção dos poderes é detalhada desde os dedos de Delsin até as minipartículas que se dissipam ao redor de um rastro de luz. O mesmo acontece em explosões, chuva e outras tantas cenas.
O áudio também recebeu o mesmo tratamento. Grande parte dos elementos de cenário do jogo, como construções, carros e lixeiras, tem um som diferente quando Delsin interage com eles. Isso faz com que explosões de bases inimigas sejam um excelente exemplo dessa união entre dois elementos importantíssimos no game.
Carma ruim
Pequenos pormenores impedem que a experiência de diversão e imersão seja perfeita em inFamous second son. O primeiro deles é a inteligência artificial confusa. O outro, e mais gritante, é a falta de atenção para a lógica entre jogabilidade e história.
InFamous sempre tratou da escolha entre o bom e o mau caminho. Isso é contado pela história e fica ainda mais evidente por ações dentro daquele universo. Matar ou poupar um inimigo, ressuscitar ou chutar um civil ou até mesmo escolher qual vai ser o fim da história. Porém, no jogo atual da série, algumas ações malignas não têm qualquer resultado que modifique a visão naquele mundo.
Quando você tem o total do carma bom, por exemplo, não importa se você acabar com traficantes de drogas nas missões secundárias ou dois ou 10 civis: você continuará sendo aplaudido pelos moradores de Seattle.
Em certo momento da história, seu irmão Reggie, que é policial, lhe pede para não matar outros tiras que estão fazendo o cerco de uma cena de crime. Se o carma do seu personagem estiver bom, não tem problema, é só passar despercebido. Porém, se for o contrário e você matar os policiais, não há qualquer resposta ou relevância na história. São escolhas que seriam triviais se a essência do game não fosse justamente o fato de escolher e lidar com a consequência daquele ato.
Second son abre definitivamente as portas para a geração atual no PlayStation 4. É quase perfeito em todos os aspectos técnicos e seria uma excelente obra para iniciar essa nova etapa da indústria. Infelizmente, isso não acontece por um motivo: a coerência entre mecânica e narrativa continua no passado.
Ficha técnica
Desenvolvimento: Sucker Punch Productions
Publicação: Sony
Plataforma: PlayStation 4
Jogadores: 1
Preço: R$ 179
Não recomendado para menores de 16 anos
Avaliação
Jogabilidade: 2,5
Gráficos: 2,5
Sons: 2,5
Entretenimento: 1,5
Total: 9