Tecnologia

Aposentou seu celular antigo? Veja prós e contras de negociá-lo na internet

Com a economia desacelerada, mais consumidores recorrem ao comércio on-line de celulares que já tiveram um dono. É preciso cuidado, no entanto, para que a tentativa de poupar não se transforme em mau negócio

postado em 09/11/2015 14:39

Com a economia desacelerada, mais consumidores recorrem ao comércio on-line de celulares que já tiveram um dono. É preciso cuidado, no entanto, para que a tentativa de poupar não se transforme em mau negócio

Em pouco tempo, um modelo de smartphone é superado por outro mais moderno. Para acompanhar as atualizações de marcas e modelos, muita gente não pensa duas vezes e aposenta o aparelho ultrapassado. Isso acontece desde os anos 1970, quando o primeiro aparelho móvel chegou ao mercado. O ;tijolão; Motorola Dynatac 8000x tinha dimensões que, literalmente, não cabiam no bolso: 33cm de altura, 4,4cm de largura e 8,9cm de espessura. O peso? 793g. A bateria durava 20 minutos e demorava aproximadamente 10 horas para ser recarregada. E quem desejava ter o aparelho que permitia, pela primeira vez, fazer ligações do meio da rua tinha de desembolsar US$ 4 mil. Depois do Dynatac, surgiram incontáveis modelos, que hoje são trocados, em média, a cada 18 meses pelos brasileiros.

O destino dos aparelhos usados não precisa ser o fundo da gaveta ou a reciclagem. Uma alternativa é o reúso, opção que pode render alguns trocados e ainda ajudar a natureza. Sim, porque você já parou para pensar no ciclo de vida de um celular? Primeiro, ele é manufaturado, o que exige o emprego de inúmeras matérias-primas. Depois, viaja por longas distâncias para ser vendido. Se for logo dispensado, realimenta esse processo e aumenta a montanha de lixo eletrônico. Pensando em dar utilidade aos aparelhos que ninguém mais quer, lojas on-line oferecem o serviço de compra e venda de usados. Entre as vantagens prometidas estão rapidez, conforto e segurança.

Fundador da Brused, primeira empresa de comércio de eletrônicos usados do país (hoje com dois anos de existência), Bruno Fuschi explica que esse mercado ainda é bem recente por aqui. Ele decidiu investir no ramo depois de observar que o modelo de negócio funciona muito bem em economias maduras, como Estados Unidos e Europa. ;Nós sabemos que o Brasil é sinônimo de eletrônicos caros e que os preços não param de subir. Fica cada vez mais difícil ter acesso a um produto novo, então, um aparelho usado de qualidade começa a se tornar atrativo em tempos de crise;, avalia.

Nova oportunidade
Quando consumidores de um país têm de lidar com a inflação, por exemplo, é natural que eles percam a noção do valor do dinheiro, explica o professor de administração financeira da Universidade de Brasília (UnB) Ricardo Da Silva. No entanto, as pessoas também começam a dar mais valor a produtos que, antes, não consideravam atraentes. ;A crise é depressão para alguns e pode significar queda em alguns ramos do comércio. Para outros, contudo, é tempo de perceber oportunidades. O comércio de usados permite a circulação de dinheiro e renda;, diz. Ele chama a atenção para um hábito entre os jovens: ;A nova geração quer modelos cada vez mais atualizados. Passar esses aparelhos velhos para frente pode ser uma boa fonte de renda alternativa;.

Com a economia desacelerada, mais consumidores recorrem ao comércio on-line de celulares que já tiveram um dono. É preciso cuidado, no entanto, para que a tentativa de poupar não se transforme em mau negócio


Usuário do Brused, Wesley Lima vendeu um iPhone 5s com um ano e meio de uso à loja em março deste ano. O objetivo era colocar as contas em dia. Depois de fechar negócio com a empresa, recebeu R$ 590 pelo aparelho. ;A ideia que a gente tem de um celular usado é de algo gasto, com muito tempo de uso, cheio de arranhões e que não funciona tão bem. Isso nem sempre é verdade, pois um celular usado pode ter o mesmo desempenho de um novo.; O rapaz considerou a experiência satisfatória, mas acha que não faria esse tipo de negociação novamente. ;Depreciaram o valor do meu iPhone, pois disseram que o fone de ouvido não estava funcionando muito bem. Quando enviei o celular pelos Correios, ele estava em perfeito estado;, reclama.

"(Aparelhos usados) são atrativos para pessoas que não querem gastar muito com um smartphone,
mas não abrem mão de ter um produto bom;
Bruno Fuschi, fundador de empresa que negocia celulares usados pela internet

Mesmo recebendo uma oferta menor do que esperava, ele prosseguiu com a venda. ;O modelo era americano, não regulamentado pela Anatel. Se eu fosse vender aqui, por qualquer site de anúncio, perderia muito valor de mercado, pois esse celular não se conecta à 4G do Brasil. É uma frequência diferente.; Por fim, ele destaca a facilidade do negócio. ;Eu pensei em desistir, mas estava com um problema na mão. Era mais fácil vender, para não perder dinheiro.;

A Brused compra e revende apenas eletrônicos da marca Apple (iPhones e iPads). Bruno Fuschi explica que o carro-chefe da empresa são iPhones dos modelos 4s e 5, aparelhos mais antigos e com menor valor de mercado. Eles têm, em média, 18 meses de uso e pequenas marcas, como arranhões e batidas. ;São atrativos para pessoas que não querem gastar muito com um smartphone, mas não abrem mão de ter um produto bom em termos tecnológicos e que supre 99% das funções básicas que um aparelho deve ter.;

Sustentável

Outra loja on-line especializada no comércio de celulares de segunda mão é a Redial, fundada por Amaury Bertaud há dois anos. A empresa compra celulares dos clientes, paga pelo envio (feito pelos correios), conserta os defeituosos e revende com lucro de até 30%. A marca também instalou dois pontos de coleta para quem quiser vender o celular: um em São Paulo e outro em Brasília, em uma loja de eletrodomésticos e eletroeletrônicos.

