A essência da série Trials sempre esteve na capacidade de saber equilibrar mecânicas responsivas, fluidas e impecáveis com situações cômicas, bizarras e extraordinárias. Essa junção sempre resultou em bons frutos, como a possibilidade de aprimorar sua habilidade apenas com treinamento ou dar boas risadas com os estranhos desfechos das fases. As mudanças em sequências do game -- que surgiu como um título em flash -- também sempre encaixaram-se bem, sem mudar muito a proposta elaborada pela RedLynx. Felizmente Fusion consegue manter isso, mas escorrega em detalhes e na insistência paradoxal em tentar se afirmar como ;do futuro;.
Mesmo sendo uma característica sempre presente nos games da série, ainda vale o destaque para a perfeita mecânica de jogo também aplicada em Trials fusion. Chega a ser prazeroso executar manobras com as motos. Aliás, variam as modalidades de cada veículo. Alguns têm equilíbrio maior, e são perfeitos para o modo clássico Trials (onde o principal objetivo é passar por um trajeto com o menor número de erros); outros, são ótimos para executar manobras nos percursos da modalidade FMX (maior número de pontos adquiridos com manobras). Há ainda os quadricíclos e trenós, novas opções do game, usados para cenários específicos.
Aliás, o aumento nas opções de veículo segue um caminho que a RedLynx, junto aos estúdios da Ubisoft em Shangai e Kiev, idealizou muito bem. A execução, por outro lado, é pobre e pouco motivadora. As possibilidades de personalização são mais estéticas do que práticas. Alterar o capacete, camiseta, e calça do seu personagem é tão irrelevante quanto mudar as rodas ou o kit de corpo da motocicleta.
E várias tentativas de dar um passo à frente na série se mostraram ótimas, porém ironicamente distantes do cenário atual na indústria -- quando vários games tem modos mais interessantes. A variedade e o design de pistas estabelecidas pelo jogo, por exemplo, não chegam aos pés do que havia em Trials evolution. Há inclusive uma inconstância no visual das fases. Alguns, como os percusos do primeiro mundo, têm gráficos pouco polidos, e parecem desleixados. Outros conseguem ser primorosos, com excelentes efeitos de luz. Um bom exemplo é um dos níveis onde os gráficos da pista, da motocicleta e do piloto são mostrados apenas em silhueta ao pôr do sol. Excelente composição que possibilita a beleza prometida na geração atual.
O deslize feio em erros técnicos é coroado por uma falha presente na versão testada pelo Informática, a de PlayStation 4. A renderização das texturas no início dos níveis ou em cada reinício é evidente, e chega a dispersar a atenção do jogador pelo grotesco. Várias foram as vezes que os cenários demoraram para carregar as texturas (que, por sinal, são ótimas). Em vez do visual normal, as texturas ficam em baixíssima resolução, o que acabava frustrando o jogador. Futuramente, em atualizações do game, quem sabe esses defeitos sejam consertados.
A trilha sonora de Trials fusion é repetitiva, mas isso é compensado pela inteligência artificial que, a todo momento, lhe joga piadinhas engraçadas -- lembram muito o humor de Portal com a Glados, por exemplo. Em uma das pérolas, durante uma fase onde você controla uma moto num alpe coberto pela neve, uma voz masculina lhe diz que ;a substância branca colocada neste nível é apenas figurativa. Se você tocar nela, procure imediatamente cuidados médicos;. É um acréscimo bem vindo, que, aliás, combina muito bem com a atmosfera de Trials.
Isso veio desde sempre, quando a própria jogabilidade do game foi mostrada aos jogadores. Com uma excelente física, o seu personagem tem a mecânica ;boneco de pano;, em que cada membro do corpo atua individualmente conforme interage com mecanismos do cenário. Essa composição é muito bem usada em Trials fusion também, e cria situações bizarras como a tentativa de fazer uma manobra e o quadriciclo cair em cima do piloto; ou quando, ao apertar triângulo, o personagem se solta da moto e colide com o cenário.
Variedade
Se em aspectos técnicos Fusion não é impecável, ao lhe oferecer a variedade de pistas e movimentos já conhecida em todos os títulos da série, a execução é ótima. Porém, isso não acontece nas pistas desenvolvidas pela RedLynx, mas sim pelos próprios jogadores na plataforma de edição de cenários. Elas são divididas em categorias, e os próprios jogadores podem avaliá-las após o final. O mecanismo lembra o editor de níveis em Little Big Planet -- só que útil.
O foco em toda a comunidade on-line, aliás, é ponto positivo para o game. A opção de placares de líder e os fantasmas de amigos durante os trajetos (como em Gran Turismo 6) lhe estimulam a estar sempre superando uma marca. Com isso, a curva de aprendizado do jogador depende majoritariamente de sua força de vontade.
Futuro distante
A remetência à ideia futurista de Trials fusion é constantemente feita pelos cenários e inteligência artificial, que a todo momento está conversando com você sobre algum acontecimento do universo ou até mesmo do nível onde está. A música do menu principal, inclusive, lhe dá ;boas vindas ao futuro;. Mas o futuro no game para por aí. Os erros técnicos são falhas que qualquer outro jogo no PlayStation 4 ou Xbox One, por exemplo, nem passam perto de apresentar ao jogador; e acabam tornando a afirmação simplesmente irônica e ingênua.
Quando você está no menu de motos e quadricíclos que podem ser selecionadaos antes dos níveis, os longuíssimos carregamentos acabam fazendo com que a opção não tenha sentido. Ao invés de observar as alternativas, o jogador tem de decorar os veículos pelos nomes, o que disvirtua a lógica da seleção. Se isso for o futuro, ele será dolorido...
Trials fusion ainda consegue ser um dos mais pretensiosos da série ao insistir em levar a franquia à frente, aproveitando os modos on-line e, inclusive, a atual geração. Estranhamente, Fusion acaba tropeçando em grotescos erros técnicos e transforma essa tentativa em apenas uma insistência ingênua e falha, e o coloca distante até mesmo do presente.
Desenvolvimento: RedLynx (colaboração: Ubisoft Shangai e Ubisoft Kiev)
Publicação: Ubisoft
Classificação: Não recomendado para menores de 12 anos
Preço: R$ 50
Nota
Jogabilidade: 2,5
Entretenimento: 2
Gráficos: 1,5
Sons: 1
Total: 7