Tecnologia

Fertilizante à base de composto mineral reduz poluição e aumenta produção

Pesquisa foi desenvolvida pelo Centro de Tecnologia Mineral; uma das vantagens do material é na irrigação

postado em 07/04/2014 18:32
Um composto mineral, descoberto por meio de um projeto multidisciplinar que envolveu quatro instituições científicas vinculadas ao governo federal, pode produzir fertilizante que aumenta a produtividade agrícola e reduz, ao mesmo tempo, o impacto ao meio ambiente.

A pesquisa foi desenvolvida pelo Centro de Tecnologia Mineral (Cetem), do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação; pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa); pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ); e pelo Serviço Geológico do Brasil (CPRM), do Ministério de Minas e Energia. A invenção Composição Mineral Zeolítica, Processos de Modificação e Utilização teve patente concedida recentemente pelo Instituto Nacional da Propriedade Industrial (Inpi).

A pesquisadora do Cetem Marisa Monte destacou nesta seguna-feira (7/4), em entrevista à Agência Brasil, que a parceria com a Embrapa foi essencial para fazer uma inovação no uso do mineral para aplicação na agricultura. A partir da produção de concentrados zeolíticos (grupo numeroso de minerais que têm uma estrutura porosa), foram efetuadas modificações nas propriedades de superfície dessas partículas, de modo que elas pudessem fazer a troca de nutrientes, que é típico de materiais porosos.

No processo, foi utilizada uma zeólita do Brasil, encontrada no Maranhão, que não é altamente pura como as zeólitas de Cuba, por exemplo, porque vem misturada com outras argilas. Marisa observou, porém, que ;a mistura da argila com ela promove uma boa capacidade de troca e faz com que ela consiga usar esses nutrientes na agricultura;.

Outra vantagem desse material poroso, disse, é na irrigação. ;Ele reduz em 50% a necessidade do ciclo de irrigação;. O trabalho comparou, ainda, a utilização de material comum incorporado com ureia (amônia), que é usado na agricultura, com o composto mineral desenvolvido a partir de concentrados zeolíticos.



;Com esse material, a gente descobriu que podia reduzir em 80% a perda de nutrientes na volatização;, pelo fato de liberar mais lentamente e estar mais protegido. ;O aquecimento faz com que a amônia volatilize tanto quanto acontece quando você joga ureia a lance [no pasto ou no plantio];. Isso significa que, como o composto zeolítico faz troca de nutrientes, ele capta o excesso e libera os nutrientes de forma bem lenta. ;É como na alimentação infantil. Não adianta querer dar tudo de uma vez. Tem que dar aos poucos. A mesma coisa [se aplica] à planta, para ela crescer;, explicou.

Inicialmente, foram feitos testes para o crescimento de mudas de plantas cítricas. O Brasil é o primeiro do ranking mundial na produção de mudas, disse a pesquisadora do Cetem. Essas mudas crescem em ambientes fechados, livres de contaminação. O uso do material para crescimento das mudas aumentou em 40% a produtividade.

Depois, foram feitos testes com tomate, alface e arroz em ciclos de cultura. Também aí, os testes comprovaram que o material libera lentamente os nutrientes. ;Você pode usar o material em uma, duas ou três culturas diferentes;. Outros testes foram feitos com o plantio de flores, obtendo o mesmo resultado.

Marisa admitiu que a descoberta pode, ;de certa forma;, vir a substituir a importação de fertilizantes pelo Brasil. ;O consumo é menor do que utilizando fertilizantes solúveis, que não são produtivos. Então, de certa forma, você pode reduzir a importação. Porque, se ele libera [nutrientes] lentamente, a planta pode ir absorvendo no tempo que é compatível como o seu metabolismo, com o seu crescimento. Dá para você criar um protocolo analítico para essas coisas;.

Já de posse da patente, os pesquisadores têm intenção agora de comercializar o produto. Marisa informou que algumas empresas, entre as quais a Petrobras, já manifestaram interesse. Ela adiantou que a ideia de utilizar a matriz abre a perspectiva de usar o composto com outros minerais porosos, sempre com o projeto de utilização como fertilizante. Marisa salientou, ainda, que a aplicação do material seria interessante na agricultura orgânica, porque pode fazer incorporações nas zeólitas, e não utilizar produto químico.

De acordo com o Cetem, o invento é uma alternativa ao uso de fertilizantes solúveis, que poluem as águas e geram desperdício de nutrientes.

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