Tecnologia

Entrevista com John Dykstra sobre efeitos visuais de 'Guerra nas estrelas'

John Dykstra, um dos fundadores, com George Lucas, da empresa de efeitos visuais Industrial Light & Magic, fala sobre o impacto de 'Star wars' sobre o cinema mundial

Victor Correia*
postado em 29/05/2017 06:00
John Dykstra, um dos fundadores, com George Lucas, da empresa de efeitos visuais Industrial Light & Magic, fala sobre o impacto de 'Star wars' sobre o cinema mundial
John Dykstra trabalhou como supervisor de efeitos especiais em ;Uma nova esperança; e foi um dos fundadores originais, com George Lucas, da empresa de efeitos visuais Industrial Light & Magic. Ele está no cinema há mais de 40 anos e foi pioneiro no uso de computadores na sétima arte com a criação da Dykstraflex, a primeira câmera controlada remotamente por computador, feita especialmente para o primeiro filme da saga ;Guerra nas estrelas;.
A solução rendeu a Dykstra um Oscar técnico em 1978. Em sua carreira, participou da criação de efeitos especiais em filmes como ;Stuart Little; (1999), ;Homem-aranha; (2002), ;Homem-aranha 2; (2004) e os mais recentes ;Kong: a Ilha da Caveira; (2017) e ;O vigilante do amanhã; (2017). Ele ganhou ganhou mais duas vezes o Oscar de melhor efeito especial: em 1980, por ;Jornada nas estrelas: o filme;, e em 2005 por ;Homem-aranha 2;.
Em virtude da celebração dos 40 anos de lançamento da saga ;Star wars;, Dykstra conversou com o Correio sobre o uso da tecnologia no cinema. Confira:

Como os efeitos especiais do primeiro Star Wars foram feitos?
Houve um tempo em que você realmente tinha que botar algo na frente de uma câmera e capturar sua imagem em filme. A definição de um efeito visual são duas ou mais imagens capturadas em momentos diferentes, combinadas em uma única imagem para apresentação. Então, se você tem uma cena envolvendo quatro naves, uma lua e estrelas, cada nave estaria em um único pedaço de filme, a lua estaria em outro pedaço de filme, e as estrelas, em outro.
Essas imagens seriam combinadas numa impressora ótica, que é essencialmente um projetor que te permite juntar as imagens de cada pedaço de filme em um novo filme. O que era único no que fizemos no primeiro Star Wars teve mais a ver com como a câmera se movia do que com a forma como as imagens eram combinadas. A impressão ótica já existia por um bom tempo. Nós precisávamos ser capazes de mover a câmera em relação ao modelo e repetir esse movimento para parecer que os elementos foram fotografados juntos.
Um aspecto interessante: para filmar as espaçonaves, você precisa de uma luz do sol, ou seja, seus raios criam sombras. Se você move o modelo em vez de mover a câmera, as sombras se movimentam nesse modelo de uma forma inapropriada. Então, o que fizemos foi deixar o modelo parado, em relação à sua fonte de luz, e nós movemos a câmera para produzir a impressão de que a nave estava indo na nossa direção.

Qual foi o impacto do primeiro Star Wars no cinema?
Minha opinião é que ele deixou óbvio para as pessoas que fariam filmes de fantasia e ficção científica que algumas imagens que pensavam difíceis demais para produzir eram possíveis. E, nesse sentido, acho que o filme abriu o gênero de ficção científica e fantasia para mais produções cinematográficas. Depois, a mesma tecnologia foi expandida para a produção de filmes convencionais. Isso, acho até certo ponto, foi o surgimento de um gênero que influenciou o tipo de filmes que vemos agora, com muitos efeitos visuais, focados na ação

Há mais de 40 anos o senhor trabalha com cinema. Quais são as diferenças entre fazer efeitos especiais hoje e naquela época?
A grande diferença é que, em vez de inventar a tecnologia para mover a câmera e o objeto filmado e descobrir a física e a mecânica necessárias para fazer isso, agora você pode ir ao computador e, basicamente, criar o objeto, a câmera e seus movimentos, tudo em uma só plataforma. E porque isso é virtual, ou seja, no sentido de que não existe fisicamente, a câmera pode ser tão pequena ou tão grande quanto você quiser, pode se mover da forma como você escolher. De repente, se tornou menos sobre engenharia e planejamento mecânico e mais sobre o planejamento da cena em si. Nós conseguimos passar mais tempo pensando sobre como a cena se encaixa na história que está sendo contada e menos tempo pensando em como fazer a cena.

Muitas produções de hoje usam técnicas antigas, como capturar cenas em filme. O senhor acha que essas técnicas apelam mais ao espectador do que as técnicas digitais?
Isso é muito subjetivo. Algumas pessoas gostam da qualidade orgânica do filme, em termos da forma como ele captura e apresenta a imagem. Outros gostam da imagem de certa forma asséptica, quase estéril, das imagens digitais. Meu chute é sobre o que vai acontecer: a reprodução e a captura eletrônicas de imagens vão ultrapassar a qualidade e a versatilidade do filme convencional. A câmera eletrônica já pode filmar a uma taxa de quadros por segundo muito maior, criando efeitos de câmera lenta muito interessantes, mais do que as câmeras analógicas convencionais. O ponto principal é que a resolução de uma câmera digital está superando a da câmera a filme. Então, existe mais detalhes em uma imagem digital. Outro aspecto disso é que você tem muito mais flexibilidade ao manipular a imagem digital. Finalmente, não haverá muitos projetores de filme sobrando no mundo por muito tempo.
* Estagiário sob supervisão de Carmen Souza.

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