O fundador afirma que um dos principais interesses para investir no setor é o fato de ele ainda ser novo no país. Ao comparar o serviço prestado pela Redial com o que oferecem os sites de anúncio comuns, ele destaca uma vantagem: a segurança. ;É muito simples para quem vende, pois a venda é feita imediatamente, sem anúncio. A pessoa tem direito a um seguro, diferentemente de quem anuncia em um site na internet.; O carro-chefe das compras e vendas da empresa são aparelhos com aproximadamente dois anos de uso.

Amaury ressalta o ganho ambiental trazido pelo setor, lembrando que fabricar um celular envolve o gasto de muita energia e matérias-primas, como cobre, ouro e prata. A emissão de gás carbônico para produzir cada celular varia de 6kg a 50kg. ;E são necessários aproximadamente 30l de água para fabricar cada unidade;, explica.

Ao vender um celular para a Redial, o consumidor tem a opção de doar o valor para associações beneficentes, desde ONGs internacionais até pequenas entidades locais, como o Instituto 5 Elementos ; Educação para a Sustentabilidade, o Instituto Fazendo História e a Coopermiti, cooperativa de inclusão social responsável pela gestão do fim da vida útil dos produtos eletrônicos. Outras associações podem participar do programa e serem incluídas na lista de parceiros.

Precauções
Apesar de serem boas para o planeta e amigas do bolso, compras e vendas de celulares na web podem ser cilada para os desatentos. O mundo on-line está cheio de armadilhas, como sites fantasmas e propagandas enganosas ; às vezes, os dois juntos. Acostumada a comprar celulares pela internet, Júlia de Lannoy já passou pela experiência três vezes.

Enquanto navegava em seu perfil do Facebook, ano passado, clicou em um anúncio que a direcionou para outro site. Lá, ela comprou dois aparelhos ; um Samsung Galaxy S4 e um Galaxy S4 mini. Pagou, por cada um, cerca de R$ 350. Quando recebeu a encomenda em casa, teve uma surpresa desagradável. ;Era um modelo chinês, sem marca, muito parecido com o original, mas não fazia nem ligações;, lembra. O outro smartphone chegou ao endereço muito tempo depois do prazo prometido.


Com a economia desacelerada, mais consumidores recorrem ao comércio on-line de celulares que já tiveram um dono. É preciso cuidado, no entanto, para que a tentativa de poupar não se transforme em mau negócio


Ela tentou entrar em contato com a empresa, mas se deu conta de que a organização não tinha CNPJ nem contatos disponíveis na página. Procurou o Juizado Especial Cível do Distrito Federal, ganhou a causa (contra a empresa, que recolheu o pagamento) e foi ressarcida. Hoje, tem conselhos para quem quer fazer uma compra dessas pela internet: ;É bom pesquisar sobre o site. Isso não é uma coisa que toma muito tempo;. Além disso, considera importante checar os portais de queixas e as avaliações contidas ali, para ver o que outros clientes têm a dizer sobre o serviço da loja virtual. A última dica é: desconfie das promoções. Elas podem ser infundadas e, no fim, pesar no bolso.


Quinto mercado

Hoje, o Brasil é o quinto maior mercado de celulares do mundo, atrás apenas de Indonésia, Estados Unidos, Índia e China.
A cada ano, segundo informações da Teleco, esse comércio cresce cerca de 3,6%, impulsionado principalmente pela venda de smartphones. Os telefones mais modernos representam 93% do total de aparelhos em território nacional, de acordo com a Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee). Em maio, o número de celulares em uso no mundo havia passado de 7 bilhões. No Brasil, apenas os smartphones somam 54 milhões de unidades.

Onde negociar
; Brused (brused.com.br)
O cliente faz um cadastro, envia o aparelho pelos Correios, recebe uma avaliação e, ao fechar o negócio, recebe o dinheiro em conta-corrente

; Redial (redial.net.br)
Depois de uma avaliação prévia, o celular é enviado pelos Correios e o pagamento é feito. Há pontos de coleta em São Paulo e Brasília

; Uzlet (uzlet.com.br)

Para usar o serviço, é simples: basta fazer um cadastro no site, selecionar o modelo e levá-lo até os Correios. A empresa avalia o produto e faz
uma oferta

; Ziggo (www.ziggo.com.br)
A empresa permite que o cliente troque seu aparelho atual por outro que esteja disponível na loja on-line. Valores excedentes são pagos por depósito bancário ou no cartão de crédito

; Brightstar (www.brightstar.com)
m parceria com a operadora Vivo e as Lojas Apple, a empresa compra smartphones usados e dá descontos na compra de iPhones 6

Com informações de Rafaella Panceri

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