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Game Transistor tem ótima mecânica mesmo com narrativa confusa e subjetiva

O game também apresenta uma forte personagem feminina em contraste aos secundários, algo raro na indústria dos videogames de hoje em dia. Semelhança com Bastion reforça personalidade da empresa

postado em 27/05/2014 10:52

O game também apresenta uma forte personagem feminina em contraste aos secundários, algo raro na indústria dos videogames de hoje em dia. Semelhança com Bastion reforça personalidade da empresa


Em 2011, ano em que a Supergiant Games publicou a primeira obra do acervo, destacou-se por trazer Bastion. O jogo lhe colocava na pele de um garoto que acordava em um universo vazio, onde tudo parecia ter dado errado, e a única companhia era um martelo. Louvado na época, o título conseguiu misturar visuais lindos e ótima trilha sonora com uma narrativa nunca antes vista, na qual o narrador contava a história conforme as ações do jogador. Após três anos, a companhia, liderada por Amir Rao e Gavin Simon ; ex-empregados da EA;, manteve todos os pontos celebrados em Bastion. Apesar de pouca mudança em relação à obra anterior, uma característica que transparece em Transistor: a força da personagem principal feminina em contraponto à fragilidade do sexo oposto.

O enredo se desenvolve num tom de ficção científica, no qual Red ; quem você controla durante o jogo ; se vê em uma situação caótica. Desde o início do game, cabe a Red desvendar a verdade acerca dos acontecimentos. Infelizmente, o pecado capital está justamente na forma como essa descoberta é guiada, sendo confusa e superficial, e deixando o jogador desnorteado do início ao fim.

O ponto contrastante em Transistor está na diferença entre o ótimo polimento da pós-produção do game (como visual e mecânicas), e o modo com que a história é contada. A narrativa é toda feita pela poderosa e peculiar arma que fala com você (o transistor). Empunhada por Red o tempo todo, e em menor parte por pontos de controle distribuídos nas fases ou na explicação das habilidades. Dublado pelo aclamado Logan Cunningham, voz que deu vida ao jogo passado da empresa, o ator continua a impecável execução no título atual. É de uma carga emocional brilhante, o que acaba complementando Red durante a jornada, e deixa o jogador ainda mais perto da ligação entre Red e o Transistor.

O game também apresenta uma forte personagem feminina em contraste aos secundários, algo raro na indústria dos videogames de hoje em dia. Semelhança com Bastion reforça personalidade da empresa


Mecanismo

O encargo desse papel é explicar os acontecimentos vividos pela protagonista durante o jogo, seja no cenário, seja em cenas de transição. Isso acaba o tornando o principal mecanismo de narrativa. A ideia de ver os inimigos apenas pelo ponto de vista dele, por exemplo, é boa, e torna-se engraçada em poucos momentos, como quando os monstros são chamados por apelidos. Na maior parte do tempo, porém, as explicações da história acabam dando lugar a comentários divertidos e subjetivos sobre um assunto, o que não beneficia em nada o entendimento de quem está jogando.

O desaponto acaba quando o sistema de combate lhe é apresentado. Munida do transistor, que mais se assemelha a uma espada, Red entra em ação contra os inimigos de duas formas: combate em tempo real, ou no modo Turn. Na primeira, os golpes são desferidos sem pausa por meio de quatro habilidades diferentes, cada uma em um botão distinto do controle ou do teclado. A segunda é inspirada na base do sistema de batalha em turnos, e permite que o jogador golpeie os inimigos com as mesmas habilidades.

No Turn, o tempo para e o player pode planejar a estratégia ante o adversário. Porém, movimento e habilidade são limitados por uma barra na parte superior da tela. Um desafio para o jogador, que pode ser facilmente transposto com um bom planejamento. Essa mescla entre estilos presentes em jogos antigos e atuais se encaixa muito bem, e é ainda melhor nos combates com chefes. Uma boa demonstração de que os combates, tanto em Bastion quanto em Transistor, conseguem ser ponto forte para a diversão.

As habilidades do jogador possuem três ramificações. Podem ser primárias, secundárias ou passivas. É possível misturar uma secundária com a principal, por exemplo, para melhorar o golpe. Essas decisões são um passe livre para você ultrapassar os desafios. Isso se torna ainda mais divertido após terminar a história, quando pode continuar jogando com o mesmo nível em que acabou o título.
A ligação entre Red e música, inclusive, é um dos elementos principais da história. E não à toa, o jogo apresenta uma lista impecável de trilhas durante história, que compõem a atmosfera de momentos relevantes. Há uma fusão de elementos da música eletrônica com a clássica, e em momentos importantes para a obra, essas são harmonizadas com a voz da personagem principal.

O game também apresenta uma forte personagem feminina em contraste aos secundários, algo raro na indústria dos videogames de hoje em dia. Semelhança com Bastion reforça personalidade da empresa


Vigor

A relação entre Red e o homem que está aprisionado em sua espada é um elo de uma delicadeza rica para a história, que resulta em uma bela motivação para o jogador completá-la apesar dos defeitos. Mais evidente que a relação entre os dois é observar o quanto o indivíduo é dependente da protagonista. E isso não apenas por conta de uma forte conexão entre ambos, mas sim porque, para a ;cura; dele, Red precisa ser forte e derrotar todos os inimigos.

A trama pode ser despretensiosa, mas a personagem demonstra vigor sem perder o caráter feminino e a elegância, como o talento que tem para cantar. É empolgante ver a protagonista guiar uma história na qual um homem está do outro lado, num papel frágil e impotente em frente à situação desfavorável.

Transistor dá a liberdade necessária na hora do combate, e é neste momento que você mais se diverte. Ao mesmo tempo, a história e o desenvolvimento de personagens tocantes são atrapalhados pela narrativa falha. Mesmo com isso, é, no mínimo, importante por trazer, ao mesmo tempo, um divertidíssimo e relevante ponto de vista que vai contra o status quo da indústria, faz com que os papéis arquétipos se invertam, e a mocinha acabe se tornando o herói.

O game também apresenta uma forte personagem feminina em contraste aos secundários, algo raro na indústria dos videogames de hoje em dia. Semelhança com Bastion reforça personalidade da empresa
Ficha técnica
  • Desenvolvimento: Supergiant Games
  • Publicação: Supergiant Games
  • Jogadores: 1 (off-line)
  • Plataformas: PS4 e PC
  • Preço: R$ 37
  • Não recomendado para menores de 10 anos

Nota

  • Gráficos: 2
  • Entretenimento: 1,5
  • Jogabilidade: 2,5
  • Sons: 2,5
  • Total: 8,5

Com informações de Álvaro Viana

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