Jornal Correio Braziliense

Tecnologia

Colete permite a comunicação entre treinadores e cães usados em resgates

A tecnologia, desenvolvida nos EUA, pode ser útil também para o adestramento de pets e de animais-guias

Sua função é muito arriscada. Extremamente bem treinado, esse agente de elite se dedica a resgates de pessoas em perigo, serviço que faz com a ajuda de um avançado colete eletrônico repleto de sensores, sistema de comunicação e câmeras. Não, não se trata de um oficial de serviço secreto, mas de um cachorro equipado com a mais avançada tecnologia desenvolvida para aprimorar a atuação desses heróis de quatro patas. A roupa high-tech, desenvolvida por pesquisadores da Universidade Estadual da Carolina do Norte, nos Estados Unidos, une uma série de dispositivos em um só acessório, feito para facilitar a comunicação entre treinador e animal.

A invenção compõe o conceito que os engenheiros chamam de CEWP, sigla em inglês para cachorro de trabalho cyibermelhorado. A ideia é transformar o bicho num ajudante digno de Robocop (ou Robodog), preparado para localizar vítimas, fazer reconhecimentos e detectar perigos. Todas as informações colhidas pelo animal são transferidas para um programa de computador via bluetooth, incluindo um relatório detalhado do comportamento do próprio cão.

O colete permite que cachorro e treinador mantenham a conexão a distância. Mesmo quando o bicho explora um espaço apertado ou perigoso demais para uma pessoa, os responsáveis são informados em tempo real de todos os movimentos do animal. Câmeras e um sistema de GPS indicam precisamente onde o cachorro está, e sensores alertam sobre possíveis riscos do local. O segredo do projeto está num pequeno computador, chamado pelos pesquisadores de Beagle Bone Black. O aparelho, do tamanho de um smartphone, é equipado com um processador e com a memória e os componentes que fazem a conexão sem fios entre o acessório canino e um computador, acessado pelo treinador.



Ordens
Além dos gadgets que transformam o cão em um sensor vivo, o aparelho conta com ferramentas para a transmissão de ordens, como um alto-falante. O animal também pode ser comandado por meio de oito motores vibratórios instalados ao longo do acessório, que pulsam de acordo com a intenção do treinador. A combinação dos diferentes pontos e da intensidade com que eles vibram pode ser usada para centenas de ordens. ;Não é um tradutor de cachorros para humanos;, ressalta David Roberts, um dos inventores do colete canino high-tech. ;Nosso sistema cria uma interação entre cachorros e humanos por meio de um computador. De forma geral, ele permite que a comunicação existente entre cães e humanos seja feita de forma mais eficiente;, explica.

O pesquisador acredita que a tecnologia deve chegar ao mercado em breve, podendo ser usada também em cachorros que estão longe da vida policial. O monitoramento do comportamento canino pode ser útil, por exemplo, para acompanhar bichinhos que sofrem de ansiedade sempre que o dono sai de casa ou no auxílio da adaptação de um filhote a um novo ambiente. Sensores instalados no equipamento indicam em tempo real sinais como batimentos cardíacos e a temperatura corporal do bicho, e ajudam o treinador a entender melhor o estado emocional do animal com base nessas informações.

Cães-guia também são fortes candidatos ao acessório e se tornariam assistentes ainda mais eficientes se mantivessem um canal de comunicação constante com os donos. Esse tipo de animal é treinado para não demonstrar estresse, mas conhecer melhor suas reações pode ajudar a cuidar melhor deles e prezar por sua qualidade de vida. ;Essa plataforma é uma ferramenta incrível, e estamos muito empolgados em usá-la para melhorar o elo entre cães e humanos;, ressaltou em um comunicado Barbara Sherman, professora de comportamento animal e participante do trabalho.

Melhorias
A maioria dos componentes usados no aparelho, ressaltam seus criadores, está disponível no mercado a um custo acessível. O trabalho da equipe está em identificar que ferramentas eletrônicas podem ser úteis para cachorros e humanos e aplicá-las de forma prática no colete multiúso. ;Esse projeto nasceu de muitas discussões que tive com amigos sobre comportamento e treinamento de cães. Notei que havia algo real e tangível para ser feito nessa área;, conta David Roberts. ;Realizamos experimentos em colaboração com veterinários para nos certificarmos de que os cachorros estariam confortáveis usando o equipamento;, completa Alper Bozkurt, professor de engenharia de computadores e coautor do trabalho.

O grupo, agora, testa a eficiência do sistema de comunicação do aparelho e busca formas de torná-lo mais leve. Atualmente, o protótipo pesa cerca de 2kg e tem uma bateria que dura por oito horas. Os pesquisadores esperam diminuir o peso do colete em até 10 vezes, permitindo seu uso por cães de raças menores. ;Algumas companhias nos contataram para comercializar a tecnologia, então isso está nos nossos planos;, adianta Bozkurt. A ideia é que o colete seja adaptado para cada cachorro, oferecendo equipamentos necessários para que ele cumpra sua função. O projeto inicial do acessório inclui até mesmo um compartimento para comida, que pode ser liberada para o cachorro como uma recompensa em um treinamento de reforço positivo.