Roberta Machado
postado em 26/11/2014 10:13
Por armazenarem centenas de vezes mais dados que um CD comum, os discos blu-ray deram início a uma verdadeira revolução midiática. Todo esse espaço extra possibilitou a criação de jogos eletrônicos com gráficos melhores e trouxe para dentro de casa filmes com qualidade de cinema. Mas as vantagens dessa mídia não servem apenas ao entretenimento. Pesquisadores descobriram que o mesmo tipo de disco azul usado para gravar vídeos pode ser usado como ferramenta na fabricação de células solares melhores e mais baratas. Em testes de laboratório, os painéis feitos a partir dessa matéria-prima inusitada mostraram uma eficiência até 30% maior que o equipamento tradicional.O grupo de cientistas da Universidade Northwestern, responsável pela descoberta, já investigava o uso do blu-ray com outro objetivo, o de produzir nanomateriais. Nesse processo, contudo, eles acabaram descobrindo outra função para os objetos. Durante a gravação de um disco, as linhas padronizadas do blu-ray são transformadas em uma longa sucessão de vales e saliências, que traduz para a linguagem eletrônica as informações registradas. Mas a sequência binária é tão longa que o disco precisa passar por um processo de correção para não confundir a máquina que faz a leitura. Dessa forma, o caos de zeros e uns fica levemente organizado, obedecendo a um padrão que não anula os dados gravados.
Os pesquisadores notaram que essa ;bagunça arrumada; do blu-ray forma o que eles chamam de ;sequência pseudoaleatória;, um tipo de design que está entre o padrão perfeito e o caos absoluto e que já se mostrava muito útil para a fabricação de células solares. ;A parte empolgante do nosso trabalho é que o conteúdo do filme não importa, porque os algoritmos do blu-ray convertem os sinais de áudio e vídeo, independentemente de que filme é, em padrões pseudoaleatórios de vales e ilhas nos discos com funções nanofotônicas muito similares;, explica Jiaxing Huang, professor de ciência dos materiais e de engenharia na Universidade Northwestern e um dos autores do trabalho.
Um artigo publicado hoje na revista especializada Nature Communications descreve o método adotado no estudo. Os pesquisadores usaram um disco comum, mais especificamente a mídia do filme Police Story 3: supercop, da série estrelada pelo ator Jackie Chan. A película que protege o lado gravado da mídia foi removida, e um polímero, prensado contra o material. Assim os pesquisadores obtiveram um molde que reproduz o negativo de todas as reentrâncias do disco.
Esse padrão foi comprimido e gravado no material que serve como base de uma célula fotovoltaica. ;Tivemos de destruir o disco para fazer o molde, mas os moldes são reutilizáveis para várias vezes;, conta Huang. Na teoria, o mesmo filme poderia ser usado para fazer painéis inteiros.