Agência France-Presse
postado em 18/10/2018 15:32
Na "sala de guerra" do Facebook, espaço adornado com bandeiras americanas e brasileiras, uma equipe de 20 analistas e cientistas da computação se concentra em seus monitores, buscando qualquer atividade suspeita que indique manipulação eleitoral.
A poucos dias de eleições importantes no Brasil e nos Estados Unidos, a plataforma recém-lançada na sede de Menlo Park do Facebook é o cérebro da luta contra a manipulação eleitoral na maior rede social do mundo.
Por trás da porta de vidro sinalizada apenas com "WAR ROOM" ("SALA DA GUERRA"), em letras grandes e vermelhas, a sala é repleta de relógios com diversos fusos horários, telas transmitindo CNN, Fox News e Twitter, mapas dos Estados Unidos e do Brasil e outros monitores com gráficos sobre a atividade do Facebook em tempo real. Atentos a qualquer anomalia, os especialistas ficam a postos para contra-atacar.
Criticado por fazer pouco para conter as tentativas de manipulação da Rússia e de outros atores durante a eleição americana de 2016, o Facebook agora demonstrou seu desejo de que o mundo perceba que ele está tomando medidas significativas para evitar esse tipo de ação. Para isso, criou o "War Room".
"Nosso trabalho é detectar (...) qualquer tentativa de manipular o debate público", disse Nathaniel Gleicher, ex-diretor do Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca que lidera os esforços do Facebook em segurança cibernética. "Trabalhamos para encontrar e eliminar esses atores".
O crucial é reagir rapidamente. Esse é o objetivo da "sala de situação", criada em setembro e que teve sua primeira prova de fogo no primeiro turno das eleições presidenciais brasileiras, em 7 de outubro.
"No dia da eleição, vimos um crescimento das mensagens (falsas) que diziam que a eleição tinha sido adiada por protestos. Não era verdade", aponta Samidh Chakrabarti, diretor de "eleições e compromisso cívico" na rede social.
Chakrabarti afirma que o Facebook conseguiu eliminar essas mensagens algumas horas antes de viralizarem. "Isso teria levado dias" sem a "sala de situação" e seus especialistas com dedicação exclusiva.
;Cara a cara;
Atrás de uma tela com uma pequena bandeira do Brasil, um jovem de chapéu cinza é um desses especialistas. Proibido de falar com a imprensa na abertura da sala, sua missão é clara: vigiar o segundo turno da eleição, em 28 de outubro.
Com uma equipe de peritos em informática, cibersegurança e legislação, o centro faz parte de um esforço do Facebook para aumentar a segurança de seus conteúdos, um trabalho que agora envolve 20 mil funcionário em toda a empresa.
Por ora, a sala trabalha a todo vapor pelo Brasil e pelos Estados Unidos - e há planos de eventualmente funcionar 24 horas por dia.
O "war room" dá uma dimensão humana para as ferramentas de inteligência artificial às quais o Facebook recorreu a fim de detectar tentativas de manipulação.
Diferentemente das máquinas, "os humanos podem se adaptar rapidamente às novas ameaças", diz Gleicher.
Embora a companhia tenha 15 anos prósperos na comunicação virtual de pessoas, muitas vezes a milhares de quilômetros de distância, "não há substituto para as interações cara a cara", afirma Chakrabarti.
A três semanas das eleições legislativas americanas, voltam a surgir ameaças de interferência vindas do exterior, particularmente da Rússia.
"Nas eleições, precisamos que as pessoas detectem e eliminem (as informações falsas) o mais rapidamente possível", explica Chakrabarti.
"Se uma anomalia for detectada de forma automática, um analista investigará para ver se realmente há um problema".
A operação também está coordenada com os parceiros do Facebook em "fact checking" - que incluem meios de comunicação como a AFP.
Os especialistas da "sala de situação" estão em alerta diante de qualquer tentativa de inundar as redes com mensagens falsas no dia da votação.
"Devemos nos adiantar aos atores maliciosos", disse Gleicher. "Continuamos diminuindo a porta, eles continuam tentando entrar".